quarta-feira, 20 de novembro de 2013

FIADA


- Vovô...

- Oi, Valentin.

- Eu tava pensando numa coisa...

- Sei.

- Você sabe o que eu tava pensando, vovô?

- Não, eu só estou dizendo que eu entendi o que você falou...

- Por quê? Você está ficando surdo?

- Não, não é isso... Afinal o que você estava pensando, Valentin?

- De quê?

- Você disse que estava pensando, não disse?

- Foi?

- Foi, ora!

- Então eu esqueci.

- Não tem problema...

- Por que não?

- Depois você se lembra...

- E se eu não lembrar, vovô?

- Você vai se lembrar sim, Valentin... Não se preocupe.

- Para onde vão os pensamentos que a gente esquece?

- Não sei, Valentin.

- Pois eu sei, vovô... Prá lugar nenhum.


- E como eles voltam quando a gente lembra deles de novo?

- A gente num lembra não, vovô... A gente inventa.

- Você foi ao parque ontem, Valentin?

- Fui, né vovô?

- Você andou em quais carrinhos?

- Minhocão, carrossel, fusquinha, motocas...

- Você se lembrou então, né?

- Não, vovô. Quando eu tava lá ontem eu andei nos carrinhos de verdade. Agora que você me perguntou eu tô inventando, né não vovô?

- Mas você andou mesmo nos carrinhos, Valentin.

- Mas agora eu tô inventando. Eu posso andar nos carrinhos que eu quiser hoje, é só eu inventar...

- Sei.

- Você também inventa, vovô?




Até breve.

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