quinta-feira, 5 de setembro de 2013

DÚVIDA



Fui fazer minha comprovação de que estou vivo na instituição financeira na qual recebo minha aposentadoria. Apresentei-me ao caixa que me pediu a carteira de identidade e o cartão do Banco.

Entreguei-lhe a minha carteira de motorista e disse-lhe que eu não estava com o cartão do Banco em meu poder.

- “Então não pode”, disse-me a autoridade.

- “Não pode o quê”? Perguntei.

- “Fazer a operação”.

- “Que operação”?

- “A comprovação de que o senhor está vivo”.

- “Só com a identidade não basta”?

- “Não, o cartão do Banco também é necessário”.

- “Não tem como fazer a operação com senha... É uma boa demonstração de que eu sou eu e que estou vivo, não acha”?

-“Não, só com o cartão do Banco”.

- “Carta de próprio punho com firma reconhecida e duas testemunhas idôneas”?

- “Não, senhor”.

- “Trago aqui minha esposa, meus três filhos, minha netinha... Amigos influentes”?

- “Não senhor”.

Eu tô quieto no meu canto e o cotidiano me incita a dramatizar. Caramba a gente está vivo não basta, mesmo com o documento formal de que eu sou eu e que estando presente em carne e osso e andando, respirando, falando e até ouvindo, em tese, eu estou vivo.

Ou não?

O mundo contemporâneo me enche de dúvidas inclusive esta existencial. Eu estou vivo? Isto é, quando ando pelaí sem cartão do Banco? Ou isto é uma contribuição da instituição financeira a nossa memória ou até mesmo para a nossa saúde?

- “É importante que sempre que o senhor vier demonstrar que está vivo trazer o seu cartão do Banco, não se esqueça. Volte a sua casa e busque o cartão... É bom que o senhor anda um pouco, não acha”?

Se isso acontecer comigo entro pros Black Bloc, ponho uma touca ninja e parto prá quebradeira. E quando a polícia me pedir a identidade meto-lhe o cartão do Banco pelas ventas.

Tomara que eu tome pancada dos hôme. Pelo menos eu vou ter uma prova de que estou vivo.

Ou não?



Até breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário