segunda-feira, 28 de outubro de 2013

GRITO


Gostei do VIDEO produzido por Camila Pitanga, Leandra Leal, Wagner Moura e outros artistas globais e intelectuais produto da reunião que fizeram a partir da questão que a eles se propuseram: “O que pode ser feito”?

Corajosa, louvável, oportuna e competente manifestação de opinião externada por um grupo com entrada franca nos lares do povo brasileiro.

Faz-se mesmo necessária similar lucidez para se apontar abusos da força pública e de parte dos manifestantes, e o alerta de que estes abusos possam vir a inibir a continuidade do desenvolvimento de nossa democracia.

Há, contudo, uma experiência a ser vivida. Supondo que no dia 31 próximo em algumas cidades do país, pessoas acorram ao chamado do fb.com/gritodaliberdade e que façam manifestação gigantesca e pacífica, a quem estarão endereçadas as prováveis e amplas reivindicações?

O Brasil, em que pese a aparente normalidade de funcionamento do aparelho público, há muito está inerte e estéril a qualquer ação mais aguda e verdadeiramente transformadora.

A estrutura político-partidária não se articula em torno de ideias e/ou projetos para o país. Há ainda uma absoluta ausência de contribuições técnico-científicas na altura da complexidade dos temas e a magnitude dos problemas, especialmente aqueles enfrentados pela população que habita as cidades de médio e grande porte do país.

A administração pública está loteada por pessoas que não têm especialização ou competência para a maioria das posições que ocupam e cumprem tarefas que se repetem há anos e fazem parte de processos burocráticos que visam exclusivamente “tocar a máquina”.

No momento o que ocupa as lideranças políticas não é outro assunto que não a configuração da tela das urnas eletrônicas de 2014, exclusivamente. Nenhuma discussão mais ampla com a sociedade se fará a partir destas lideranças que possa merecer crédito ou interesse.

Por sua vez, não há na mídia a coragem suficiente para ela encampar, de fato, um movimento de esclarecimento amplo, geral e irrestrito envolvendo as melhores cabeças pensantes para criar uma massa crítica popular que enderece ao equacionamento dos projetos necessários.

Se comparado com os de épocas históricas anteriores, o acervo de cérebros críticos e de corações incendiados presentes na atualidade deixa muito a desejar, embora o que se diz é de que nossos sonhos não envelheceram.

Tomara que eu esteja enganado e que a dinâmica do mal-estar latente faça emergir, especialmente nos mais jovens, luminares de uma nova práxis político-social.

Estamos diante de desafios expressivos. Mobilidade urbana, segurança pública, saúde, educação, inclusão social são agendas extremamente complexas que não aceitam mais medidas de superfície. Cabe uma reengenharia de fundo que implicará em inúmeros estudos exigindo volumosos recursos humanos e materiais.

Desagradará, com toda a certeza, a elementos do poder tanto na esfera pública quanto na privada o que implicará no adiamento, postergação ou mesmo aborto das medidas transformadoras.

Tomara que estas considerações não encontrem eco na realidade dos fatos que advirão. Tomara que elas sejam apenas um desabafo de um sujeito de quase sessenta e dois anos cético e desesperançado.

Tomara que o grito encontre eco e tomara, sobretudo, que não seja sob balas e bombas.



Até breve.

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