Todo dia devo agradecer à Vida.
Envelhecer é, essencialmente, significar o que resta.
E eu tenho sido privilegiado a cada
instante procurando olhar e sentir com gosto cada experiência. Por mais
aparentemente insignificante cada dia vai tomando contornos. Nada passa sem
servir como oportunidade ao sorver.
Cada copo d’água, cada prato com arroz,
feijão, lombo de porco, quiabo, couve. Cada copo de cerveja. Cada palavra, cada
trepada, cada olhar nos olhos dessa mulher. Cada rega nas rendas portuguesas
que se debruçam no jardim vertical de parede de nosso apartamento.
Cada segundo passado com Noninha,
seus olhos de jabuticaba e imensa extensão e suas recentes caretas. Cada
trocada de fraldas, cada visita ao cachorro da casa vizinha. Cada parada ao transeunte
festivo que, invariavelmente, pergunta: “É sua neta”?
Chegou poucos minutos depois de ter
ligado no celular dizendo que estava trazendo duas garrafas de Moet &
Chandon Impérial para iluminar nosso tricô.
Essa amiga, misto de fragilidade e
dependência extrema com ousadia e força para encarar mega negócios
empresariais, homens e família, sempre nos arrebata. Nosso espaço fica pequeno
para dar conta de sua grandeza. Ela é muito. Sempre.
Suga-nos sem rodeios e cuidados.
Faz do afeto gratuito alavanca para poder tratar de tudo no emaranhado do fiar
da prosa. Vai de um assunto a outro, diz palavrões catárticos com tal
intensidade que, quem está próximo, sente arrepios. Depois se recolhe e escuta
com gesto de acolhimento e interesse de aprendiz atento.
Dá gargalhadas histriônicas, move a
cabeça para um lado e para outro, abraça com as mãos mechas de cabelos
deixando-as em desalinho. Senta-se com as pernas em posição de ioga,
levanta-se, pula, inquieta, elétrica, quase louca.
Não é verdade que nossos tricôs já
repetem seus moldes. Embora falemos invariavelmente sobre o mesmo: a obra dos
sonhos, os filhos e netos, o amor, o sexo, o mundo das viagens internacionais,
os quereres e os fazeres o que é invariavelmente intenso e a cada dia torna-se
maior é o prazer do convívio.
Começa a despedir-se sempre duas
horas antes do momento que efetivamente ocorre o desenlace. Abraça-nos efusiva
e sempre diz: “Eu tenho que ir embora. Um
beijo”.
Quando ela nos deixa, portadora de
lucidez ébrica, fica sempre para nós dois um feixe de reflexões trazidas por
esta querida amiga.
Rica. Avassaladoramente rica.
Ate breve.
É muito interessante ler de sua própria pessoa escrita por um amigo tão querido...Será que é muito transparente minha fortaleza e minha fragilidade?Será que também é, meu amor pela vida e pelos que amo?Tento levar a vida com muita seriedade , muita justiça,muito riso e alegria;pois consigo ser brava e batalhadora com todas as diversidades que cruzam meu caminho e saio sempre falando:É POSSÍVEL!!!
ResponderExcluirSou lutadora , sou vencedora e sou RICA por ter amigos que valem uma fortuna!!!
Quero sugar mais da vida e estar mais junto das pessoas que amo.
Quero ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.A LOUCA
Em recente viagem ao Peru que fizemos, Ela e eu, paramos inúmeras vezes à beira de estradas ou em mirantes. De lá avistamos vales intensos com suas configurações rochosas exuberantes. Adorava sentir o som de meus gritos reverberar na imensidão. Brigado, querida, pelo retorno.
Excluir