Assisti a dois filmes brasileiros
na TV neste final de semana: “O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho, que
concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e “Morada”, de Joana Oliveira.
O som ao redor é um filme
instigante. A direção dos diálogos me fez sentir como estivesse presente nas
cenas. Pela atuação brilhante de todos os atores, com naturalidade extraordinária,
a sensação que passam é que foram filmados como vivendo de fato as cenas.
Parece-me residir ai a razão pela
qual ele concorre ao prêmio máximo do cinema. O filme coloca o expectador
tomado pela trama até a cena surpreendente no final.
Morada é um filme maravilhoso e
urgente. Maravilhoso pela sensibilidade da direção, neta da protagonista e
urgente porque alcança quão cruel pode ser o Estado quando invade a privacidade
e o direito do indivíduo.
Morada é um documentário rodado em
Belo Horizonte e trata do processo de desapropriação das propriedades
localizadas ao longo da Avenida Antônio Carlos para a duplicação das vias
laterais.
Dona Virginia, uma senhora que em
2008 completou oitenta anos de idade, recebeu a informação de que, por força de
decreto do então prefeito da cidade de Belo Horizonte, seria desalojada de sua
casa para a expansão da avenida. Isto no ano de 1954. Ela passou a vida inteira
esperando pela desapropriação que aconteceu em uma sexta-feira de março de
2009, cinquenta e cinco anos após o decreto.
Joana, neta de Dona Virginia,
documenta o drama de sua avó com cenas tomadas a partir de três anos antes da desapropriação
e demolição da casa.
O som ao redor e Morada nos fazem
refletir sobre quão frágil está o indivíduo contemporâneo que vive em cidades
de médio e grande porte. Indefeso à violência que grassa e impotente diante das
ações do Estado que age em nome de ações que visem ao coletivo.
Ambos reforçaram em mim o
desconsolo pelas opções da modernidade, especialmente por uma das falas de Dona
Virginia, em diálogo com sua neta em Morada:
- “O que eu posso fazer, milha filha”?
Até breve.
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