terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

DRAMA I



Estávamos, no último domingo, no saguão de entrada do cinema onde fomos assistir ao filme De coração aberto. Comentei com Ela que tenho me impressionado com o número de pessoas solitárias, homens, mulheres e assemelhados.

Enquanto aguardávamos a liberação para entrar para a sala de projeção, observei que entre as quase quarenta pessoas presentes apenas três estavam acompanhadas, uma delas eu próprio.

Onde andam os parceiros?

Ou cinema passou a ser um local que as pessoas devam ir sozinhas e nós, aqueles três, é que estamos ultrapassados? Não, infelizmente o que ficou ultrapassado foram os programas a dois.

Há alguns anos atrás as filas estavam repletas de casais, porque ir ao cinema era um programa legal para ensaiar um papo depois regado a um choppinho e que tais. Hoje, parece, é uma ocupação para as vidas vazias, como se servisse a enredos espelhados nas telas de projeção.

Fiquei com vontade de bisbilhotar a situação de cada um daqueles solitários, na quase totalidade mulheres de meia-idade. Onde estão seus parceiros? Eu perguntaria.

Foram ao campo de futebol? Estão jogando futebol? Ficaram em casa assistindo futebol na TV? Ou foram visitar a família e, como estas pessoas não se dão com os entes queridos de seus parceiros, preferem que estes compareçam sozinhos à visita familiar semanal?

Onde estarão, então, seus parceiros?

Não gostaram do tema escolhido por elas, consideram o cinema caro, não conseguem assistir ao filme até o final, não gostam de cinema?...

Fiquei sem resposta. Ela não gostaria de me ver consultando a cada uma daquelas pessoas. Depois, o que eu tenho a ver com a vida dos outros? E daí se as mulheres vão sozinhas ao cinema nas tardes de domingo? E daí se elas estão sozinhas?

E daí?

Daí que, para mim, não é um bom sinal dos tempos que correm. A solidão contemporânea é uma endemia grave e crescente.

E não se manifesta somente nas salas de cinema. Nos bares, em eventos de diferentes naturezas, nos shoppings, nas ruas e, até mesmo, no âmbito das moradias. As pessoas estão cada vez mais com seus próprios programas, cada vez mais ensimesmadas.

Ao longo dos dias úteis, portanto dias de trabalho, ficam distantes boa parte do tempo, encontram-se (?) à noite, trocam meia-dúzia de palavras, acordam contas a pagar, transam(?) e adormecem.

Há, no entanto, uma agravante importante: as jornadas de trabalho têm se dilatado cada vez mais, inclusive estendendo-se aos sábados e, às vezes, aos domingos. Há casos em que contas deixam de ser pagas: um esperava que o outro o fizesse.

Ah, talvez resida aqui a razão: os parceiros não foram ao cinema na tarde de domingo porque, na hora do cinema, eles estavam trabalhando. O que é um motivo mais do que justo para a ausência.

Desconsiderem, portanto, este post.


Até breve.

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