Outro vídeo circula na web sobre o
qual gostaria de tecer comentário. Trata-se de BIOGRAFIA no qual
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Gilberto Gil colocam suas posições sobre a
questão da autorização prévia para publicação de histórias pessoais.
Já disse aqui em tom de pilhéria,
claro, que qualquer um que quiser publicar sobre a minha história que esteja à
vontade para fazê-lo.
Agora falando seriamente, claro,
não é bem assim. Primeiro porque deve existir muita coisa sobre a minha pessoa
que eu próprio não sei e nem sei se gostaria de passar a saber. Vai que de
repente descobrem algo com o qual eu teria um profundo desgosto, decepção,
surpresa, sei lá. Aí publicam e vira best seller exatamente por isto, ou seja,
não pelo fato biografado em si, mas pelo fato de eu não estar sabendo e/ou pelo
desgosto decorrente.
Segundo porque vai que este best
seller seja aclamado pela crítica e dê uma grana preta para o sacana do
biógrafo e o bonitão aqui da fita não leve nenhumzinho. Vai que vire filme, com
Daniel J. Lewis e o galã ganhe o Oscar de melhor ator, o filme de melhor
diretor e melhor roteiro exatamente pela cena quando eu fico sabendo do que eu
não queria saber.
Terceiro porque a projeção
decorrente de todo o brejéu vai me colocar em holofotes com meus piores closes,
imaginem. Não, definitivamente, não.
É imperioso que se obste no Supremo
Tribunal Federal o expediente que possa me levar a saber o que eu não quero
saber e nem que saibam. Se bem que, caso ocorra, eu toparia conversar com o
biógrafo ou com a editora, ou com o estúdio de cinema, ou com o diretor na
perspectiva de uma negociação que role algum em espécie na cor verde, de preferência.
Afinal, o desgosto foi meu e pode
virar um gosto.
Só que a coisa é muito mais séria
do que meu espírito idiota anuncia acima. No fundo, para além de vidas extraordinárias
das pessoas que protagonizam o VIDEO, sobre as quais eu tenho maior admiração,
orgulho e respeito, há uma possibilidade colateral importante e imensamente
danosa.
Trapaças de corruptos, crimes encobertos,
chacinas veladas, verdadeiros responsáveis ficariam, pela censura prévia,
acobertados pelo expediente da Lei o que engrossaria e em muito o espaço da
impunidade na cena nacional.
Em artigo de hoje no jornal O
Estado de São Paulo, Roberto Damatta, nos ilumina com a frase: “A tocha da Estátua da Liberdade foi
substituída por um iPhone”.
O saber é indispensável ao
exercício pleno da liberdade.
Até breve.