Moro em dois mundos. Ao longo da
semana estou urbano e, quase sempre, nos finais de semana estou rural. Isto me
dá uma certa alternância de frequências: auditiva, pulmonar, visual, reflexiva,
muscular, dérmica, sensitiva, cultural, social, ecológica, e provavelmente
outras que não me ocorrem agora.
O som urbano traduz o caos com suas
sirenes, bate-estacas, roncar de motores, alaridos das ruas, gritos de
ambulantes, campainhas de colégios... São tantos os sons que não consigo ouvir
o zumbido que habita o meu ouvido esquerdo.
O ar urbano me deixa seco, bebo
água a cada quinze minutos e minha garganta assemelha-se a uma quadra de
saibro, ainda. Puxo ar e sinto um pouco de algo petrolífero descendo pelas
ventas.
A estética urbana me inquieta e me
horroriza, mesmo eu pagando um IPTU mais alto por ter uma vista mais ampla das
janelas do meu apartamento. Não gosto do que vejo de minhas janelas urbanas.
Não sei, sinceramente, porque optamos por verticalidades.
Meus caminhares íntimos na cidade
são quase sempre políticos, a cidade me convida à indignação, à crítica
contumaz, ao inconformismo.
Meu corpo urbano move. Faço, agora,
pilates e ginástica funcional, as segundas, quartas e sextas. Ando muito pelas
ruas onde encontro de tudo e muito próximo: bancos, casa e coisas, shoppings,
cinemas, teatros.
Nestas andanças na urbe, alterno
sóis e sombras e volto prá casa com a pele acinzentada e granulosa, às vezes.
Sinto as pessoas nos seus ires e
vindos das manhãs, tardes e noites e as fito querendo sabê-las: o que farão e o
que fizeram no dia de hoje? Quantas alegrias ou tristezas experimentaram? Sobre
o que falam? Seus semblantes, seus cumprimentares, seus diálogos, hoje mais
raros. Sinto a densidade humana borbulhando nas ruas e avenidas, casas de
comércio, coletivos, automóveis.
A urbe promove eventos, possibilita
arejamento e convívio de conhecimentos. Há arte na Liberdade, na Estação,
Museus...
Todas as minhas principais relações
estão urbanas, inclusive as profissionais, naturalmente.
O espaço urbano é um campo de
concentração ao verde, aos pássaros, aos cães, aos gatos, aos seres.
Com tudo isto a cidade ainda é o
lugar do agito, que compensa.
Agora, vida mesmo é de cheiro de mata,
lua saindo da montanha, pernilongo, abelhas no sótão, latidos, uivares, água
tocando pedras e limos, peixes, tartarugas, pulgas, carrapatos, pão de queijo,
comida de Kátia.
Pássaros... Pássaros... Pássaros...
Zuca, Laka, Ossun que ladram.
Barba por fazer, camiseta surrada e
com furos e descosturados, bermuda, sandálias de dedo. Martelo, alicate,
chave-de-fenda, máquina de furar, porcas, parafusos, tinta, barro, lama. Coco
anão, mexerica, romã, banana, lichia, laranja, lima, manga, pitanga, pitomba, jabuticaba,
até pêssego. Couve, alface, tomate, cebolinha, quiabo.
Chorões, palmeiras, hibiscos,
tulhas, azaleias e outras de todas as cores.
Prosa de amigos, raros, mas boa de
com força.
O campo é o lugar do Silêncio, que
alimenta.
Até breve.
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