“PAI, PERDOAI-LHES. ELES NÃO SABEM
O QUE FAZEM.”
Agnóstico, ateu, desesperançado e
quase teologicamente analfabeto estou com os olhos ardendo e a alma vivendo uma
dor profunda ao constatar de maneira acachapante, mais uma vez, o martírio da
figura do Cristo.
O ato simbólico daquele que O
representa perante os homens é ápice da tragédia.
Nenhuma palavra que Ele pudesse
proferir ecoaria nos corações e mentes dos ímpios, dos algozes, dos iníquos, dos
pecadores. A hipocrisia, a luxuria, a cobiça, a sede de poder, a demanda por
aplauso e aceitação grassam pelo órfão Planeta.
O que resta então ao Bem Supremo
senão o ato, quando a Palavra esvai e não mais significa? O que resta quando
toda a Verdade é maculada em diferentes formas e sofisticados expedientes?
Ao Bem Supremo a imolação e o martírio.
A entrega soberana do seu Corpo para materializar de forma objetiva e clara a
renúncia, na expectativa que com isto seja visível o Mal que triunfa.
A renovação em outro Homem. A Esperança.
A Espera Divina de que se possa salvar a alma humana de si mesma e construir um
novo tempo. Enquanto não soubermos será negra a mensagem e quando surgir branca
sobre os céus de Roma, reiniciará a nossa chance.
Temo por ela, novamente.
Não é o vigor de Ratinzer que se
esgota, pelo andar dos anos sobre seus ombros frágeis. É muito mais do que
isto. O que se esgota é o obsurdo do caminho trilhado pela Humanidade.
A imensa tarefa humana adiante nos pede
vigor desmedido pela extensão que o Mal atinge. Guerras, fome e miséria, crimes
hediondos, degeneração da família, abusos da carne e do espírito, afastamento
dos mandamentos, iniquidades extremas.
A figura representativa do Cristo
não é um cargo para o qual alguém se habilita, ocupa e algum dia por razões
quaisquer e próprias dele possa renunciar. Portanto, é óbvio que estamos diante
de algo maior.
Quem se afasta não é a figura de um
homem, mas do Homem. Quem se afasta, através de sua imolação e morte em vida, e
clama por renovação é a Humanidade. Não é possível que mais uma vez nos seja
dada a chance e nada nos aconteça.
Pois eu, lamento. Não creio.
Olho para o gesto de Ratinzer e redescubro
o Sagrado. Lembro-me de mim menino, quando na Igreja de Santa Teresa, via o
padre erguer a hóstia e meu coração palpitava. Na época, achava que o Bem
estava ali e bastava tomá-lo para que eu me tornasse puro.
É pouco.
Até breve.
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