segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CALOR



Ontem assistimos a dois filmes: Flores Raras de Bruno Barreto, no cinema e Homens Livres, de Ismael Ferroukhi, na TV Paga.

Ao lado de duas extraordinárias atrizes americanas, Miranda Otto (Elizabeth Bishop) e Tracy Middendorf (Mary Morse), nossa Glória Pires (Lota) arrasa em Flores Raras.

Em 1951, Elizabeth deixa Nova Iorque para uma cura geográfica e vem para o Rio de Janeiro em visita rápida à amiga Mary, que mora com Lota. Lota, que nasceu arquiteta, tem em Carlos Lacerda, cujo sonho era ser Presidente da República, um amigo próximo e a partir dele, enquanto Governador do Estado da Guanabara, projeta e supervisiona a construção do Parque do Flamengo.
Uma visita que era para durar três dias acabou durando mais de uma década. Prêmio Pulitzer, exílio do político, inauguração do Parque, adoção de criança depois, a relação tempestuosa das três mulheres e o contexto social onde se instaura a trama nos faz pensar.

Em 1942, a cidade de Paris está ocupada pelo exército alemão. Younes, um jovem imigrante argelino, trabalha no mercado negro, mas quando é capturado pela polícia, ele aceita trabalhar como espião na Mesquita de Paris. Ali encontra o cantor, também imigrante, Salim.

Um e outro filme versam sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo em tempos turbulentos. Em que pese tudo o que ocorre em torno destas pessoas, o drama humano da paixão rouba a cena. Todos os acontecimentos externos tornam-se irrelevantes. A revolução de 64 no Brasil ou a II Guerra Mundial e seus dramas correlatos, embora expressivos dão espaço ao que se passa no coração avassaladoramente  apaixonado dos personagens.

Flores Raras é explícito e baseado em fatos reais. Homens Livres, também baseado em fatos reais, não deixa claro. É mais interpretação minha, quanto às intenções reais de Younes em Salim.

O desejo belicoso assim como a paixão são afetos fulminantes. Especialmente quando culturalmente, politicamente, ideologicamente, religiosamente, circunstancialmente são rechaçados.

A cada dia reforço minha convicção de que a arte, especialmente a cinematográfica, exerce sim uma função e transformadora nos espíritos dispostos.

Em que pese tudo o que se passe ao meu redor, nada encobrirá e nem demoverá o meu desejo apaixonado pelo outro. Se não, não vale a pena mesmo, como quis Lota.

Ser, e livre, é uma flor rara.



Até breve.

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