domingo, 26 de maio de 2013

ESFINGE


Sempre achei que a Vida surpreende.

Assim: eu de repente entro numa de potencializar determinados contornos e fico neles por um tempo. Aí surge algo que desnorteia, pondo outros emboramentes que desconcertam o espírito. É desse jeito, se alguém me entende.

Tava bonito prá mim, de conforme, que eu ficasse por aqui, nesses escrevimentos de posts, cuidamentos essenciais de Noninha, mais uma coisinha ou outra qualquer para encher o tempo de alegria e sentido. Fiz até diálogos com a netinha, antes mesmo dela chegar, como se já tivesse cinco ou seis anos de idade. Foi bom de um tanto. Lembro que o último diálogo foi exatamente no dia anterior à sua real chegada, como se eu já soubesse.

Sempre achei que a Vida surpreende.

Um dia me encontro com alguém e surge aí uma retomada a palcos distantes que eu, confesso, num tava muito de querendo reocupar. Num é por nada não, só num queria. Se bem que agora, eu tô achando que sei de um pouco dos porquê. É que dói quando vivo esse palco.

Observo de um lugar do privilégio as pessoas sendo-se. Ou da dificuldade de. Se você não sacou ainda, falo da perspectiva de mim enquanto facilitador de seminários. Dói, e muito.

No fundo, não dói por elas não. Dói mesmo é por mim. Constatar minha miséria assim de forma tão explícita, nos sendos dos outros. E olha que muitos, muito melhor aparelhados do que eu próprio nas descobertas. Até pela idade, pelos cursos já frequentados, história familiar, oportunidades.

No final de cada seminário eu me sinto como traste. Tá mesmo muito difícil deixar a moenda, acho até que num tem mesmo saída para alguns, maioria talvez. A mecânica da rotina e da massificação dos queros e dos precisos e dos tenhos-quê vai mesmo tirando os porquê, os paraquê. Toma curso de repetição. Aliena.

É só de vê quando envolve constituir família. Outro dia lá no Txai, conheci um empresário bem sucedido que, como eu, se tornou avô recente. Disse-me que neto é lucro. Até nos afetos o vil metal vitima.

Ninguém é mais para. Todo mundo é por. Por assim, de preço. A vida ficou sobrada no ter por ter, inclusive de marca, para ser. Como todos. Senão frustra tanto que leva até à consultórios, como fracasso.

Sempre achei que a Vida surpreende.

Esta semana ouvi de uma amiga que falou, assim no vazio, pouca gente que estava perto ouviu ou quis ouvir: “Essa relação sua com a Liz é muita estranha, vocês não acham não?”

Vou precisar de muito tempo para me refazer destes transtornos recentes porque nem a História sabe mais se estamos mesmo diante de estúpidas repetições ou de algo tão absurdamente inédito, por afrontar o óbvio, que mereça destaque em homenagem ao desatino.

Seja por que for a Vida me surpreende. Esta semana, de muito.



Até breve.

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