Voei hoje cedo (em um avião, claro)
para São Paulo e retornei agora à noite. Quando entrei na sala de embarque uma
jovenzinha me passou um folheto e pediu que eu me dirigisse a um balcão onde eu
receberia um brinde.
Quem viaja sabe do que se trata. É,
é isso mesmo, campanha de vendas de revistas de uma determinada editora. Ene
vezes já passei por isto e jamais fui buscar meu brinde. Hoje resolvi enfrentar
o pobre do representante.
Resumo da ópera: eu pagaria mensalmente
o valor de R$13,50 pelo custo do endereçamento postal de duas revistas, uma
mensal e outra semanal durante um ano e ganharia, ainda, de imediato uma mala
destas cor de rosa ou azul celeste, que o representante estimou o valor em torno de
R$400,00.
Peguei só o brinde. Uma revista
semanal do mês de agosto/2013. Capa: “Todos
os homens do propinoduto do metrô. Quem são e como operam os tucanos envolvidos
no desvio de recursos públicos que alimentou campanhas políticas do PSDB
paulista”.
A que ponto chegamos, meu Deus.
Pelo custo dos Correios nós recebemos uma informação semanal dessa envergadura
que nos conscientiza da criticidade dos
fatos que nos assolam. Este propinoduto movimentou perto de R$500 milhões e foi
denunciado há dois meses.
Muito bem, hoje já temos outro
caso, também em São Paulo no mesmo montante no âmbito da Prefeitura.
Por um momento pensei que, quando
retornasse da viagem eu iria procurar o balcão da editora, entrar na promoção e
ganhar uma mala. Ocorre que tive um dia divertidíssimo em reunião de trabalho e
acabei me esquecendo.
Veja, Isto é, não é mesmo um
absurdo?
O Mensalão movimentou algo como
R$150 milhões, estes dois outros escândalozinhos montam em R$1,0 bi. Acho uma
injustiça darem tanta divulgação durante anos sobre o Mensalão e deixarem sumir
das manchetes o propinoduto X ou Y. Precisamos ter o mínimo de coerência na
nossa hipocrisia, senão vai acabar pegando mal.
O setor de negociatas movimenta
anualmente no Brasil cifras astronômicas se comparadas a de outros setores da
economia formal. Emprega milhares de pessoas de alto, médio e pequeno gabarito.
De lobistas de alto estirpe até barnabés de guichês de prefeitocas, repartições
púbicas e outras mesas do Cassino Brasil.
Mobiliza milhares de advogados, fóruns, juízes que dão a indústria da bandalha um
movimento frenético nesse mercado em franca operação e com expectativas de
crescimento para o ano face à safra de 2014.
Veja, Isto é, sejamos coerentes.
O
estado abriu mão para a indústria branca e automobilística do IPI. Porque ficar
com esta perseguição aos que operam nos porões da economia formal, que vendem
com o suor do rosto dificuldades burocráticas para vender facilidades
propinêuticas?
Eu sou a favor da legalização da
propina e do reconhecimento formal dos corruptos, com PLRs e todos os
benefícios previstos na Legislação Trabalhista. Agora onde há direitos há
deveres também. Eles devem, como fizeram os auditores fiscais da prefeitura de
São Paulo, declararem os ganhos anuais à Secretaria da Fazenda e, pagarem
comparsas para lhe pouparem dos impostos decorrentes. Apenas como linha de
coerência, fechando o ciclo.
Penso que com a legalização teríamos
transparência nas operações da bandalha e poderíamos ir às ruas para reivindicar
a redução das taxas federais, estaduais e municipais cobradas pelos operadores
do mercado propinêutico.
Pelo menos assim a imprensa nos
pouparia destas capas com pornografia mercadológica explícita, ainda que pela
bagatela de R$13,50 mensais e de quebra uma mala destas cor de rosa ou azul
celeste.
Até breve.
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