quarta-feira, 25 de setembro de 2013

COSMOOMSOC



Moro em dois mundos. Ao longo da semana estou urbano e, quase sempre, nos finais de semana estou rural. Isto me dá uma certa alternância de frequências: auditiva, pulmonar, visual, reflexiva, muscular, dérmica, sensitiva, cultural, social, ecológica, e provavelmente outras que não me ocorrem agora.

O som urbano traduz o caos com suas sirenes, bate-estacas, roncar de motores, alaridos das ruas, gritos de ambulantes, campainhas de colégios... São tantos os sons que não consigo ouvir o zumbido que habita o meu ouvido esquerdo.

O ar urbano me deixa seco, bebo água a cada quinze minutos e minha garganta assemelha-se a uma quadra de saibro, ainda. Puxo ar e sinto um pouco de algo petrolífero descendo pelas ventas.

A estética urbana me inquieta e me horroriza, mesmo eu pagando um IPTU mais alto por ter uma vista mais ampla das janelas do meu apartamento. Não gosto do que vejo de minhas janelas urbanas. Não sei, sinceramente, porque optamos por verticalidades.

Meus caminhares íntimos na cidade são quase sempre políticos, a cidade me convida à indignação, à crítica contumaz, ao inconformismo.

Meu corpo urbano move. Faço, agora, pilates e ginástica funcional, as segundas, quartas e sextas. Ando muito pelas ruas onde encontro de tudo e muito próximo: bancos, casa e coisas, shoppings, cinemas, teatros.

Nestas andanças na urbe, alterno sóis e sombras e volto prá casa com a pele acinzentada e granulosa, às vezes.

Sinto as pessoas nos seus ires e vindos das manhãs, tardes e noites e as fito querendo sabê-las: o que farão e o que fizeram no dia de hoje? Quantas alegrias ou tristezas experimentaram? Sobre o que falam? Seus semblantes, seus cumprimentares, seus diálogos, hoje mais raros. Sinto a densidade humana borbulhando nas ruas e avenidas, casas de comércio, coletivos, automóveis.

A urbe promove eventos, possibilita arejamento e convívio de conhecimentos. Há arte na Liberdade, na Estação, Museus...

Todas as minhas principais relações estão urbanas, inclusive as profissionais, naturalmente.

O espaço urbano é um campo de concentração ao verde, aos pássaros, aos cães, aos gatos, aos seres.

Com tudo isto a cidade ainda é o lugar do agito, que compensa.

Agora, vida mesmo é de cheiro de mata, lua saindo da montanha, pernilongo, abelhas no sótão, latidos, uivares, água tocando pedras e limos, peixes, tartarugas, pulgas, carrapatos, pão de queijo, comida de Kátia.

Pássaros... Pássaros... Pássaros...

Zuca, Laka, Ossun que ladram.

Barba por fazer, camiseta surrada e com furos e descosturados, bermuda, sandálias de dedo. Martelo, alicate, chave-de-fenda, máquina de furar, porcas, parafusos, tinta, barro, lama. Coco anão, mexerica, romã, banana, lichia, laranja, lima, manga, pitanga, pitomba, jabuticaba, até pêssego. Couve, alface, tomate, cebolinha, quiabo.

Chorões, palmeiras, hibiscos, tulhas, azaleias e outras de todas as cores.

Prosa de amigos, raros, mas boa de com força.

O campo é o lugar do Silêncio, que alimenta.



Até breve.

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