quarta-feira, 6 de novembro de 2013

MARKET



Voei hoje cedo (em um avião, claro) para São Paulo e retornei agora à noite. Quando entrei na sala de embarque uma jovenzinha me passou um folheto e pediu que eu me dirigisse a um balcão onde eu receberia um brinde.

Quem viaja sabe do que se trata. É, é isso mesmo, campanha de vendas de revistas de uma determinada editora. Ene vezes já passei por isto e jamais fui buscar meu brinde. Hoje resolvi enfrentar o pobre do representante.

Resumo da ópera: eu pagaria mensalmente o valor de R$13,50 pelo custo do endereçamento postal de duas revistas, uma mensal e outra semanal durante um ano e ganharia, ainda, de imediato uma mala destas cor de rosa ou azul celeste, que o representante estimou o valor em torno de R$400,00.

Peguei só o brinde. Uma revista semanal do mês de agosto/2013. Capa: “Todos os homens do propinoduto do metrô. Quem são e como operam os tucanos envolvidos no desvio de recursos públicos que alimentou campanhas políticas do PSDB paulista”.

A que ponto chegamos, meu Deus. Pelo custo dos Correios nós recebemos uma informação semanal dessa envergadura que nos conscientiza da criticidade  dos fatos que nos assolam. Este propinoduto movimentou perto de R$500 milhões e foi denunciado há dois meses.

Muito bem, hoje já temos outro caso, também em São Paulo no mesmo montante no âmbito da Prefeitura.

Por um momento pensei que, quando retornasse da viagem eu iria procurar o balcão da editora, entrar na promoção e ganhar uma mala. Ocorre que tive um dia divertidíssimo em reunião de trabalho e acabei me esquecendo.

Veja, Isto é, não é mesmo um absurdo?

O Mensalão movimentou algo como R$150 milhões, estes dois outros escândalozinhos montam em R$1,0 bi. Acho uma injustiça darem tanta divulgação durante anos sobre o Mensalão e deixarem sumir das manchetes o propinoduto X ou Y. Precisamos ter o mínimo de coerência na nossa hipocrisia, senão vai acabar pegando mal.

O setor de negociatas movimenta anualmente no Brasil cifras astronômicas se comparadas a de outros setores da economia formal. Emprega milhares de pessoas de alto, médio e pequeno gabarito. De lobistas de alto estirpe até barnabés de guichês de prefeitocas, repartições púbicas e outras mesas do Cassino Brasil.

Mobiliza milhares de advogados, fóruns, juízes que dão a indústria da bandalha um movimento frenético nesse mercado em franca operação e com expectativas de crescimento para o ano face à safra de 2014.

Veja, Isto é, sejamos coerentes.

O estado abriu mão para a indústria branca e automobilística do IPI. Porque ficar com esta perseguição aos que operam nos porões da economia formal, que vendem com o suor do rosto dificuldades burocráticas para vender facilidades propinêuticas?

Eu sou a favor da legalização da propina e do reconhecimento formal dos corruptos, com PLRs e todos os benefícios previstos na Legislação Trabalhista. Agora onde há direitos há deveres também. Eles devem, como fizeram os auditores fiscais da prefeitura de São Paulo, declararem os ganhos anuais à Secretaria da Fazenda e, pagarem comparsas para lhe pouparem dos impostos decorrentes. Apenas como linha de coerência, fechando o ciclo.

Penso que com a legalização teríamos transparência nas operações da bandalha e poderíamos ir às ruas para reivindicar a redução das taxas federais, estaduais e municipais cobradas pelos operadores do mercado propinêutico.

Pelo menos assim a imprensa nos pouparia destas capas com pornografia mercadológica explícita, ainda que pela bagatela de R$13,50 mensais e de quebra uma mala destas cor de rosa ou azul celeste.



Até breve.

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