domingo, 18 de agosto de 2013

PONTE



No drama do ecoar das horas, cada instante toma importância ímpar. Não se pode deixar ao léu algo que se tem de pouco.

Do que falo?

De um ciclo extremamente distinto dos anteriores, quando úteis eram os dias e o descanso rotina semanal.
Agora as horas passam com um gosto outro, de ter que saboreá-las como o final de um prato de que se gosta muito. Profiteroles,  petit gateau, cocada, quindim, essas sutilezas.

Talvez e por isto o olhar esteja na direção das riquezas porvir, dessas que não são valor de coisas. Riquezas outras como o sorriso, os olhos, o querer o meu colo, o dedinho em riste apontando observâncias. De Noninha, claro.

A queda abrupta da temperatura ambiente, a secura do gramado, as flores do pessegueiro, das mangueiras, da lichia.

A piscina, com o meu corpo ausente, dado o frio trazido pela madrugada.

A bancada que fiz ontem sobre o armário de ferramentas, afinal, para a fixação do torno. Há pelo menos dez anos que havia planejado.

O filtro que, a contragosto, retornei para o poço, agora reduzido, de peixes.

Trivialidades imensas e banais, mas cândidas e indispensáveis. É de como sejam minhas e não de um autômato diário.

Cada tarefa fica assim e desse jeito.

Reclamam comigo porque estou com a mesma bermuda, camiseta e chinelos desde quinta-feira para passar a extensão de feriado prolongado sobre dias úteis, sábado e domingo.

Na cozinha tenho um relógio de parede cujos ponteiros giram ao contrário. Como se as horas fossem de presente para passado, convidando para, quem sabe, uma nova chance de esgotá-las.

Saudosismo? Que nada. Velhice mesmo. Destas que acomete no fundo do sensível e da pacificação do espírito.

Passeava há pouco com Noninha pelas ruas desertas do condomínio. Um frio miúdo nos assolava. O barulho do silêncio misturava-se com o cantarolar de ais, ôôôs, e outros us de Noninha.

Agora, edito o post de número 450. No Ipod, Bjork me desperta com grunhidos.



Até breve. 

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