quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NIUDÊIS



Os meios passaram à fins. Observe.

O automóvel não serve à locomoção, mas ao grau. Assim como o vestido, a camisa, a calça, os sapatos não servem à vestimenta, mas ao grau. A casa e seus pertences não servem à moradia, mas ao grau.

Todas as coisas constituem-se no limite dos bens enquanto fins e não meios. Extensão de corpos que operam diante de outros em um balé frenético como se dançassem tangos.

A vida mesma vai se reduzindo a adquirir ou não os fins, que são objetos em grau. Observe. Há filas para promoções, quartas-feiras malucas, arrastões de eletrodomésticos, liquida ações, blecfraideis...

A felicidade “é” um objeto.

Vi na TV que meninas estão doulando um “aplicativo” em seus esmartes que enquadram em “perfis” os meninos. “Galinha”, “Brocha”, “Dengoso”, “Lindo”, e outros desains de estilo.

Eu mesmo, ontem, enviei para Pretinha por uatsap uma foto de sandalinhas que a avó comprou para Noninha e veio de Pretinha, também por uatsap, como resposta:

- “Ela vai arrasar”!

Não é mais: “Ser é ter”. Estamos arrasando em “Ter é ter”. O objeto é um fim em si mesmo.

*****

Por outro lado, ontem também, passeando com Noninha no colo, mostrei-lhe uma mosca varejeira que planava imóvel no ar. Noninha imediatamente absorveu a novidade e, depois mais tarde, quando eu a perguntava sobre o inseto ela fazia um olhar grave e:

- “Mô... Mô”...

*****

Em Belo Horizonte estão iniciando uma pesquisa social para a análise de como “vivem” os moradores de rua da cidade.

Hoje, pela manhã, assisti entrevistas com alguns “alvos da pesquisa”. Um deles disse:

- “As pessoas passam por nós como se fossemos coisas, pedaços de viaduto, restos do lixo, nada”.

Eles não têm.



Até breve.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

BULINGUE



- Vovô...

- Diz aí, Valentin.

- Um menino lá na escola me chamou de veado.

- E você o que fez?

- Chamei ele de zebra.

- E ele?

- Me chamou de cobra?

- E você?

- Chamei ele de jacaré?

- E ele?

- Me chamou de cavalo.

- E você?

- De égua.

- E ele?

- De boi.

- E você?

- De vaca?

- E ele?

- De porco.

- E você?

- De anta.

- E ele?

- A professora passou na hora e disse que o feminino de porco é porca.

- E aí?

- Eu falei com o menino que a professora não entendeu nada e prá gente passar para os coletivos...

- E ai, Valentin?

- Eu pedi pro menino falar o coletivo de lobo...

- E ele?

- Lobisomens.




Até breve.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

DESVIOS



Acho que todo mundo deve ter tomado contato com o caso dos auditores fiscais da Prefeitura de São Paulo. Neste episódio há, diferente de nos outros, uma ou outra peculiaridade.

É que um dos mais midiáticos servidores do caso tem dado entrevistas muito importantes e até pedagógicas para os que continuam no setor. Ele teria pago até R$5.000,00 para dormir com garota de capa de revista.

Perguntado se estaria disposto a devolver aos cofres públicos o que amealhou nos últimos dez anos, Casanova respondeu: “Como vou sair atrás de todas as meninas, pedindo que elas me restituam o dinheiro”?

Precisamos de esclarecimentos maiores sobre o caso. Ou não foram todos esses milhões de reais surrupiadoss ou precisamos intervir seriamente no mercado de garotas de programa e modelos de Fama.

Uma coisa ou outra está mal dita.

Por isto que a mídia se faz importante para o enriquecimento da democracia brasileira. Às vezes a incorreção das matérias divulgadas distorcem os fatos. Afinal foram quantos milhões pungados? Quais as meninas foram comidas? Quantas vezes e em que posições? Quanto Casanova pagou a cada uma delas? O que elas fizeram com o dinheiro? Têm cafetão? Quem são? Se sim, o que eles fizeram com o dinheiro?

Proponho que se instalem CPI na Câmara Municipal de São Paulo para o esclarecimento de todas estas cruciais questões.

Um dos advogados do Mensalão declarou em entrevista: “A justiça criminal está se tornando um ‘reality show’, ou seja, quem assiste vê alguém sofrendo um mal muito grande e por isso se sente mais inocente, porque os culpados estão sendo punidos. Então, a mídia apenas veicula este sentimento, e claro, é favorável à expansão do direito penal. Como dizia o grande Evandro Lins e Silva, “inocência não é notícia”, a imprensa precisa da culpa”.

Então, precisamos saber mesmo do que se passa. Vai que as meninas usurparam por força de seus dotes e da fragilidade circunstancial de Casanova. Elas que são as verdadeiras culpadas deste delito. Quero vê-las todas desnudadas em sua prática pecaminosa.

Acho também que a Presidente deve dar o indulto natalino àqueles réus do Mensalão que se encontra com a saúde debilitada e também sou a favor de permitir que Casanova trabalhe como Gerente de Hotel.

Afinal nós não somos tão culpados assim.


Até breve.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

NUDAR



Horóscopo para hoje:

"Você sabe o que você sabe e de pouco adiantaria tentar fingir que o que você enxerga poderia ser outra coisa diferente daquela que você sabe. Neste momento vale a pena se apoiar na verdade, por mais crua que essa for".

Há muito venho cozinhando algo. Minha paixão pelo sinistro. Não gosto do que está bem ou deconforme. Prefiro ao caos, ao trágico, à dor. Todos os meus escritos são angustiados, dramáticos, contundentes.

Até meu humor é melancólico. Sempre falo dos desajustes, dos destemperos, dos crimes, das bandalhas, de mim mesmo com desdém e mordacidade.

Falta-me a alegria pura, aquela que só é vista aqui quando me falo criança ou delas. Aí sim sou verdadeiro e cozido. Tudo o mais é mesmo cru, na lata, direto, sem censura e escrúpulos.

Tem uma verdade que eu vou mentir sempre. Do que estou falando verdadeiramente. Sempre ficarei nas entrelinhas, nos títulos dos posts, nos parênteses, nas minhas entre aspas, nas palavras não encontradas nos dicionários e wikipédias.

O Google não me decifra, nem me devora.

Há algo, no entanto, que precisa e será sempre dito. Quem me lê é que governa minha sina. Outro dia conversando com um amigo ele me disse que se preocupa sempre com o legado que deixará.

Eu fiquei pensando muito nisso.

Poucos com os quais convivo comentam comigo sobre o blog, mas nestes poucos um ou outro diz que riu muito quando leu determinado post. Eu sempre me surpreendo com o que ouço. Riem de trechos que para escrever verti quase lágrimas, ou sudorei. 

Não que eu traia o meu discurso, é pior do que isso, eu não o compreendo. Não é fingimento não, é o mais puro descaramento mesmo. Quem me conhece na intimidade sabe muito bem que o que eu escrevo não tem nada a ver com que sou de verdade.

Na intimidade sou muito mais idiota.

Agora azar, falei.



Até breve.

domingo, 24 de novembro de 2013

MATIZ



Sexta-feira ouvi pelo rádio uma entrevista com o cantor e compositor paulista José Miguel Wisnik. Nela, consultado pelo entrevistador sobre a canção hoje, ele respondeu:

- "A canção hoje é, como tudo, consumo breve. Ninguém retém por muito tempo o que ouve. Ouve alí e bola prá frente, fast food. O que temos são canções do passado recente que ainda arrebatam inclusive os mais jovens".

Na mesma sexta fui ao Cine Theatro Brasil ver a exposição do mural de 14x10m Guerra e Paz de Cândido Portinari  que o produziu entre 1952 e 1956 para o governo brasileiro presentear a ONU.

Nas salas reservadas ao Projeto Portinari para o esclarecimento das circunstâncias, acervo de fotos e matérias jornalísticas, comentários sobre a obra, obras de arte outras derivadas de Guerra e Paz como as esculturas de Sérgio Ramos e os bordados artesanais com fragmentos da obra do pintor, há entre os tantos dizeres fixados nas paredes dos salões um de Carlos Drummond de Andrade:

"Se tais pinturas não se gravarem por toda a vida na tela interior, é que não merecíamos tê-las visto. Usando a linguagem da obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe o pranto e solidão mortuária, Portinari nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destas imagens, e escolhe".

Hoje, agora à noite, fui assistir a peça "À beira do abismo me cresceram asas" da atriz e, agora dramaturga, Maitê Proença. Maitê partiu de depoimentos colhidos em asilos para construir a trama sobre duas octogenárias (vividas por Maitê e Clarisse Derzié Luz) que moram em uma casa para idosos.

Fecho a semana com um gosto de feliz intensidade sobre os nervos do coração e do cérebro. Vivo meus sessenta e um quase dois anos procurando extrair cada segundo desta melhor idade, e os últimos três dias provocados pelos episódios acima foram de um prazer inenarrável.

Este post não dará conta de Wisnik, Portinari e muito menos de Maitê e de suas asas e nem de seus abismos. Este post quer roubar Drummond e reescrevê-lo nas minhas paredes:

“Se tais momentos não se gravarem em minha vida interior, é que eu não merecia tê-los vivido. Usando a obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe a finitude, a vida ainda nos diz: Olha, vê bem, penetra o fundo destes momentos, e escolhe”.

Agora, quando concluía este post recebi de Pretinha a foto de Noninha e me lembrei novamente de Portinari:


"Só o coração nos poderá tornar melhores e essa é a grande função da Arte".




Até breve.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DESTRAMPO



Muito bem, a última conversa foi FIADA. Hoje não, será mais direta e aberta. Essa coisa de alguém ficar dizendo para alguém (que ainda está por vir) que registros não valem, que tudo é invenção já ficou por demais.

Vamos a fatos incontestes, sem nenhuma invenção. Direto ao ponto.

Pois muito bem. Assim como se sobem vielas, estreitos, ladeiras tortas, becos profundos e sujos para se chegar ao morro, sobem-se rampas para chegar a palácios. Como já falei aqui em BANAL.

Agora a disputa por Real pegou brava. É revanche prá tudo quanto é lado. Abriu-se uma panela imensa de pressão que é difícil saber prognósticos. Todo mundo tem telhado de vidro.

A coisa agora talvez desande mesmo de vez, se for mantida a ideia de se colocar todo mundo que levou na cadeia. Num ritmo célere porque a coisa tem caráter eminentemente político eleitoral. Como se tudo na esfera de poder não fosse eminentemente político e eleitoral por extensão.

Eu sempre temi quando todos descobríssemos o que já sabemos. O óbvio é o que mais nos inquieta, pois está posto. Escancará-lo nos trará a tarefa, aí sim, de construir outro Real.

E não será com uma reforminha cosmética. Não, por que das rampas descerão mortos e feridos, no sentido figurado, claro. A Nação é pacífica. Ninguém pegará em armas bélicas, mas no emaranhado de negociatas espúrias, uns dos outros.

Dói nos nervos ainda quanto que estas práticas vindas da corte macularam o tecido social, a ponto de não ser possível a cura ética. Já que lá eles fazem, por que não posso fazer também?

Hoje cedo, enquanto corria na esteira, assisti a matéria jornalística em que um jovem dizia-se ladrão por profissão e que trabalhava empregado em determinada loja de peças para automóveis. Diz o “trabalhador” que é muito mais seguro “o trampo” com receptador certo e grana mensal do que ter a tarefa também da venda do produto do roubo.

Podem acreditar que pegaram a trama por força de denúncia de concorrente meio-puro. Aí os Homens da Lei chegaram com tudo: fiscalização geral de todos os procedimentos das casas de comércio similares ao longo de uma das maiores avenidas da capital com foco na venda de peças e acessórios.

Eu não quero pensar que seja Melhoral prá câncer. Prefiro pensar que isto está incorporando à paisagem. Rotina da cena nacional.

Mas que a lá de cima tá ficando mais difícil, eu acho que ninguém tem dúvida. O delator do esquemão mesmo disse que para 2014 a coisa deve manerar um pouco. Os americanos passaram por esta experiência na época dos gangsteres.

Não vai secar de todo, mas que “neguinho” ainda vai correr atrás, eu acho que vai.

Os motivos dele não são institucionais, são pessoais. Aí que mora o perigo.

E com uma agravante: ontem na audiência pública sobre a questão das biografias parece que se sinalizou uma tendência. O STF deverá acatar a tese de que não será necessária a autorização prévia do biografado para a publicação de suas peripécias.

Com texto quente vem por aí.




Até breve. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

FIADA


- Vovô...

- Oi, Valentin.

- Eu tava pensando numa coisa...

- Sei.

- Você sabe o que eu tava pensando, vovô?

- Não, eu só estou dizendo que eu entendi o que você falou...

- Por quê? Você está ficando surdo?

- Não, não é isso... Afinal o que você estava pensando, Valentin?

- De quê?

- Você disse que estava pensando, não disse?

- Foi?

- Foi, ora!

- Então eu esqueci.

- Não tem problema...

- Por que não?

- Depois você se lembra...

- E se eu não lembrar, vovô?

- Você vai se lembrar sim, Valentin... Não se preocupe.

- Para onde vão os pensamentos que a gente esquece?

- Não sei, Valentin.

- Pois eu sei, vovô... Prá lugar nenhum.


- E como eles voltam quando a gente lembra deles de novo?

- A gente num lembra não, vovô... A gente inventa.

- Você foi ao parque ontem, Valentin?

- Fui, né vovô?

- Você andou em quais carrinhos?

- Minhocão, carrossel, fusquinha, motocas...

- Você se lembrou então, né?

- Não, vovô. Quando eu tava lá ontem eu andei nos carrinhos de verdade. Agora que você me perguntou eu tô inventando, né não vovô?

- Mas você andou mesmo nos carrinhos, Valentin.

- Mas agora eu tô inventando. Eu posso andar nos carrinhos que eu quiser hoje, é só eu inventar...

- Sei.

- Você também inventa, vovô?




Até breve.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

MANIFESTO



Horóscopo para hoje:

"Especular demais é um exercício mental que parece levar a conclusões valiosas, mas, se você ouvisse seus próprios pensamentos como se fossem de outra pessoa, provavelmente não os valorizaria tanto, veria que são bobagens".

Sempre tive presente que conspiraram contra as minhas idéias e algumas práticas. Desde a minha infância fui combatido e questionado por tudo que pensei e algumas ações.

Sempre estive na vanguarda de tudo e de todos. Jamais andei a reboque de qualquer opinião ou autoria. Sempre andei a partir de meus próprios neurônios.

Perdi convivências com pessoas que não toleraram minhas posições ortodoxas e taxativas. Deixei instituições por conta de contrariarem meus princípios.

Escrevi livros que não foram publicados pois estive certo de que não seriam lidos. Ninguém os entenderia e aqueles que chegassem próximos ao meu pensamento iluminado encontrariam razões de sobra para também combatê-lo.

Estou sempre adiante dos fatos, aliás minhas versões são sempre melhores e mais reais que os fatos. Ninguém é, tanto quanto eu, capaz de ler nas entrelinhas, nuanças, nébulas, escuramentos.

Meu jeito de olhar é especial. Fui ao oculista certa vez e ele diagnosticou minhas vistas: uma enxerga muito bem de perto e outra muito bem de longe. Os poucos portadores desta distinção, como a minha, embaralham-nas. Eu não, aprofundo a nitidez do foco.

Meus ouvidos, apesar do esquerdo ter um zumbido recente, sempre captaram para além dos sons das palavras e das melodias. Meu escutar é refinado e profundo.

Este blog raramente recebe comentários sobre os posts. Alguns poucos que se manifestaram foram rechaçados e ironizados por tentar dizer que eram tão ou quase inteligentes como eu. Petulância pura.

Sempre me identifiquei, ou melhor, o salmo João 15.5 do Livro de Salmos 1 foi escrito em referência à mim: "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma."

Agora eu ter que passar por isto hoje? Acessar meu horóscopo e deparar com esta agressão cósmica? Jamais poderia imaginar que teria que combater com os astros. Jamais!

Fiquem sabendo seus astrologozinhos diaraques que, bobagens, quem escrevem são vocês, seus pulhas. Vou mandar para o Congresso Nacional uma petição para que debatam urgentemente projeto de lei que proíba e, terminantemente, escreverem qualquer coisa contra a minha intimidade.

Vou montar meu próprio movimento: ENCONTRE SABIDO. Lutarei com todos os meus melhores adevogados para que, doravante, as previsões horoscópicas do meu signo sejam, para todo o sempre, censuradas.

Vou logo avisando aos pretensiosos interessados em fazer parte do meu  movimento: as inscrições já terminaram.



Até breve.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

SELVA



Hoje me levantei meio azedo. Tive que fazer um esforço enorme para colocar este corpo de pé. Fui para a academia rosnando por ter pago antecipadamente o martírio. Não tivesse pago o estabelecimento eu jamais cruzaria a minha rua e entraria na casa de horrores para sofrer de esticamentos sumários.

Quando retornei tomei um banho, liguei o computador e coloquei agendas, finanças e outros afazeres da rotina em dia.

O azedume tem porquês. Ontem, dia 17, fiz (via internet) pagamentos com vencimento na data de hoje, dia 18. Ao final das operações chequei meu saldo: o banco já havia computado os valores dos pagamentos. Ocorre que hoje, dia 18, pretendia fazer um resgate para cobrir o saldo que ficaria negativo. O valor do resgate feito hoje só vai à crédito na data de amanhã, 19.

O Itaú teve o lucro de R$4,022 bi em um trimestre passado e o Bradesco R$3,064 bi. Os juros médios anuais de cartões de crédito estão em 397,47% para uma inflação projetada em torno de 6,0% no ano de 2013 e menos do que isto em 2014.

Afora estes crimes silenciosos e hediondos contra a economia popular se somados a tantos outros como IPVA, IPTU, IOF, I..., I..., I..., I... e as taxas de corrupção do mercado de negócios público e privado, a economia real representada pela aplicação de trabalho, energia, insumos reais seguramente deve ser menor.

O PIB - Produto Interno Bruto do Brasil deveria ser alterado para PEB – Produto Excedente da Brutalidade e computados todos os valores da bandalha.

“Quão grande é meu poder... Sou um homem mau, desonesto, sem escrúpulos, estúpido; mas o dinheiro é honrado e, por conseguinte, também seu possuidor. O dinheiro é o bem supremo; logo, seu possuidor é bom; o dinheiro, além de tudo, me livra do trabalho de ser desonesto: assim se presume que eu seja honesto. Sou um estúpido, mas o dinheiro é a verdadeira inteligência de todas as coisas; e como poderia ser estúpido quem o possui? Este, além de tudo, sempre poderá comprar as pessoas inteligentes; aquele que tem poder sobre as pessoas inteligentes não é mais inteligente que as pessoas inteligentes? Eu, que tenho, com o dinheiro, a possibilidade de conseguir tudo aquilo a que o coração humano aspira, acaso não possuo todas as faculdades humanas”? (Karl Marx, em Manuscritos Econômico-filosóficos).

Sempre que fico azedo me deformo, perco meus derivamentos, fico meio cheio de juvenisses pueris, voltando a achar que urge a revolução. Agora, já perto da hora de dormir, fico mais comum, apaziguado, normal como uma besta.

Noninha, por hereditariedade vocacional aliviará este insano algum dia. Hoje o faz apenas pela via da alegria.



Até breve.

domingo, 17 de novembro de 2013

PROCLAMAÇÕES



As celas individuais que abrigarão os réus não têm mobília e comportam apenas uma cama, um lavatório e um vaso sanitário. O banho é frio e a comida é servida três vezes ao dia.

Cabe aos presidiários levar a sua própria roupa de cama e de banho, além das vestimentas. Pelas regras do sistema, todas as roupas têm de ser brancas ou em tons pastéis.

Os detentos podem receber visitas de familiares a cada 15 dias. Nessas ocasiões as famílias podem levar comida para os detentos. Todos os alimentos são inspecionados pelos agentes penitenciários antes de serem entregues.

De todo o processo fico com a última sessão. Especialmente quando do bate-boca entre os juízes Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, o primeiro provocado pelo segundo, disse que escreverá tudo quando deixar o tribunal.

Tudo o quê?

Que há também bandalha no STF? Mas sempre foi para mim óbvio que é inerente ao poder o conchavo, a trama, a negociata. O único lugar onde vivem homens puros é na infância, porque não sofreram ainda o demoníaco e tenebroso processo civilizatório.

Abri meu computador somente agora, desde a última quinta. A notícia das prisões não me acometeu. Meu horóscopo para hoje, que só li agora, explica porque: “Dia de recarregar as baterias emocionais do lado de pessoas queridas, que fazem parte da sua biografia. Os afetos profundos sobreviveram - foram filtrados pelos tempos ruins”.

Portanto, esperanças à parte, eu fico com gastar meu tempo na companhia da família. Noninha e Zeroum, especialmente.

Noninha, de quem não falo há muito tempo e Zeroum. Hoje a levei para ver galinhas, galos e pintinhos em um galinheiro de sítio vizinho. Levei comigo pães dormidos. Parti alguns pedaços e pedi a ela que jogasse.

Passei por uma lagoa onde nadavam patinhos. Entrei em outro sítio onde Duda, de cinco anos brincava. Noninha e Duda trocaram purezas.

Zeroum está tudo o que eu desejava. Um toco. Gente boa prá caramba, vai com todo mundo e ri de doer a barriga.

Pudesse eu ficava só pajeando esse tempo e não lia mais notícias.

Há cinquenta anos assassinaram JFK.



Até breve.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

CROSSOVER



PRIMEIRO QUADRO:

Trechos do artigo de Paula Lavigne publicado nos jornais de hoje a propósito das biografias:

"Reportagens jornalísticas, textos de articulistas, notas plantadas em colunas sociais e todo o arsenal bélico representado pelo "poder de informar" (não confundir com "direito de informar") foram utilizados para manipular a opinião pública contra o debate almejado pela associação Procure Saber".
"Existe, sim, um conflito que precisa ser mitigado. Existe a necessidade de se definir o que vem a ser "pessoa notória" ou "pessoa pública", e até onde o direito de informar pode invadir a vida pessoal, a intimidade (adjetivada pela Constituição Federal como INVIOLÁVEL) e a privacidade dessa pessoa e de sua família".

"Que uma coisa fique muito clara: SOMOS CONTRA A CENSURA, EM QUALQUER DE SUAS FORMAS. Entendemos, sem que qualquer advogado tenha de nos explicar, a necessidade vital da informação, e feitos históricos e do interesse público não podem ser reféns de exigências que inviabilizem o conhecimento.

No entanto, há que se entender onde o interesse público acaba e onde começa o mercantilismo editorial que vende a intimidade alheia como se fosse parte indissociável desse conhecimento".


SEGUNDO QUADRO:

Parecer, publicado hoje, do Procurador Geral da República a respeito do processo do Mensalão:

“É entendimento sedimentado no âmbito desse STF que não há necessidade de aguardar o julgamento de todos os recursos que as defesas interponham para a determinação de imediato cumprimento das penas, notadamente quando já apreciados (e rejeitados) os primeiros embargos de declaração ajuizados contra a decisão condenatória do plenário", afirmou Janot no parecer".


TERCEIRO QUADRO:

Trecho da crônica de Roberto DaMatta publicada hoje no ESTADÃO:

"Segundo a lenda, os holandeses seriam capazes de entender todas as línguas, desde que o estrangeiro falasse devagar, soletrando as palavras.
Foi o que ocorreu com o Soares quando ele viajou para a Holanda. Sem saber uma vírgula de holandês, lembrou-se do detalhe e pediu ao esguio e atencioso garçom holandês um bife bem-passado com fritas e um chope gelado pronunciando cada palavra monossilabicamente. Minutos depois, chegou o garçom com o pedido. "Como você me entendeu?", inquiriu o Soares. "Eu também sou da terrinha...", disse o holandês devagar, detendo-se como ele em cada sílaba. "E por que Diabos - explodiu Soares - estamos falando holandês”?


QUARTO QUADRO:

Horóscopo para o dia de hoje: 

"As coisas tornam a adquirir esse estado de imprevisibilidade que angustia. Porém, você faria melhor resistindo a se entregar a tal estado de ânimo, porque a desordem de tudo não significa necessariamente algo ruim".


EPÍLOGO:

Hã.



NOTA: Dá-se o nome de Crossover ao evento fictício em que dois ou mais personagens, cenários ou acontecimentos são compartilhados por séries diferentes. (Wikipédia). Vide post de amanhã.




Até breve.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

EPIDEMIA



Evidências colhidas, ao aleatório, nos últimos dias de fatos e dados:

PRIMEIRA
“O crime nos dá a convicção de que nossas bravuras são pelo progresso, por nosso esforço e mérito. Farão de nós vitoriosos. Pois nós somos o lado certo da vida errada". Estatuto do Comando Vermelho

SEGUNDA
O rock viveu um dia sangrento numa casa de três pavimentos no Brooklyn, Nova York. Armado com um rifle, o músico Raefe Ahkhbar matou seus colegas da banda Yellow Dogs – o guitarrista Soroush Farazmand, o cantor Ali Eskandarian e o baterista Arash Farazmand. Depois, se matou com um tiro. Segundo o Wall Street Journal, Ahkhbar fora expulso da banda recentemente e não digeriu bem a coisa.

TERCEIRA
Após ser baleada três vezes e perder a filha de cinco anos e o marido assassinados no último sábado (9), Naircleide Dias Duarte, 28, ficou lado a lado com o homem que matou a sua família em um ponto de ônibus em Mogi das Cruzes (Grande SP).

De acordo com a polícia, o suspeito foi baleado durante uma briga em uma casa noturna na cidade de Suzano na madrugada de domingo (10). Ele acabou sendo levado para o mesmo hospital onde Naircleide está internada. Apenas uma maca a separou do atirador.

Ao fazer o reconhecimento, uma testemunha do crime foi chamada e, segundo a polícia, também reconheceu o homem como sendo aquele que atirou na família. A polícia ainda não sabe a motivação e investiga se há um mandante do crime. A polícia não sabe, também,  quem atirou contra o criminoso.


QUARTA
O padrasto do menino, Guilherme Raymo Longo, 28, é apontado pela polícia como o principal suspeito do crime.


No mundo inteiro, há uma reviravolta ética, um cinismo que nos faz acostumar com o inaceitável.




ATÉ BREVE.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PRAZER


Assisti ontem ao filme ELAS, da diretora polaca Malgoska Szumowska, protagonizado pela sempre surpreendente Juliette Binoche.

Anne (Juliette Binoche), jornalista da revista ELLE, prepara um artigo de fundo sobre prostituição de jovens universitárias em Paris. É dessa forma que conhece Charlotte e Alicja e que vai tentar perceber aspectos como as suas escolhas, as suas experiências, a relação com os clientes e com os namorados. Surpreendentemente, estes encontros vão ter consequências na sua própria vida familiar.

- “A mentira”.

Responde Charlotte, que se apresenta aos clientes como Lola, quando perguntada por Anne o que mais a incomoda na vida clandestina que leva como garota de programa. Ter que viver mentindo aos parentes e ao namorado.

- “O que nos adianta ler Flaubert ou Proust, se nossa vida não mudará nada com isto”.

Diz a universitária Alicja, que cobre férias como garçonete em uma lanchonete, para simular aos parentes de onde vem o dinheiro para se manter.

- “Não vês a sorte que tens? Há tanta gente a lutar”. Pondera Anne ao filho adolescente que começa a faltar à escola.

- “Do que você me fala? Por que você lutou, mãe”? Responde o jovem a uma mãe que se cala.

Não é possível passar por este filme sem refletir sobre a condição humana. Transcende e em muito a questão de superfície do enredo no que tange à condição feminina, especialmente aquela, que por questões sociais, justificaria a escolha pela prostituição.

É, em minha opinião, muito mais do que isto.

O drama da existência contemporânea, os fins justificando os meios, a dor de cada um segundo suas fragilidades e a imensa frustração coletiva envolta em papel celofane. As aparências enganando os propósitos, a profunda e cruel necessidade de homens e mulheres buscarem um simulacro de poder.

- “É como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”. É uma das falas de Lola, ou melhor, Charlotte.

-“Você está muito esquisita depois que começou a escrever este artigo sobre putas”. Diz o marido a Anne.

-“Não sei se são putas”. Rebate Anne.

- “Uma puta é sempre uma puta”. Continua o marido.

- “Parece que você sabe sobre o que fala.” Conclui Anne.

Este diálogo se passa dentro do quarto do casal enquanto na sala estão os chefes do marido de Anne para participarem de um jantar de conveniência da política corporativa.

Anne serve Coq aun vin regado com Riesling. O mesmo cardápio que Alicja serviu ao seu primeiro cliente.

- “É como os cigarros, eu não consigo parar... De repente eu tenho dinheiro”.

A arte, às vezes, é cruel. Como em Flaubert e Proust.



Até breve.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

G(R)ANA



Ontem à noite, em casa, recebi a visita de meu conselheiro para assuntos bloguísticos. Ele avaliava a maneira de ganharmos dinheiro com a atividade. A frase está no plural na medida em que faz parte do interesse dele me fazer de cavalo de espírito.

Ponderei com ele que eu sou um cronista do próprio umbigo, me coloco no centro do universo e muito pouca gente acessaria pagando textos de alguém que só fala na perspectiva de si mesmo.

Ele acha que não. Até porque quem pagaria não seriam os leitores e sim os anunciantes de produtos de um sem número de utilidades. Fiquei pensando no rol de produtos anunciados em função do perfil dos leitores do dasletra.

Eu não quero arriscar aqui nenhum tipo de produto a ser anunciado, para não ferir suscetibilidades e perder os já tão raros seguidores do meu blog.

Ele sugere ainda que eu construa textos que remetam aos anteriores uma vez que comentei com ele que a estatística de acesso aponta que os posts lidos são sempre os dez últimos publicados.

Achei difícil também de eu aplicar a ideia. Todos os posts são viscerais, escritos de uma tacada, sem muita elaboração, e eu não teria o menor saco para ficar tentando lembrar algo que eu teria anteriormente expelido para fazer conexão.

Ponderei com ele que esta atividade não alcança interesses financeiros não só pelas razões óbvias como também pela minha absoluta irresponsabilidade com qualquer tarefa que tenha cunhos de jornada obrigatória.

Aí ele passou para um aconselhamento mais técnico, relacionado ao equipamento que eu uso para a edição dos posts e assuntos correlatos.

Foi embora dizendo que nós tínhamos evoluído pouco na conversa. Eu respondi que não, pelo contrário, a conversa serviu para reforçar ainda mais a ideia original.

Catar-me através de catarse.



Até breve.