O ativista social é que é nobre. É
ele quem vai às vias de fato. Dá a cara e o corpo prá levar corretivo. Outro
dia vi reportagem com um jovem cuja fisionomia lembrou-me de Wood Allen. Há sim
no ativismo uma certa loucura, mas também há, sobretudo, arte.
Li que, para Homero, as guerras e
outros conflitos sociais acontecem só para que os artistas os reproduzam em
toda forma de interpretação e expressão.
Os óculos redondos do rapaz, sua
estatura baixa e sua voz determinada daqueles que acreditam: “É bom que os vereadores saibam que se eles
vacilarem, nós voltamos”. Ele, com outros tão loucos, desvairados, crentes
e indispensáveis estavam sendo, por força judicial, colocados para fora da
Câmara Municipal de Belo Horizonte depois de tê-la ocupado por dias e noites.
Talvez por ter estado na Rússia me
lembrei também do anarquista russo Michail Bakunin. Ele foi, junto com Karl Marx,
uma dos mais influentes personagens do movimento internacional de trabalhadores
no século XIX. Defendia o conceito de uma sociedade sem classes e sem governo. Persona non grata para os comunistas,
Bakunin achava que o Estado Socialista seria a continuação da opressão do
operariado e camponeses com outro nome.
Bakunin esteve em praticamente
todos os movimentos anarquistas de sua época em vários países da Europa. Marx o
artista ideólogo o chamava de “intrigante”
ou “esse maldito moscovita”.
Toda esta introdução para dizer que
recebi crítica por ser crítico e isto ampliou ainda mais a minha insatisfação.
É verdade. Fico aqui escudado por palavras impressas e nada de ação objetiva
que reforme. No fundo, como eu, guardadas as imensas e devidas proporções, Marx
tinha uma profunda inveja de Bakunin, e eu do jovem cuja fisionomia me lembra
de Wood Allen.
Um quase passatempo e sem
pretensões maiores como este blog, escrito por um ilustre desconhecido, não
pode ser considerado útil se não para quem dele se ocupa. Eu e você, pobre
leitor, que imagino deve ter sérias dúvidas de onde vai dar este texto, por
exemplo.
Eu lhe poupo então: em Noninha.
Ontem à noite na presença de sua
avó, de sua mãe, de uma tia-bisavó e de mim, brincava com um livrinho. Estava
de pé em frente à mesa de centro da sala de nosso apartamento. Noninha
balançava com uma das mãos o livrinho e, de repente, bateu com a boca no vidro
da mesa, rodopiou e caiu em pranto.
Prontamente a socorri e vi que da
sua boquinha marejava sangue. Ela havia cortado com o dentinho o lábio
inferior. Logo logo o sangue estancou e ela voltou à sua alegria.
Muitas das vezes a História
contempla sangue. A arte, talvez, sem fim objetivo sirva apenas para, em
retratando os episódios, reflita e produza aprendizado.
Volte ao título.
Até breve.
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