domingo, 9 de junho de 2013

PENUMBRA


Hibernei coração e neurônios endereçados à posts. Centrei anima na conclusão do projeto de reflexão estratégica e modelos de liderança em empresa de distribuição de energia. Sem trocadilhos.

Esta semana foram dois seminários (dois dias cada) e um workshop (um dia inteiro). Dentro dos seminários conduzo uma dinâmica que remete à ética e a competência em comunicação.

Havia algum tempo que não conduzia seminários desta natureza e, assim, não aplicava essa dinâmica. Saí de cada uma delas bastante angustiado na medida em que, por privilégio da isenção daquele que facilita o processo, assisti a explicitação da nossa miséria.

Por força de circunstâncias de diferentes matizes moldamos nossa estrutura em função dos personagens que representamos na vida. Construímos um discurso que se adapta a conveniência, que se ajusta às cenas, palcos, coadjuvantes. Adaptamo-nos.

Ocorre que o que somos grita mais do que aquilo que falamos. Não nos apercebemos quanto somos traídos no discurso pela nossa conduta incoerente. Uma coisa é o que eu digo, outra coisa é o que sou e por consequência, faço.

A dinâmica expõe cada participante a si mesmo e, com tal intensidade, que a mim induz a constatação contundente de nossa miséria. Primeiro não nos sabemos, acreditamos saber do personagem que representamos e, por força, acabamos nos perdendo naquilo que efetivamente nos propomos a ser.

Daí nossa miséria. E, como decorrência, não vemos o outro com o qual convivemos. Literalmente. Nossa comunicação é autocentrada a ponto de não ouvirmos, na melhor acepção do verbo, aquilo que vem dos outros. O outro não existe.

Mesmo que reduzindo à minha mediocridade não admito espaço aos outros. Mesmo que ele traga inúmeras outras configurações, permanecerei soberano em meu ponto de vista. Miséria.

Como se o acaso soubesse assisti ontem ao filme MISERICÓRDIA. No Wikipédia você encontrará: “Misericórdia é virtude que leva-nos a compadecermos da miséria alheia. É a junção de miséris (miséria) e córdia (coração)”.

Cada um dos personagens encobre uma falta, um segredo, um acidente do qual foi o causador, com consequências sobre outros. O filme se passa durante o inverno no ártico, em Kiel, onde o sol não aparece todos os dias ao longo de meses, me levando aqui ao simbólico.

Serei eternamente grato às pessoas que viveram comigo a experiência nos seminários, que se permitiram servir a mim para que eu pudesse servir a elas. No final do Workshop, ao me despedir dos participantes (quase duzentos presentes) lembrei-me de Vladimir Maiakovski. “Minha mãe me pergunta como posso ser revolucionário se não sou capaz de matar uma mosca. Eu a respondo: sou revolucionário porque luto por um tempo em que não me coloque na situação de ter que matar uma mosca”.

Há um poema dele em que diz: “Em algum lugar do mundo, acho que no Brasil, há um homem feliz”. Ao longo da realização dos seminários achei-me como se fosse esse homem. Feliz por ter me sentido verdadeiramente útil a outrem.

Como se não bastasse o acaso, no dia 07 de julho próximo embarcamos para a Escandinávia para uma viagem de 24 dias. Uma das cidades a serem visitadas é Kiel e estaremos também em Moscou. Lá visitarei o túmulo de Maiakovski.



Até breve.

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