sexta-feira, 9 de agosto de 2013

PRETENSÃO



O ativista social é que é nobre. É ele quem vai às vias de fato. Dá a cara e o corpo prá levar corretivo. Outro dia vi reportagem com um jovem cuja fisionomia lembrou-me de Wood Allen. Há sim no ativismo uma certa loucura, mas também há, sobretudo, arte.

Li que, para Homero, as guerras e outros conflitos sociais acontecem só para que os artistas os reproduzam em toda forma de interpretação e expressão.

Os óculos redondos do rapaz, sua estatura baixa e sua voz determinada daqueles que acreditam: “É bom que os vereadores saibam que se eles vacilarem, nós voltamos”. Ele, com outros tão loucos, desvairados, crentes e indispensáveis estavam sendo, por força judicial, colocados para fora da Câmara Municipal de Belo Horizonte depois de tê-la ocupado por dias e noites.

Talvez por ter estado na Rússia me lembrei também do anarquista russo Michail Bakunin. Ele foi, junto com Karl Marx, uma dos mais influentes personagens do movimento internacional de trabalhadores no século XIX. Defendia o conceito de uma sociedade sem classes e sem governo. Persona non grata para os comunistas, Bakunin achava que o Estado Socialista seria a continuação da opressão do operariado e camponeses com outro nome.

Bakunin esteve em praticamente todos os movimentos anarquistas de sua época em vários países da Europa. Marx o artista ideólogo o chamava de “intrigante” ou “esse maldito moscovita”.

Toda esta introdução para dizer que recebi crítica por ser crítico e isto ampliou ainda mais a minha insatisfação. É verdade. Fico aqui escudado por palavras impressas e nada de ação objetiva que reforme. No fundo, como eu, guardadas as imensas e devidas proporções, Marx tinha uma profunda inveja de Bakunin, e eu do jovem cuja fisionomia me lembra de Wood Allen.

Um quase passatempo e sem pretensões maiores como este blog, escrito por um ilustre desconhecido, não pode ser considerado útil se não para quem dele se ocupa. Eu e você, pobre leitor, que imagino deve ter sérias dúvidas de onde vai dar este texto, por exemplo.

Eu lhe poupo então: em Noninha.

Ontem à noite na presença de sua avó, de sua mãe, de uma tia-bisavó e de mim, brincava com um livrinho. Estava de pé em frente à mesa de centro da sala de nosso apartamento. Noninha balançava com uma das mãos o livrinho e, de repente, bateu com a boca no vidro da mesa, rodopiou e caiu em pranto.

Prontamente a socorri e vi que da sua boquinha marejava sangue. Ela havia cortado com o dentinho o lábio inferior. Logo logo o sangue estancou e ela voltou à sua alegria.

Muitas das vezes a História contempla sangue. A arte, talvez, sem fim objetivo sirva apenas para, em retratando os episódios, reflita e produza aprendizado.

Volte ao título.



Até breve.

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