sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SUJINHOS


Ontem fomos fazer um programa de (vai)dosos. Fomos a São Lourenço, cidade integrante do Circuito das Águas, conjunto de uma das maiores atrações turísticas do estado de Minas Gerais.

Vai idade, exatamente por isto. Com os anos nossa pele pipocou e surgiram manchas que tiram de nós o pouco que nos resta de belezura. Especialmente o meu caso, que fui finalista em concurso de beleza há já um bom par de anos. Minhas mãos e meus ombros pareciam de sapo malhado. Às vezes me deparo com Noninha olhando em torno do meu rosto e fico achando que ela se pergunta:

- “Vovô, será que ele não lava o rosto direito?... Cheio de sujinhos”...

A intenção era tirar da dor algum prazer. Em que pese a operação esteticista ser doída (parece que entramos em um formigueiro faminto) podíamos gozar a cidade que visitamos uma única vez, quando nossos filhos eram bem pequenos.

Escolhemos a rota pela Fernão Dias e bati volante baseado em mapa do Google, acreditando que placas indicativas iriam surgir a alguns quilômetros antes da entrada para o Circuito. Afinal faltam poucos meses para a Copa e um ou outro turista pode, quem sabe, querer visitar o lugar. Ou não?

De repente, Ela disse:

- É aqui!

Até aquele ponto não havia nenhuma indicação, nem outdoor, nem placa, nada anunciando a proximidade de uma das mais bem servidas regiões por fontes abundantes de água mineral, carbogasosa e litinada del mondo.

Em uma manobra de motorista anti-sequestro consegui acessar a entrada da via e tocamos adiante. Deparamos-nos com bifurcações, quebradas, rotundas, interseções ou trevos sem uma placa sequer.

Afinal chegamos e bem, aliás, quem tem boca vai a Ramon, bairro na entrada da cidade de São Lourenço. Escolhemos hotel, almoçamos ali mesmo e fomos para o formigueiro.

Duas horas e meia, duas horas para mim e meia-hora para Ela, depois do sufrimento retornamos ao hotel. A ideia anterior à carnificina era aproveitar as cinco piscinas oferecidas pelo hotel, sendo duas térmicas cobertas, mas em face da conjugação de dois fatos, abortamos a ideia.

Primeiro fato: tava frio. Segundo fato e conjugado ao primeiro:

- “O senhor tem que vir de roupa de banho do apartamento”... Orientou-nos o atendente do SPA, sentado em uma cadeira diante de uma mesinha sobre a qual haviam toalhas mal dobradas, jornais e palavras cruzadas.

Este post tá parecendo de riquinho seboso, manenão.

Aguardamos no quarto, nos aprontamos e fomos jantar. Está, até o próximo domingo, acontecendo o Festival de Gastronomia na cidade e, por acaso ficamos sabendo através da leitura de um cartazete afixado em uma vitrine de loja. No hotel, consultamos a recepção sobre restaurantes existentes na cidade e recebemos a seguinte orientação:

- “Ah, tem vários”...

A sorte nos fez localizar um restaurante participante do Festival. A proprietária, uma gaúcha que se apaixonou por um italiano em Jericoacoara, casou-se com ele, montaram uma padaria e por lá viveram durante quinze anos e depois, cansados de mar e sol, desceram a procura de um novo habitat, de preferência na Serra da Mantiqueira.

Esbarraram em São Lourenço e estão por lá há quatro anos. O marido é chef porreta. O prato preparado e servido por ele (costela de cordeiro em redução no vinho) estava muito apetitoso e de padrão excelente. Para acompanhar vinho tinto e água com gás, por favor.

Adoramos a água São Lourenço. A proprietária nos serviu outra, de fonte que não da cidade.

- Você não tem a água São Lourenço?

- Estamos boicotando. A atual concessionária vem abusando não respeitando os níveis adequados de extração do líquido divino da Fonte Oriente, não faz nada pela cidade, não se interessa pelas demandas da comunidade, enfim...

Ela nos falou ainda que tem trabalhado junto a alguns restaurantes para sensibilizarem os hotéis da cidade para não patrocinarem diárias com refeição, já que isto inviabiliza o negócio especialmente dos restaurantes que servem pratos um pouco mais sofisticados.

Voltamos para o hotel. Próximo à portaria do hotel uma placa de ADMITE-SE. Uma única demanda: COZINHEIRO.

Pelo almoço no hotel, tipo fast food de rodoviária, pagamos um preço superior ao do jantar com finesse de chef italiano regado a um bom vinho tinto chileno.

Hoje pela manhã, quando acordamos, Ela me pediu que pegasse uma água mineral na geladeira. O refrigerador estava literalmente vazio. Não quis pedir por telefone, desci até a recepção e solicitei ao rapaz, que me fez assinar a nota primeiro, foi ao restaurante e me trouxe uma garrafa de águal mineral Cristal, da Fonte de Mogi das Cruzes.

Voltei de São Lourenço queimado por todos os poros, literalmente. Estou em meu berço esplêndido, bonito pela própria natureza, impávido colosso, fontes mil de águas cristalinas e abençoadas. SPA – Salus per Aqua: Saúde pelas águas.

E tomo garganta abaixo água explorada pela Nestlé Waters Brasil – Bebidas e Alimentos Ltda. e pela Coca-Cola Companhy.

Esta Copa nós perdemos.



Até breve.

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