Num é não. Como se fosse só assim.
Num é mês. Desse jeito que eu pus aí prá trás. Fosse só assim era de um ruim de
todo. E num é não. Num é mês.
Aquele primo pros lado de pai, que
me levou ao encontro de Torrellano BAJO, foi quem, de novo, me mostrou ôtros
porém.
Eu conto: ele é médico de vista.
Dia desse Lé, meu filho mais véio, me ligô dizendo que tava com uns vermeio
nos óio e pidiu prá mode eu levar ele no primo. O primo, na hora, foi dizendo: “Trás aqui que eu óio agora”. Lá no
cunsultório ele me cunvidô prá mode de tá nuns trem que ele ajeita prá mais de
uma penca de anos. Ele e outro primo, irmão dele.
Aí eu topei na hora. Siguinte: esse
meu primo sempre teve um sonho. Vivê de música, mais aí ele fala que o pai foi
quem num deixô e ele acabô virando dotô. E dos bão, mais ficô pôco e ele
bandeou pro sonho com uns tanto de amigo do tempo de minino junto com o irmão,
tumbém cantadô.
Homão, que nem meu irmão dois ano
mais véio que eu, bruto mais com um coração que escorre toda hora pelos óio.
Prá mais de vinte ano ele ajuda no tudo uma cumunidade lá pras banda de Mateus
Leme, Azurita. É lá que ele é gente e chama um mundaréu prá ser com ele.
Foi aí que eu fui, eu mais Ela,
onte despois do armoço.
Prá juntá dinheiro para dar de
ajudá os ôtro da cuminidade ele levantou tudo quanto é parede caída, teiado
furado tampô, deu de pintá e até ficá uma belezura só a Associação que é donde
as coisa cuntece.
Lá eles arruma um professô de
música e põe um monte de criançada para fazer arte de pura. E num só música
não. Tem cômudo de livro e tumbém esses negócio de representá uns trem tumbém. Ano
passado eles teatraram Os Saltibancos e, ainda, O Mágico de Ós. Quem viu deve
ter oiado esse meu primo, sentado nas primeira cadeira do teatro da Associação,
se acabando de tanto chorá desde que começô até quando acabô a coisa.
Só que esse tudo dá um trabaião e
prucisa de dinheiro prá ficá botando nessas coisa toda. Aí ele vendeu ingresso
prá quem comprasse fosse num trem que ele ajeita todo ano. Ontem foi o quinto.
Uma belezura de num pô tamanho. Eu
fiquei fora de mim. Trem de doido. Cantoria de mais de duas hora no teatro da
Associação. Meus dois primo e os amigos de minino: Márcio Greyck, Celso Adolfo
e Lula Ribeiro. Tudo de espontâneo e doação pura.
Junto com eles teve um ôme, Flávio,
tocadô de viola que cumpanhou Cartola pelo Brasil afora e ôtros de mesmo
quilate e uma moça de nome Jú, flautista que mais parece anjo.
Teve ainda ôtra moça vinda dos
cafundés da Sérvia que junto com o marido, ela com viulino e ele com viola de
oito corda, deixô com as mais de duzentas pessoa que bobeavam de tanto, umas
música e, entre elas, La Cumparsita. Se meu pai tivesse lá, murria de novo.
Teve ainda uma muié com a parentada no palco cantando tumbém uma música que ganhô
num festival aí num sei donde.
Num é não. Como se fosse só desse jeito
que eu pus aí acima. Fosse assim era de um bão tão grande que a alma já tava
cristalina. Só que foi mais.
Fomos um mundareu, uns cinquenta,
depois do chô para a fazenda do primo. Já era prá mais do meia-noite e tanto.
Frio bom de quentá com vim, cerveja, branquinha e visk. Tudo dos bão, com mesa
cheia de tudo, salgado e doce. Tudo sobre tuáia de renda mostrando que meu
primo tem com ele aprumada de Lili, sua dona e das minina, fias dês, Marcela e
Ana.
E lá a coisa cuntinuô e eu mais Ela alumiamo até quase
quatro da madruga, como se não fosse pôco. Aí me lembrei do tempo de minino,
quando a gente tava sempre junto nos final de sumana. Juntava um monte de
parente, tudo dos lado da famía do meu pai, e cada um fazia sua arte. Uma
beleza!
Marcelo, Chiquinho, Maurinho,
Márcio e Mária Lúcia, meus primos. Maria Lúcia, Chiquinho e Maurinho há trinta
anos não nos víamos. Ontem, quando nos encontramos foi do mesmo jeito que há
cinquenta anos atrás ou mais.
Na saída da fazenda, na madrugada
fria e escura, Maria Lúcia despediu-se de mim, com um longo, afetuoso e forte
abraço e disse:
- Lozinho, eu te amo muito... Muito... Muito...
O sangue sempre estará nas veias.
Marcelo e Chiquinho ontem me encheram de orgulho e me fizeram esquecer o feio.
Até breve.
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