Gostei do VIDEO produzido por
Camila Pitanga, Leandra Leal, Wagner Moura e outros artistas globais e
intelectuais produto da reunião que fizeram a partir da questão que a eles se
propuseram: “O que pode ser feito”?
Corajosa, louvável, oportuna e
competente manifestação de opinião externada por um grupo com entrada franca
nos lares do povo brasileiro.
Faz-se mesmo necessária similar
lucidez para se apontar abusos da força pública e de parte dos manifestantes, e
o alerta de que estes abusos possam vir a inibir a continuidade do
desenvolvimento de nossa democracia.
Há, contudo, uma experiência a ser
vivida. Supondo que no dia 31 próximo em algumas cidades do país, pessoas
acorram ao chamado do fb.com/gritodaliberdade e que façam manifestação
gigantesca e pacífica, a quem estarão endereçadas as prováveis e amplas
reivindicações?
O Brasil, em que pese a aparente
normalidade de funcionamento do aparelho público, há muito está inerte e
estéril a qualquer ação mais aguda e verdadeiramente transformadora.
A estrutura político-partidária não
se articula em torno de ideias e/ou projetos para o país. Há ainda uma absoluta
ausência de contribuições técnico-científicas na altura da complexidade dos
temas e a magnitude dos problemas, especialmente aqueles enfrentados pela
população que habita as cidades de médio e grande porte do país.
A administração pública está
loteada por pessoas que não têm especialização ou competência para a maioria
das posições que ocupam e cumprem tarefas que se repetem há anos e fazem parte
de processos burocráticos que visam exclusivamente “tocar a máquina”.
No momento o que ocupa as
lideranças políticas não é outro assunto que não a configuração da tela das
urnas eletrônicas de 2014, exclusivamente. Nenhuma discussão mais ampla com a
sociedade se fará a partir destas lideranças que possa merecer crédito ou
interesse.
Por sua vez, não há na mídia a
coragem suficiente para ela encampar, de fato, um movimento de esclarecimento
amplo, geral e irrestrito envolvendo as melhores cabeças pensantes para criar
uma massa crítica popular que enderece ao equacionamento dos projetos necessários.
Se comparado com os de épocas
históricas anteriores, o acervo de cérebros críticos e de corações incendiados
presentes na atualidade deixa muito a desejar, embora o que se diz é de que
nossos sonhos não envelheceram.
Tomara que eu esteja enganado e que
a dinâmica do mal-estar latente faça emergir, especialmente nos mais jovens,
luminares de uma nova práxis político-social.
Estamos diante de desafios
expressivos. Mobilidade urbana, segurança pública, saúde, educação, inclusão
social são agendas extremamente complexas que não aceitam mais medidas de
superfície. Cabe uma reengenharia de fundo que implicará em inúmeros estudos
exigindo volumosos recursos humanos e materiais.
Desagradará, com toda a certeza, a
elementos do poder tanto na esfera pública quanto na privada o que implicará no
adiamento, postergação ou mesmo aborto das medidas transformadoras.
Tomara que estas considerações não
encontrem eco na realidade dos fatos que advirão. Tomara que elas sejam apenas
um desabafo de um sujeito de quase sessenta e dois anos cético e desesperançado.
Tomara que o grito encontre eco e
tomara, sobretudo, que não seja sob balas e bombas.
Até breve.
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