Não, não vou mais esperar grandes
acontecimentos, grandes gestos, grandes transformações. Vou ficar na minha.
Nada, de fato, vai acontecer. Talvez nada seja muito, prefiro então supor que
se acontecer será pouco. Melhor assim.
Dizem que grandes homens não são
aqueles que amam a humanidade, mas sim ao homem. Isto quer dizer que, contrário
à ideia de se propagar utopias revolucionárias, você deveria estar
preocupando-se com seus mais próximos.
Do tipo: ficar aí intelectualizando
ou racionalizando a razão dos fatos, criticando comportamento político amoral
deste ou daquele, questionando atos legislativos, judiciários ou executivos não
tem nenhum valor efetivo.
É como montar a escalação de seu
time sem ser o técnico. Muitos dos que lhe ouvirem irá concordar, mas nada vai
acontecer a partir daquilo que você inclusive urrar, tirando as calças e
pisando nelas. Na partida do próximo domingo, Feliciano aquele centroavante que
você abomina vai ser a escolha do treineiro e cartolas e continuará fazendo
parte do time.
Se você se unir a outros
torcedores, igualmente inflamáveis, for para a porta do estádio e munido de
bandeiras e cartazes com FORA FELICIANO, QUERO BOLAS DENTRO ou coisas do gênero,
no máximo que você vai obter é seus quinze minutos de celebridade em programas
de esporte da TV de meio de tarde, ou páginas policiais de jornais dependendo
para a onde a coisa degringolar.
Então, quer dizer que esse negócio
de democracia é balela? A manifestação livre da vontade não tem eco? Também não
precisa esculhambar, não é? Claro que há democracia, só que democracia é desse
jeito mesmo. Onde todos podem cada um pode menos até todos não poderem nada e
sobrar para poucos mais capazes. Sacou?
Eu sei que não, por isso que estou
achando melhor deixar como está. Todos que subirem vão querer mudar para ficar
do mesmo jeito. Seu centroavante, esse que você acha que meteria bolas dentro
de montão, uma vez no time pegaria o mesmo chiste e você teria além de decepção
um tremendo de um mal estar estomacal.
Dane-se então, para não ser
grosseiro e dizer: foda-se, então? De novo, não. Sobra a sua vidinha para dar
jeito, cara. Lá vou eu deixando o macro para entrar no micro. Esquece, deixa
prá lá.
Ontem, fui à padaria com Noninha no
colo. Na porta da padaria havia um homem deitado sobre papelões, envolto em
seus miseráveis pertences. Ele dormia encolhido e suas vestes rasgadas o
deixavam semidesnudo. Passei por ele e Noninha o fitou surpresa, voltando o
rosto e gesticulando como se quisesse que eu parasse para ver mais
demoradamente aquele homem desnudo, jogado sobre papelões, explicitação da
miséria humana.
Noninha fez oito meses de idade no
último dia primeiro. Eu acho que ela já enxerga.
Qualé a minha?
Até breve.
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