Korea (médico obstetra de
Pretinha), com a calma que lhe é peculiar, fazia o exame de ultrassom e tecia
comentários sobre o que via até que: “É
menina!” Pretinha havia me deixado um convite para estar junto com ela
durante o exame. Era o dia 27 de fevereiro de 2012.
Exatos doze meses ou um ano atrás
eu recebi um dos presentes mais expressivos de toda minha vida: a constatação
“in loco” que eu seria avô de uma menina. Naquele dia eu estava completando
meus sessenta anos de idade.
Noninha passou a ser minha musa
inspiradora mesmo antes de nos chegar em 01 de agosto. Alguns acham inclusive
que tanta menção à minha netinha não passa de pura tolice. Escrever histórias
absurdas com alguém que sequer havia nascido, voar de balão, estacionar para
dormir na lua e tantas outras viagens.
Há, no entanto, aqueles que
acompanham com interesse minhas nuances colocando Noninha como um ícone: o
futuro. Paralelo com o que se passa, denúncia explícita das inúmeras
barbaridades da nova época.
De fato os dias têm me deixado com
as peles mais grossas. A da alma e a do corpo estão menos permeáveis a
deslumbramentos de qualquer natureza, o que de certa forma me entristece
sobremaneira.
Esta mudança de época que estamos
presenciando, fundada na decadência abissal das instituições que foram moldadas
durante centenas e centenas de anos, me assusta e me enrijece o espírito.
Eu deveria estar cuidando dos meus
afazeres mais imediatos, das minhas questiúnculas do dia-a-dia, da busca
frenética e incessante do vil metal para manter meus trens e aparências. E não
estar “sofrendo” por Sírias distantes porque ali mais de cem vidas por dia
estão sendo eliminadas e refugiados estão cavando grutas nas encostas de
montanhas para esconderem-se de bombardeios.
Eu não tenho nada que ficar ocupado
com o afastamento do representante simbólico da figura do Cristo, e não ligar a
mínima para o desmoronamento grotesco de Algo que mudou a contagem do tempo
ocidental.
Eu não deveria estar preocupado com
Itálias disputadas por máfias berlusconianas ou por comediantes, fazendo do
Estado pilhéria. Assim na França, no Egito, na Grécia e, por que não dizer
também, do lamentável glamour de Michele ao saborear um recado ao Irã inimigo.
Argo! Arrrqqq!!!...
Eu não deveria ainda me ocupar com
nosso lugar. Nas caminhadas matinais, entre as sete e oito horas da manhã,
observo as pessoas disputando em frenesi vagas para estacionarem seus carros. É
trágico. Sinal do esfacelamento da urbanidade.
Ao completar hoje meus sessenta e
um anos de idade eu estou certo que devo seguir meu trote solitário.
Vou continuar com minhas toLizes.
Até breve.
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