quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

CRUZ



“PAI, PERDOAI-LHES. ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM.”

Agnóstico, ateu, desesperançado e quase teologicamente analfabeto estou com os olhos ardendo e a alma vivendo uma dor profunda ao constatar de maneira acachapante, mais uma vez, o martírio da figura do Cristo.

O ato simbólico daquele que O representa perante os homens é ápice da tragédia.

Nenhuma palavra que Ele pudesse proferir ecoaria nos corações e mentes dos ímpios, dos algozes, dos iníquos, dos pecadores. A hipocrisia, a luxuria, a cobiça, a sede de poder, a demanda por aplauso e aceitação grassam pelo órfão Planeta.

O que resta então ao Bem Supremo senão o ato, quando a Palavra esvai e não mais significa? O que resta quando toda a Verdade é maculada em diferentes formas e sofisticados expedientes?

Ao Bem Supremo a imolação e o martírio. A entrega soberana do seu Corpo para materializar de forma objetiva e clara a renúncia, na expectativa que com isto seja visível o Mal que triunfa.

A renovação em outro Homem. A Esperança. A Espera Divina de que se possa salvar a alma humana de si mesma e construir um novo tempo. Enquanto não soubermos será negra a mensagem e quando surgir branca sobre os céus de Roma, reiniciará a nossa chance.

Temo por ela, novamente.

Não é o vigor de Ratinzer que se esgota, pelo andar dos anos sobre seus ombros frágeis. É muito mais do que isto. O que se esgota é o obsurdo do caminho trilhado pela Humanidade.

A imensa tarefa humana adiante nos pede vigor desmedido pela extensão que o Mal atinge. Guerras, fome e miséria, crimes hediondos, degeneração da família, abusos da carne e do espírito, afastamento dos mandamentos, iniquidades extremas.

A figura representativa do Cristo não é um cargo para o qual alguém se habilita, ocupa e algum dia por razões quaisquer e próprias dele possa renunciar. Portanto, é óbvio que estamos diante de algo maior.

Quem se afasta não é a figura de um homem, mas do Homem. Quem se afasta, através de sua imolação e morte em vida, e clama por renovação é a Humanidade. Não é possível que mais uma vez nos seja dada a chance e nada nos aconteça.

Pois eu, lamento. Não creio.

Olho para o gesto de Ratinzer e redescubro o Sagrado. Lembro-me de mim menino, quando na Igreja de Santa Teresa, via o padre erguer a hóstia e meu coração palpitava. Na época, achava que o Bem estava ali e bastava tomá-lo para que eu me tornasse puro.

É pouco.


Até breve. 

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