quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ALIENS



Ao lado do prédio de apartamentos onde moramos há um colégio com dois grandes pátios internos, área de quadras de esportes e, inclusive, um grande ginásio poliesportivo. De quando em vez há festas da meninada aluna ou não do colégio.

No domingo vi movimentação em um dos pátios com a instalação de um grande tobogã de plástico, barraquinhas e outros belequebeques. À tarde chegaram os participantes da festa. Vários fantasiados, portando grandes lanças cinza, espadas, escudos.

Taí, pensei, boa diversão para com a Noninha (Pretinha havia deixado minha netinha conosco para ir ao aniversário de uma amiga).

Desci e fui até a portaria de entrada do colégio e perguntei a uma jovem o que estava rolando ali.

- “É o IV Encontro de Nerds”.

Noninha virou seu rosto e fitou-me grave nos olhos.

- “Vovô você acha que já está na hora”? Li a pergunta nos seus olhos.

- “Eu posso dar uma voltinha com minha neta lá dentro... Só dá prá dar uma olhada”?

- “Dez real a entrada”...

Eu desci sem lenço, sem documento e sem grana. Fui em casa, peguei o dinheiro e voltei ao colégio. Na entrada um jovem me perguntou a idade:

- “Da neném?”

- “Não, do senhor”.

- “Quase sessenta e dois, por que”?

- “Se o senhor tivesse sessenta e cinco não precisaria pagar”.

Paguei os dez reais e entrei. Ali estavam em torno de 300 a 350 jovens entre 14 e 18 anos organizados em diferentes gincanas, atividades lúdicas, brincadeiras. Perguntei a uma menina o que era aquele evento e ela, muito objetiva, respondeu:

- “É um encontro de pessoas que gostam das mesmas coisas”.

- “Que coisas”?

- “Atividades culturais, brincadeiras como a batalha de (*%^$##@^^) e outros divertimentos”...

- “Por que nerds”?

- “O senhor olhou bem prá nós”?

- “Como assim: bem”?

- “Se o senhor reparar nós somos muito feios, estranhos e temos muita dificuldade de pertencermos a outro grupo se não ao nosso próprio”.

- “E como faz para participar”?

- “Como o senhor entrou aqui”?

- “Paguei dez reais”...

- “É assim”.

- “Só?”

- “É”.

- “Então eu sou feio e pago dez reais e posso participar?”

- “Alguém discriminou o senhor aqui”?

- “Até agora não”.

- “E nem vai... A discriminação aqui só vem de fora. Fique tranquilo”.

Noninha se esbaldou. Correu para todos os lados, passou de colo a colo com a meninada adorando a nova adepta, tirou fotos com super-heróis. Quando disse a ela que estava ficando frio e que precisávamos ir embora ela começou a choramingar. Ela não queria sair dali.

Nem eu.




Até breve.

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