Estávamos, no último domingo, no
saguão de entrada do cinema onde fomos assistir ao filme De coração aberto.
Comentei com Ela que tenho me impressionado com o número de pessoas solitárias,
homens, mulheres e assemelhados.
Enquanto aguardávamos a liberação
para entrar para a sala de projeção, observei que entre as quase quarenta
pessoas presentes apenas três estavam acompanhadas, uma delas eu próprio.
Onde andam os parceiros?
Ou cinema passou a ser um local que
as pessoas devam ir sozinhas e nós, aqueles três, é que estamos ultrapassados?
Não, infelizmente o que ficou ultrapassado foram os programas a dois.
Há alguns anos atrás as filas
estavam repletas de casais, porque ir ao cinema era um programa legal para
ensaiar um papo depois regado a um choppinho e que tais. Hoje, parece, é uma
ocupação para as vidas vazias, como se servisse a enredos espelhados nas telas
de projeção.
Fiquei com vontade de bisbilhotar a
situação de cada um daqueles solitários, na quase totalidade mulheres de
meia-idade. Onde estão seus parceiros? Eu perguntaria.
Foram ao campo de futebol? Estão
jogando futebol? Ficaram em casa assistindo futebol na TV? Ou foram visitar a
família e, como estas pessoas não se dão com os entes queridos de seus
parceiros, preferem que estes compareçam sozinhos à visita familiar semanal?
Onde estarão, então, seus parceiros?
Não gostaram do tema escolhido por
elas, consideram o cinema caro, não conseguem assistir ao filme até o final,
não gostam de cinema?...
Fiquei sem resposta. Ela não
gostaria de me ver consultando a cada uma daquelas pessoas. Depois, o que eu
tenho a ver com a vida dos outros? E daí se as mulheres vão sozinhas ao cinema
nas tardes de domingo? E daí se elas estão sozinhas?
E daí?
Daí que, para mim, não é um bom
sinal dos tempos que correm. A solidão contemporânea é uma endemia grave e
crescente.
E não se manifesta somente nas
salas de cinema. Nos bares, em eventos de diferentes naturezas, nos shoppings, nas ruas e, até mesmo, no âmbito das
moradias. As pessoas estão cada vez mais com seus próprios programas, cada vez
mais ensimesmadas.
Ao longo dos dias úteis, portanto
dias de trabalho, ficam distantes boa parte do tempo, encontram-se (?) à noite,
trocam meia-dúzia de palavras, acordam contas a pagar, transam(?) e adormecem.
Há, no entanto, uma agravante
importante: as jornadas de trabalho têm se dilatado cada vez mais, inclusive
estendendo-se aos sábados e, às vezes, aos domingos. Há casos em que contas
deixam de ser pagas: um esperava que o outro o fizesse.
Ah, talvez resida aqui a razão: os
parceiros não foram ao cinema na tarde de domingo porque, na hora do cinema,
eles estavam trabalhando. O que é um motivo mais do que justo para a ausência.
Desconsiderem, portanto, este post.
Até breve.
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