terça-feira, 30 de julho de 2013

MOCKbA



Moscou surpreende. A partir do nome que é o mesmo do rio que corre em toda a extensão de 80 Km dos limites da cidade. Às margens, quando no ano de 1143 ela foi fundada havia muita mosca e o rio teria sido batizado por esta razão e depois a própria cidade.

Moscou surpreende pelo seu metrô cuja primeira estação foi inaugurada em 1938. Hoje, dez milhões de usuários por dia transitam breves e rápidos por suas profundas escadas rolantes para atingir monumentais duzentas estações.

Onze linhas regulares e uma circular com a extensão total de 300 km atendem praticamente a todos os cantos da cidade com composições que se espaçam de dois em dois minutos.

Estações que deram ao metrô de Moscou o prêmio de arte e arquitetura subterrânea. Em uma das estações, por exemplo, a da Praça da Revolução, com 73 metros de extensão e 60 metros de largura, estão expostas setenta e duas estátuas esculpidas em bronze. Vitrais iluminam, colorem e encantam. Do teto pendem lustres de inúmeros cristais.


Moscou surpreende pela magnitude de seus verdes e cores que cobrem parques, jardins, praças e que integram 27% do território da cidade. O Parque Gorky é o maior do mundo com 5 km de extensão. O Álamo é a árvore que veste 80%, mas a Bétula é considerada a árvore símbolo do país.

No século XIII cento e cinqüenta mil habitantes da maior cidade do mundo na época eram letrados. Claro que não em todas as letras de um Guerra e Paz, de Tostoi, mas em dez verbos fundamentais. Extraiam a casca da Bétula e escreviam sobre ela. Com o tempo ela tornava-se flexível. Os pedidos de casamento, por exemplo, tinham que ser por escrito e a resposta também.

Moscou surpreende pelas suas amplas avenidas cujos automóveis transitam em alta velocidade. Não há sinais para a travessia de pedestres, pois há passagens subterrâneas. A cidade é plana, limpíssima (lavam as ruas e calçadas pelo menos três vezes ao dia) e sua colina mais alta está a 80 metros do nível do mar.

Letreiros luminosos, placas de sinalização, outdoors com palavras apenas no idioma russo, com suas letras tortas, algumas escritas ao contrário esbanjando consoantes.


Poucas pessoas, inclusive em bares, restaurantes, comércio em geral e até em hotéis falam outro idioma. Não há nada, no entanto, que uma boa mímica ou o dedo indicador não resolva.

Vinte centrais térmicas abastecem todos os domicílios, prédios, lojas comerciais, indústrias com água quente e o sistema de calefação e aquecimento dos ambientes. Pelos serviços de fornecimento de água (quente e fria), luz, telefone e gás em um apartamento de cem metros quadrados, o cidadão paga uma taxa de até o equivalente a trezentos euros ou doze mil rublos.

Moscou surpreende porque seus habitantes são plenamente ativos durante todo o inverno sob temperatura que chega a trinta graus negativos entre os meses de setembro a maio. Escolas, indústrias, comércio, construção civil e de estradas tudo funciona a pleno vapor nesse período.

Moscou surpreende pelos seus magníficos monumentos, catedrais, palácios, esculturas espalhadas pelas imensas e encantadoras praças, largos, calçadas, edifícios públicos e privados.

Pelas sete torres mandadas construir por Stalin nos anos cinqüenta para servir de referência à arquitetura da cidade que se reerguia após os avassaladores bombardeios da Segunda Grande Guerra contra os nazistas. Hoje estes gigantescos edifícios abrigam dois ministérios, dois hotéis (Hilton e Ucrânia), dois de apartamentos e um da Universidade.

Moscou surpreende pelo Memorial à Guerra Mundial com seus salões majestosos onde obras de arte da pintura e escultura reproduzem cenas das batalhas travadas. O Salão das Lágrimas, logo na chegada do Memorial, emociona pelos 2,5 milhões de cristais em forma de gotas que pendem do teto presas em correntes. Simbolizam dez por cento do total de russos que perderam a vida durante o conflito que durou exatos 1417 dias. Os nomes de todas as vítimas estão catalogados em 528 volumes, alguns destes volumes, expostos no salão.

Há na entrada do Memorial um monumento em bronze em forma de baioneta que mede 141,7 metros de altura. Cada centímetro representa dez dias de batalhas. Ao longo de toda a estrutura são reproduzidas cenas das lutas e os locais em que ocorreram. No alto, duas figuras humanas, um homem e mulher, exultantes pela vitória. A frente do monumento há, ainda, uma imensa escultura de São Jorge sobre seu cavalo, com a lança matando o dragão, que simbolizava os nazistas.

Muitos dos inimigos feitos prisioneiros só voltaram à Alemanha depois de dez anos terminada a guerra. Eles foram colocados nas obras de reconstrução do país ou em trabalhos forçados na Sibéria.

Moscou surpreende pelo seu Marco Zero: a Praça Vermelha. Para russos não é vermelha, mas BELA. Não há na língua russa a palavra BELEZA com significado único. KPACHAR, com o R invertido, quer dizer da cor vermelha e também significa “coisa bela”.

Ali está o Kremlin, que quer dizer fortaleza. Existem inúmeras cidades na Rússia que tem seus kremlins, porém no caso de Moscou recebeu significado histórico, militar e político especial. A área total de trinta hectares é cercada por uma muralha de seis metros de largura e 2235 metros de extensão e possuem quatro torres entre setenta e oitenta e cinco metros de altura que dão acesso aos inúmeros prédios existentes onde funciona a administração federal.

Circundando estes prédios belíssimos jardins ostentam flores e folhagens ornamentais e (pasmem) pomares com pés de maças verde e vermelha, ameixas, cerejas, amoras, peras.

A Praça das Catedrais, dentro do Kremlin, com suas quatro edificações exuberantes que foram vandalizadas pelos comunistas. Destaca-se a Catedral da Anunciação, local onde foram coroados todos os Czares, de Ivan o Terrível (1537 a 1582) até o último Nicolau II (1895 a 1917), quando ocorreu a revolução que implantou o comunismo no país. Nicolau II, toda a sua família, seus parentes mais próximos e aliados foram fuzilados por ordem de Lênin.

A Catedral da Anunciação recebeu o símbolo da Terceira Roma: a primeira, a própria Roma; a segunda, Bizâncio e a terceira, Moscou. Badalam, até hoje, vinte e seis sinos. O principal deles, na torre central da catedral, pesa sessenta toneladas.

Moscou foi capital da Rússia desde a sua fundação até quando Pedro o Grande, nascido na cidade, para integrar a Rússia aos demais países da Europa pelo Golfo da Finlândia, construiu São Petersburgo, transferindo para lá a capital.

Depois da revolução de 1917, Lênin voltou a tornar Moscou a capital. Para ele uma capital não podia, estrategicamente, ficar a 34 km da fronteira com outro país. Em caso de guerra o inimigo teria mais facilidade em eliminar as comunicações com o centro nervoso do poder.
Lênin tinha razão. Durante a II Guerra, Moscou cobriu com lonas todos os seus edifícios ícones, do Kremlin ao Teatro Bolshoi para não serem identificados e destruídos pelos nazistas.

Escrevo este post a bordo do avião que nos leva de Moscou à Londres, onde faremos escala para São Paulo e de lá para Belo Horizonte. Sinto-me um tolo. Todos os passageiros dormem ou vêem filmes de ação, drama, comédia. Estes parcos registros podem ser encontrados com maior fidelidade na web.

Ocorre, porém, é que Moscou faz parte do imaginário de minha juventude. Representava o império do mal. Era uma das palavras malditas, proibida de ser usada no âmbito da FAFICH. A cor vermelha era perigosa e tudo que se referisse à Rússia era rechaçado.

Hoje ainda há algumas estátuas e bustos de Lênin, Karl Marx e Engels. Alguns anos atrás estes monumentos eram vandalizados. Hoje os jovens russos não se interessam mais por esta parte de sua história. O Partido Comunista é irrelevante no jogo e o seu jornal Pravda sequer é encontrado para compra.

O fato é que, mais uma vez sinto-me brindado pela vida que me permitiu estar aqui. Assistir ao balé “Dom Quixote” no Teatro Marinski em São Petersburgo onde, no passado, performaram Nureyev e Baryshnikov, a uma ópera de Vagner no teatro Bolshoi e ao espetacular balé  folclórico no Grande Teatro Mokana, foram emoções eternas.

Eternas como o olhar que flagrei de uma jovem que passou por mim faceira sobre seus saltos altos, em uma cidade qualquer da Escandinávia ou da Rússia.



Quimeras, quimeras... Mas a beleza fala por si.


Até breve.

5 comentários:

  1. Como somos bitolados. Tinha a visão que Moscou era a cidade dos comedores de criancinha e agora vi suas belezas e fico provocado a ir ver de perto. Beijos

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  2. uso deste espaço para falar da LIZ neste primeiro ano de vida ....

    Дедушка люблю вас, ребята Мой первый год был очень хорошим.

    Lizete (liz)

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  3. Quantos mundos há neste mundo??
    Pergundo isso quando me deparo com culturas diversas.
    E com o nada se sabe em um dia, uma volta, uma ida.
    Diversidade, magnifica diversidade de ser e sobreviver.


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    1. Olá, Isabel. Espero que tudo esteja bem contigo. E com Dona Ana também. Me evadi, literalmente, do FB. Hoje zapeando minhas páginas aqui deparei-me com seu comentário. Coisa boa, sô. Grande beijo, querida.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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