O professor desenvolveu a
engenhoca, tipo instrumento jamesbondiano da década de 60. Parece mais um
daqueles lápis de Itu ou com um foguete de brinquedo. O líquido, fórmula
elaborada tupiniquim pelo professor é introduzido por uma pipeta de resina
dentro da coisa e bombeada manualmente pela esteticista.
Na parte interna do dispositivo há
um cilindro no qual é introduzido um gás (hidrogênio) e na ponta do aplicador
há algo que implica no fechamento dos poros da pele onde incidem as manchas
senis.
Não me peçam descrição melhor sobre
a engenhoca, porque o segredo da coisa está guardado a sete chaves pelo
professor e, naturalmente, eu saí de lá sem sabê-lo.
Fomos parar lá amaldiçoados pelos
sogros do Lé. Sempre achei que eles não nutrem muita simpatia por nós. Como já
haviam sofrido da mesma vai idade empurraram essa para o nosso lado.
Além da fórmula cleneante
milagreira que atinge outros vai idosos, inclusive internacionalmente, o
professor desenvolveu outras particulâncias entre elas uma forte amizade com
Salvador Dali.
Ele mesmo, o pintor, aquele do
bigode. A relação começou depois que o professor fez a milagrência na pele da
esposa (Gala) do demoníaco artista. Depois disto foi presenteado por algumas
telas o que fez com que o professor montasse nas instalações de sua Fundação em
São Lourenço, um pequeno museu com exposição permanente de algumas obras de
Dali.
O museu, em si, diga-se de
passagem, é surreal.
Há também outras excentricidades na
Fundação do tipo: como o mundo acabará em 25 de março (viu Pretinha) de 2127
pela precipitação de um meteoro sobre a Terra, em 1996 o professor idealizou e
construiu uma Caixa do Tempo, que deverá ser aberta um ano antes do fim de
tudos.
Trata-se de uma instalação
subterrânea onde o professor depositou escritos familiares de várias pessoas
relatando como a vida era à época. Depositou ainda alimentos não perecíveis e
outros telecotecos mais.
Sobre o solo onde está a Caixa do
Tempo, mandou construir com chapas de granito um monumento de dois metros de
altura por sessenta centímetros de profundidade e um metro e meio de largura.
No centro há uma área vazada de um lado ao outro, fechada por um vidro de 10
milímetros. Lá dentro um imenso cristal trazido pelo professor de uma viagem expedicionária
que ele fez à Amazônia.
Quando chegamos à Fundação a
recepcionista nos entregou uma sequência entrelaçada de oito clips e pediu que
nós a aproximássemos de uma das laterais do monumento onde está exposto o
cristal. Quando o último clips da sequência agarrasse sobre o granito teríamos
os nossos maus espíritos expelidos. Energia pura. Uma vez por ano, no dia 25 de
março, o cristal muda de cor transparente para rosada.
Pois é. E eu que fui lá só para
expelir as manchas senis, ganhei de quebra a clenância da alma.
Há ainda, na entrada do prédio
principal da Fundação, uma escultura de figura masculina mitológica, cabelos
espessos e encaracolados com uma grande boca e aberta para a parte interna. A
Boca da Verdade. Se colocada uma das mãos e feito um pedido com muita fé, o
desejo realizar-se-á.
Dizem que a Boca da Verdade serve,
também, à confirmação de fatos. Caso a pessoa com a mão posta dentro da Boca da
Verdade relatar algo que não corresponda aos fatos esta pessoa será vitimada
por algum mal.
Ficamos sabendo que após o carnaval
a Boca é muito procurada por casais de namorados que passaram separados as
festas de Momo. Ali, meninos e meninos, tremem.
Pena que nossa viagem tenha sido
tão breve. É de todo provável que a gente volte, mesmo que não seja para
extirpar maus espíritos e nem nossas manchas senis e da alma.
Quando saíamos da Fundação ouvimos
que o professor lamenta-se profundamente de que hoje há poucas pessoas
dedicando-se às pesquisas, as coisas têm chegado muito prontas e,
principalmente os jovens não se esforçam para criar algo inusitado e
verdadeiramente sui generis.
Dali, trouxemos uma vivência
surreal.
Trouxemos ainda de São Lourenço, o
que nos fará lembrar do professor, quatro caixas com doze garrafinhas cada de
água. Da Fonte de Pouso Alto: ESTILO.
Brigado Antônio. Brigado Beth.
Bom,pelo menos tem Estilo...Ótimo para alma!
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