Tive três filhos, hoje uma neta. Escrevi
impublicáveis seis livros, plantei inúmeras árvores.
Vivi em mais de duas dezenas de
moradas e em boa parte delas empreendi reformas ou quase as reconstruí.
Edifiquei uma delas cada centímetro em terreno de dois mil metros quadrados.
Comi cereais, frutas, legumes, carnes,
verduras. Bebi líquidos, inclusive os etílicos.
Joguei bolas de pano, de plástico,
de couro e me neguei a receber outras enodeadas em vil metal.
Trepei, inclusive em árvores.
Visitei dezenas de países. Voei em
aviões, helicópteros, balões. Naveguei em botes, barcos, escunas, lanchas.
Dirigi automóveis por estradas tantas. Andei.
Senti cheiro de minha infância aos
quarenta e dois anos de idade, quando visitei a cidade com o meu pai, onde ele
havia nascido há oitenta anos.
Falei para mais de uma centena de
milhares de pessoas em Congressos, palestras, Programas de Desenvolvimento, aulas
acadêmicas, reuniões, convenções e que tais.
Escrevi centenas de posts. Fiz
alguns amigos.
Amei uma única mulher.
Nem por isto me tornarei imortal.
Ocorre que daqui a mils anos a
bordo de embarcações interestelares, algo ou alguém fazendo uso de recursos da era
deparará com registros cibernéticos de fragmentos rudimentares em época próxima
a da extinção do micro planeta azul. Teria sido milhares de anos o instrumento
da transferência de conhecimento daquela pobre civilização: a escrita.
E entre os zilhões destes registros
o ser intergaláctico acessará o dasletra
e o fará em nanosegundos.
É que hoje quando acordei, bem
cedo, deparei-me com uma densa neblina encobrindo toda visão a um metro fora
das portas de vidro do meu quarto. Fui para a varanda e deliciei-me com a imagem
e tive uma sensação, imbecil como este post, de estar nas nuvens.
Minutos depois, por força do
deslumbrar do sol, já tendo dissipado boa pare do fog luziense que encobria o
verde extenso da mata defronte, resolvi clicar uma foto.
O registro durou nanosegundos.
Até breve.
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