Sexta-feira ouvi pelo rádio uma entrevista com o cantor e compositor
paulista José Miguel Wisnik. Nela, consultado pelo entrevistador sobre a canção
hoje, ele respondeu:
- "A canção hoje é, como tudo, consumo breve. Ninguém retém por
muito tempo o que ouve. Ouve alí e bola prá frente, fast food. O que temos são
canções do passado recente que ainda arrebatam inclusive os mais jovens".
Na mesma sexta fui ao Cine Theatro
Brasil ver a exposição do mural de 14x10m Guerra e Paz de Cândido
Portinari que o produziu entre 1952 e 1956 para o governo brasileiro
presentear a ONU.
Nas salas reservadas ao Projeto
Portinari para o esclarecimento das circunstâncias, acervo de fotos e matérias
jornalísticas, comentários sobre a obra, obras de arte outras derivadas de
Guerra e Paz como as esculturas de Sérgio Ramos e os bordados artesanais com
fragmentos da obra do pintor, há entre os tantos dizeres fixados nas paredes
dos salões um de Carlos Drummond de Andrade:
"Se tais pinturas não se gravarem por toda a vida na tela interior,
é que não merecíamos tê-las visto. Usando a linguagem da obra de arte, que é
uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe o pranto e solidão mortuária,
Portinari nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destas imagens, e
escolhe".
Hoje, agora à noite, fui assistir a
peça "À beira do abismo me cresceram
asas" da atriz e, agora dramaturga, Maitê Proença. Maitê partiu de
depoimentos colhidos em asilos para construir a trama sobre duas octogenárias
(vividas por Maitê e Clarisse Derzié Luz) que moram em uma casa para idosos.
Fecho a semana com um gosto de
feliz intensidade sobre os nervos do coração e do cérebro. Vivo meus sessenta e
um quase dois anos procurando extrair cada segundo desta melhor idade, e os
últimos três dias provocados pelos episódios acima foram de um prazer
inenarrável.
Este post não dará conta de Wisnik,
Portinari e muito menos de Maitê e de suas asas e nem de seus abismos. Este
post quer roubar Drummond e reescrevê-lo nas minhas paredes:
“Se tais momentos não se gravarem em minha vida interior, é que eu não merecia tê-los vivido. Usando a obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe a finitude, a vida ainda nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destes momentos, e escolhe”.
“Se tais momentos não se gravarem em minha vida interior, é que eu não merecia tê-los vivido. Usando a obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe a finitude, a vida ainda nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destes momentos, e escolhe”.
Agora, quando concluía este post
recebi de Pretinha a foto de Noninha e me lembrei novamente de Portinari:
"Só o coração nos poderá tornar melhores e essa é a grande função da Arte".
Até breve.
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