A quem foram endereçadas as vaias
de ontem no majestoso estádio de Brasília, quando da abertura da Copa,
repreendidas laconicamente pelo presidente da FIFA como falta de fair play?
A quem? À pobre mulher de trejeitos
palacianos que representa a figura tosca de um poder que agoniza, estéril e
frágil, aqui como em qualquer outro limite territorial que ainda insistimos em
nomear como país ou, se preferirem, nação?
As vaias foram para Dilma, aquela
pessoa, refém de suas circunstâncias históricas, que vive solitária em Alvorada
trocando confidências e segredos com suas anciãs (mãe e tia) de confiança?
Ou as vaias foram para os um bilhão
e trezentos milhões de reais aplicados na construção de um estádio em uma
cidade que não tem campeonatos de futebol e nenhum time nas categorias
principais? Ou quem sabe para os excedentes lavados na corrupção da licitação e
execução de mais uma obra produto de nossa esquizofrenia?
Fora do estádio, cena que lembrou
1970 por ocasião da Copa do Mundo de Futebol no México: Brasil de 90 milhões em
ação, Médici e o período de maior repressão da ditadura militar. Triste cena de
policiais montados em cavalos cercando sumariamente manifestantes movidos por
uma invejável e desesperada ilusão.
As vaias, as manifestações públicas
recentes, o alarido vindo das ruas, inclusive agora também do belo
horizonte são de alcance maior.
Há um esgotamento. E eu o vejo em
Istambul, em Paris, em Londres, em São Paulo e em tantas outras cidades trazido
muito para além dos vinte centavos de reajuste no preço da passagem de ônibus.
O esgotamento é de Modelo. Se nos prendermos
à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que observamos é a
falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos um tempo de
trevas envolto em celofane de cores púrpuras.
Nós construímos um beco.
As vaias devem ir em direção de
espelho para encontrar algum eco que nos mova. Nossa alienação, nosso descaso,
nossa negligência, nossa omissão, nosso egoísmo, nossa empáfia, nossa miséria
relacional é que merecem vaias.
O que está aí é exclusivamente
produto de nossa mais abominável conduta. Que ninguém de consciência se isente.
Se é que tem saída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário