No drama do ecoar das horas, cada
instante toma importância ímpar. Não se pode deixar ao léu algo que se tem de
pouco.
Do que falo?
De um ciclo extremamente distinto
dos anteriores, quando úteis eram os dias e o descanso rotina semanal.
Agora as horas passam com um gosto
outro, de ter que saboreá-las como o final de um prato de que se gosta muito.
Profiteroles, petit gateau, cocada,
quindim, essas sutilezas.
Talvez e por isto o olhar esteja na
direção das riquezas porvir, dessas que não são valor de coisas. Riquezas
outras como o sorriso, os olhos, o querer o meu colo, o dedinho em riste
apontando observâncias. De Noninha, claro.
A queda abrupta da temperatura
ambiente, a secura do gramado, as flores do pessegueiro, das mangueiras, da
lichia.
A piscina, com o meu corpo
ausente, dado o frio trazido pela madrugada.
A bancada que fiz ontem sobre o armário de ferramentas, afinal,
para a fixação do torno. Há pelo menos dez anos
que havia planejado.
O filtro que, a contragosto,
retornei para o poço, agora reduzido, de peixes.
Trivialidades imensas e banais, mas
cândidas e indispensáveis. É de como sejam minhas e não de um autômato diário.
Cada tarefa fica assim e desse
jeito.
Reclamam comigo porque estou com a
mesma bermuda, camiseta e chinelos desde quinta-feira para passar a extensão de
feriado prolongado sobre dias úteis, sábado e domingo.
Na cozinha tenho um relógio de
parede cujos ponteiros giram ao contrário. Como se as horas fossem de presente
para passado, convidando para, quem sabe, uma nova chance de esgotá-las.
Saudosismo? Que nada. Velhice
mesmo. Destas que acomete no fundo do sensível e da pacificação do espírito.
Passeava há pouco com Noninha pelas
ruas desertas do condomínio. Um frio miúdo nos assolava. O barulho do silêncio
misturava-se com o cantarolar de ais, ôôôs, e outros us de Noninha.
Agora, edito o post de número 450. No Ipod, Bjork me
desperta com grunhidos.
Até breve.
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