Fui fazer minha comprovação de que
estou vivo na instituição financeira na qual recebo minha aposentadoria.
Apresentei-me ao caixa que me pediu a carteira de identidade e o cartão do
Banco.
Entreguei-lhe a minha carteira de
motorista e disse-lhe que eu não estava com o cartão do Banco em meu poder.
- “Então não pode”, disse-me a autoridade.
- “Não pode o quê”? Perguntei.
- “Fazer a operação”.
- “Que operação”?
- “A comprovação de que o senhor está vivo”.
- “Só com a identidade não basta”?
- “Não, o cartão do Banco também é necessário”.
- “Não tem como fazer a operação com senha... É uma boa demonstração de
que eu sou eu e que estou vivo, não acha”?
-“Não, só com o cartão do Banco”.
- “Carta de próprio punho com firma reconhecida e duas testemunhas idôneas”?
- “Não, senhor”.
- “Trago aqui minha esposa, meus três filhos, minha netinha... Amigos
influentes”?
- “Não senhor”.
Eu tô quieto no meu canto e o
cotidiano me incita a dramatizar. Caramba a gente está vivo não basta, mesmo
com o documento formal de que eu sou eu e que estando presente em carne e osso
e andando, respirando, falando e até ouvindo, em tese, eu estou vivo.
Ou não?
O mundo contemporâneo me enche de
dúvidas inclusive esta existencial. Eu estou vivo? Isto é, quando ando pelaí
sem cartão do Banco? Ou isto é uma contribuição da instituição financeira a
nossa memória ou até mesmo para a nossa saúde?
- “É importante que sempre que o senhor vier demonstrar que está vivo
trazer o seu cartão do Banco, não se esqueça. Volte a sua casa e busque o cartão...
É bom que o senhor anda um pouco, não acha”?
Se isso acontecer comigo entro pros
Black Bloc, ponho uma touca ninja e parto prá quebradeira. E quando a polícia
me pedir a identidade meto-lhe o cartão do Banco pelas ventas.
Tomara que eu tome pancada dos hôme.
Pelo menos eu vou ter uma prova de que estou vivo.
Ou não?
Até breve.
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