Os meios passaram à fins. Observe.
O automóvel não serve à locomoção,
mas ao grau. Assim como o vestido, a camisa, a calça, os sapatos não servem à
vestimenta, mas ao grau. A casa e seus pertences não servem à moradia, mas ao
grau.
Todas as coisas constituem-se no
limite dos bens enquanto fins e não meios. Extensão de corpos que operam diante
de outros em um balé frenético como se dançassem tangos.
A vida mesma vai se reduzindo a
adquirir ou não os fins, que são objetos em grau. Observe. Há filas para
promoções, quartas-feiras malucas, arrastões de eletrodomésticos, liquida ações,
blecfraideis...
A felicidade “é” um objeto.
Vi na TV que meninas estão doulando
um “aplicativo” em seus esmartes que enquadram em “perfis” os meninos. “Galinha”,
“Brocha”, “Dengoso”, “Lindo”, e outros desains de estilo.
Eu mesmo, ontem, enviei para
Pretinha por uatsap uma foto de sandalinhas que a avó comprou para Noninha e
veio de Pretinha, também por uatsap, como resposta:
- “Ela vai arrasar”!
Não é mais: “Ser é ter”. Estamos
arrasando em “Ter é ter”. O objeto é um fim em si mesmo.
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Por outro lado, ontem também,
passeando com Noninha no colo, mostrei-lhe uma mosca varejeira que planava imóvel
no ar. Noninha imediatamente absorveu a novidade e, depois mais tarde, quando
eu a perguntava sobre o inseto ela fazia um olhar grave e:
- “Mô... Mô”...
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Em Belo Horizonte estão iniciando
uma pesquisa social para a análise de como “vivem” os moradores de rua da cidade.
Hoje, pela manhã, assisti
entrevistas com alguns “alvos da pesquisa”. Um deles disse:
- “As pessoas passam por nós como se fossemos coisas, pedaços de viaduto,
restos do lixo, nada”.
Eles não têm.
Até breve.