quarta-feira, 7 de agosto de 2013

NERVO



Por ter estado fora perdi o ritmo das ruas.

O que sobrou das manifestações catárticas, entusiastas, indispensáveis, volumosas, vândalas, insanas, amplas? E se formos todos, literalmente todos, para a rua o que ocorreria? A quem nos dirigiríamos?

Não sei, mas quero supor que “povo”, hoje, seja uma entidade abstrata, efêmera e fugaz. Não se constitui como voz. Tolice alienada e/ou conforto a de se considerar representação parlamentar.

O Estado não, esse tem existência objetiva, pragmática e concreta e se manifesta em todas as dimensões da vida cidadã. E o que o faz valer, independente do juízo que se extraia, é aquilo que se convencionou chamar mídia, inclusive aqui também aquela que se constrói no boca-a-boca ou através dos múltiplos hiperlinks.

Eu por mim abolia. Fechava toda essa tralha. Demolia no simbólico todo ministério, secretaria, e Alvoradas, e também aquelas instituições vazias e nebulosas que se locupletam nos contornos niermeyeranos côncavo e convexo.

Eu, por mim, tentava mais simples. Direto: cada um por si tipo faroeste e sem xerife, ninguém que estabeleça como deve ser. Sem Lei? Isso mesmo, sem nenhuma lei. Sem presídios, instituições de recuperação social, hospitais psiquiátricos? Também, sem.

Estou, então, fazendo a apologia da anarquia?

Longe de mim esta façanha, porque ela já está posta num olhar mais agudo que se faça. Resquícios civilizatórios ainda dão um certo odor de ordem, ocorrem até iniciativas louváveis de contemporização social, e só.

No vamovê a coisa é outra. Relações demoníacas, poderes torpes, negociatas de vulto. Na superfície notícia e discurso sabido. Nosso idioma nos caracteriza: só nós nos colocamos no gerúndio. Estamos tratando...

Se não vejamos: por delação premiada uma companhia deu com a língua nos dentes e destampou um processo de contratação de obras em São Paulo, localizando o envolvimento de determinado partido político (?). “Estamos apurando e iremos agir com rigor identificados os responsáveis.”

Eu prefiro sem xerife.

Quero comentar também o trágico recente que me angustia se confirmada a tese policial de que foi o garoto de treze anos que matou os pais, a avó e uma tia-avó. Ele teria atirado com uma pistola ponto 40 enquanto todos dormiam. No dia seguinte foi à escola pela manhã, voltou para casa a tarde e se matou.

Apenas uma cena, entre tantas outras similares, da semana. Tarantino, John Ford, Sérgio Leone e outros nobres do cinema western dramatizariam.

Ocorre que esse é o nosso Real.



Até breve.

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