segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DRAMA



Assistimos ontem à De Coração Aberto, com Juliette Binoche e Edgar Ramirez.

Eric Nepomuceno entrevistador no programa do Canal Brasil Sangue Latino sempre indaga aos seus convidados qual a função da arte, ou para que serve a arte. Em um destes programas, por exemplo, Ney Matogrosso respondeu que a arte teria o salvado da loucura. Não fosse o palco, onde ele extravasa todo o seu drama, ele estaria louco.

Mila e Javier são jovens, casados há dez anos. Experimentam uma relação intensa, transam o tempo todo, riem muito, fazem piadas, visitam lugares proibidos de madrugada e esbaldam-se em festas com amigos.

Até quê.

Javier tem o seu quadro de alcoolismo intensificado e é denunciado à direção do hospital onde trabalha. Mila descobre que está grávida. Ambos são cirurgiões cardíacos, trabalham em plantões o que implica em alto nível de stress.

É dramática a perspectiva de ser para o outro, saí do cinema com esse incômodo. Por mais rica, alegre, intensa que seja a relação em algum momento vem à tona o limite. Ninguém consegue suportar o drama alheio, do amor ao ódio e depois ao amor e ao ódio e depois ao ódio e ao amor, e ao ódio, ainda. E ao amor.

Sempre o outro surpreenderá com suas origens e seus quereres, suas fragilidades, sua agressividade, seu segredo, sua impertinência e até crueldade. O drama é que o outro só é na perspectiva da construção conjunta, para os projetos com partilhados, a minha parte com a parte do outro. O outro só é no com (a)flito.

Javier desaba sob sua descendência trágica de pai e mãe alcoólatras. Mila não quer a gravidez por força do que aspira ainda em sua promissora carreira. Javier não faz nada para conter seu vício e ela decide abortar, em que pese ser o grande sonho de Javier ser pai.

Até quê.

Decidem abandonar tudo e irem para a terra natal de Javier, Iguassu, na Argentina. Mila tem a gravidez complicada e recebe da médica recomendação para que aguarde o parto. Javier não suporta.

A arte tem sim uma função transformadora. O esforço de diretora e montador do filme para narrar o drama em De Coração Aberto é extraordinário. As cenas dão a exata dimensão de alegria e dor e, carregadas de simbolismo nos remetem a uma profunda reflexão do que é ser para o outro.

Para registro: o declínio físico, psíquico e emocional de Javier nas cenas em que ele demole paredes do apartamento e Mila, já com quase nove meses de gravidez, retira dois sacos dos entulhos, carregando ao longo das escadas do prédio.

A arte além de nos salvar da loucura nos ajuda a ampliar nossa lucidez.
  
Este post talvez faça algum sentido para quem já assistiu ao filme e quer ter a pretensão de recomendá-lo para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade.


Até breve.

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