É claro que entre a insanidade
perversa de norte-coreanos, sírios e outros satrápias em atividade e a
democrátia ítalo-burlesca ou esculhambação geral tupiniquim eu prefiro uma
terceira alternativa. Estou como Leonardo Boff: eu prefiro acreditar ainda ser
possível.
O que me faz crer, por exemplo, é o
singelo comentário pelo qual eu fui brindado em LEROLERO por um anônimo leitor.
Ele me provoca com duas questões pelo menos: “Cada um tem a sua verdade, não é”? E, ainda: se eu me lembro
dAquele, que separou a contagem do tempo.
Alguém que nos legou: “Eu sou a Verdade e a Vida.” Ou: “Vinde a mim as criancinhas, porque delas é
o reino dos céus.”, não é para viver na esfera da lembrança ou do
esquecimento. O verbo se fez carne e habitou entre nós é prática, não discurso
de fervor.
Quando com Noninha, o Reino se
mostra todo na ingênua, desabida, cândida e eterna pureza de alma. A infância é
o lugar para onde deveríamos reafirmar nossas certezas e nosso caráter. Ali
fomos essencialmente puros.
Depois de “no futuro todos nós
morreremos”, “cada um tem a sua verdade” é a mais contundente de nossas
certezas conscientes. Talvez resida aqui o nosso martírio. Temos que com viver
com outra verdade que não é a nossa. O demônio é o outro.
Hoje é 4 do 4. Se colocarmos um
numeral ao lado do outro dá 44. Pois é, completo hoje quarenta e quatro anos de
com-vivência-com ELA. Na microfísica do poder é que nos descobrimos ou não
democráticos.
No meu caso a vida me colocou
diante de alguém cujo nome significa “verdadeira luz”. Pode provação maior? Ela
exerce na plenitude e faz jus ao nome. Ela sabe tudo e dá conta de tudo. Tudo
que não seja a partir dela não é. Assim, simples.
A convicção dEla confirma a tese do
anônimo leitor. Ela tem uma verdade demoníaca. Ponto.
Inúmeras vezes em convívio social
eu tive vontade de ir para debaixo de mesas, pular janelas, evadir por
corredores, pegar o carro e voltar sozinho. Ocasiões que Ela mira em um
adversário para criar polens, ou seja, polemizar. Sobre qualquer assunto, de
qualquer natureza, ela cai de cabeça. E o pior, com argumentos.
Um porre!
Com tudo isto, por que então volto
para Saigon?
Ontem à noite vacilei e Ela tomou
posse do remoto controle. Sentou-se primeiro do que eu diante da TV. Minha
intenção era ver los hermanos dar uma papada na cachorrada. Ela zapiou para o
Jornal da Cultura, que ontem bateu o SBT ficando em terceiro lugar no IBOPE.
Depois do Jornal eu pensei: qual filme vai passar na Mostra Internacional do
Cinema? Para minha alegria foi: Hanami – Cerejeiras em flor. Já vimos este
filme inúmeras vezes, portanto, claro que eu teria chance de ver a papada.
Ela zapiou e parou no Canal Brasil e
deixou o remoto controle sobre o sofá, como se me dissesse: “Tira daí, duvido.” Estava começando Palavra
Encantada, de Helena Solberg. Um documentário ma-ra-vi-lho-so, que
trata se letra de música é poesia e se poesia fica mais rica ao melodiar. O
trecho com Lenine é impagável quando ele diz que em nossa língua brasileira
temos sete vogais: a, ê, é, i, ô, ó, u. Para um modesto palavrador é bálsamo.
Por isto e por muito mais volto
para Saigon, porque há uma terceira verdade: “Eu sou sujeito de minha liberdade
e ela só se torna possível e mais rica com o outro”.
É de ontem também algo que se passa
no Reino: Caretas.
Até breve.
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