Gostaria de pinçar dos jornais
televisivos da noite de ontem duas matérias que me fizeram refletir.
A primeira diz respeito a uma breve
entrevista com um dos meninos DASPUC
integrante do MPL logo após a notícia de que o Estado havia decidido reduzir de
R$3,20 para R$3,00 a tarifa de ônibus da cidade de São Paulo.
Jovem iluminado e de um discurso
breve e contundente, o rapaz interpelado pela repórter como um dos líderes do
MPL foi logo dizendo: “Olha, deixe-me
esclarecer um ponto. Eu não sou líder do MPL mesmo porque o MPL não tem
lideranças. É um movimento horizontal”.
Observando as análises dos
noticiários em diferentes emissoras e especialmente da TV Cultura de São Paulo
fiquei estarrecido com a visão de alguns analistas. Será mesmo muito difícil, para
alguns, olhar para a nova era sem ser pela perspectiva de que a sociedade só
funciona dentro de uma organização hierarquizada, portanto, verticalizada.
O que a boa maioria entende é que o
que se passa nas ruas está sob o controle e gestão de uma estrutura organizada
nos moldes convencionais e que, uma vez deliberadas ações em seu âmbito,
deveriam encaminhá-las aos meios institucionais disponíveis.
Explicando-me melhor: para alguns
analistas dos fatos, os meninos da DASPUC,
líderes, portanto Chefes do MPL deveriam encaminhar assembleias nas praças
com centenas de milhares de pessoas, tirar uma pauta de reivindicações e ir, em
comitiva, aos palácios para abrir negociações.
Eu posso estar enganado com o que o
menino da reportagem quis nos trazer. O movimento que está nas ruas é
horizontal, linear, aberto e por si próprio será capaz de encaminhar demandas
que, se não atendidas, só o tempo dirá o que poderá advir.
A outra matéria que destaco diz
respeito à prisão do jovem que teria “liderado” a tentativa de invasão da
Prefeitura de São Paulo. Estudante de Arquitetura, filho de empresário do setor
de transporte, sem nenhum vínculo com o MPL foi um dos que mais depredaram a
fachada do edifício sede do município.
Permito uma análise superficial do
fato, prefiro acreditar assim. Esse menino não quis atingir o patrimônio, a
edificação, o prédio. Como futuro arquiteto ele sabe da importância da história
carregada pelos prédios antigos. Esse menino não quis depredar “a coisa”, mas o
que ela representa. Ele me parece, não se debatia com o concreto, mas visava o simbólico:
a Instituição Política que a casa acoberta.
Sei que grosseiro, mas tiro destes
dois dados, um paralelo. Se bem entendo o que está nas ruas, e é preciso que se
desenvolva, é um novo modelo de relações sociais de poder de governança.
Deliberar não deverá permanecer como um ato solitário de um governante
respaldado por estruturas institucionais, mas algo que deverá ser trazido aos
principais afetados para que se estabeleça a melhor decisão.
Como? Nós nunca fomos capazes de
criar um problema que não fossemos capazes de resolver. Especialmente agora que
podemos nos comunicar instantaneamente através das extraordinárias redes
sociais. No futuro, quem sabe, o verdadeiro veio de debate e exercício
democrático de gestão da coisa pública.
Os edifícios hoje apinhados pela
burocracia anacrônica, dispendiosa, incompetente dariam seus espaços a museus,
teatros, espaços de convivência...
Apinhados de arte e arquitetura.
Acho que foi isto que os meninos
cranearam. Morrerei de inveja deles se eu tiver razão.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário