domingo, 16 de junho de 2013

ALVO


A quem foram endereçadas as vaias de ontem no majestoso estádio de Brasília, quando da abertura da Copa, repreendidas laconicamente pelo presidente da FIFA como falta de fair play?

A quem? À pobre mulher de trejeitos palacianos que representa a figura tosca de um poder que agoniza, estéril e frágil, aqui como em qualquer outro limite territorial que ainda insistimos em nomear como país ou, se preferirem, nação?

As vaias foram para Dilma, aquela pessoa, refém de suas circunstâncias históricas, que vive solitária em Alvorada trocando confidências e segredos com suas anciãs (mãe e tia) de confiança?

Ou as vaias foram para os um bilhão e trezentos milhões de reais aplicados na construção de um estádio em uma cidade que não tem campeonatos de futebol e nenhum time nas categorias principais? Ou quem sabe para os excedentes lavados na corrupção da licitação e execução de mais uma obra produto de nossa esquizofrenia?

Fora do estádio, cena que lembrou 1970 por ocasião da Copa do Mundo de Futebol no México: Brasil de 90 milhões em ação, Médici e o período de maior repressão da ditadura militar. Triste cena de policiais montados em cavalos cercando sumariamente manifestantes movidos por uma invejável e desesperada ilusão.

As vaias, as manifestações públicas recentes, o alarido vindo das ruas, inclusive agora também do belo horizonte são de alcance maior.

Há um esgotamento. E eu o vejo em Istambul, em Paris, em Londres, em São Paulo e em tantas outras cidades trazido muito para além dos vinte centavos de reajuste no preço da passagem de ônibus.

O esgotamento é de Modelo. Se nos prendermos à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que observamos é a falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos um tempo de trevas envolto em celofane de cores púrpuras.

Nós construímos um beco.

As vaias devem ir em direção de espelho para encontrar algum eco que nos mova. Nossa alienação, nosso descaso, nossa negligência, nossa omissão, nosso egoísmo, nossa empáfia, nossa miséria relacional é que merecem vaias.

O que está aí é exclusivamente produto de nossa mais abominável conduta. Que ninguém de consciência se isente.

Se é que tem saída.



Até breve.

NOTA: Veja matéria em ADESÃO

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