sábado, 23 de fevereiro de 2013

CRUZ I




Ainda sobre a ameaça ou oportunidade.

Circula, agora, a notícia da existência de um relatório elaborado por três cardeais que teria sido, pelo que nele consta, a razão determinante para o pedido de renúncia.

Nunca, sobre isto e tudo o mais, saberemos a verdade. Sendo assim melhor construir versão dos fatos que nos sucedem em um mundo onde se divulga tudo, mostra-se tudo, fala-se de tudo, explicita-se tudo e não ficamos com nada dessa exposição fantástica dos fatos.

Minha versão já exposta em CRUZ, aqui com duplo sentido, me inquieta e preocupa. Não me parece que o debate deva se prender ou dar ênfase às questões mundanas que todos sabemos não ser exclusivas de nossa época.

Taras sexuais, jogos espúrios de poder, usos apropriados de capitais são próprios e milenares em toda e qualquer organização administrada por terráqueos, seja na Igreja Universal, no Federal Reserve ou no Exército Americano, apenas para citar as mais grandiosas. No Clube do bairro, no time de futebol, no INSS, no Congresso Brasileiro, apenas para citar outras de menor expressão.

Não, não é na esfera da intriga que a renúncia repousa. E mesmo que fosse a mais pura verdade eu precisaria de minha versão para continuar vivendo. Não quero ficar com a concretude dos fatos reais ou com o produto de sórdidas tramas dos porões do Vaticano.

Prefiro acreditar no simbólico. Quem nos deixa quer nos mostrar algo de muito grave que se passa e diz respeito a cada um de nós, na nossa mais profunda essência. Onde foi parar nossa religiosidade?

Religiosidade aqui não vinculada a quaisquer seitas. Católica, Espírita, Judaíca, Muçulmana, Umbanda, ortodoxas, medianas, radicais, fanáticas ou progressistas, praticantes ou de fachada.

Religiosidade no sentido do religare. Aquilo que nos coloca em sintonia com o que nos transcende e evoca. Aquilo que nos dá a exata dimensão da nossa pequenez diante da morte e o nosso verdadeiro poder diante da vida.

Onde foi parar a nossa escolha pela prática do Bem? Onde está a nossa inquietação pelos inúmeros atos bárbaros que diariamente nos vitimam em todas as partes do mundo? Onde está o respeito a nós mesmos e aos outros? Onde estão os nossos afetos mais caros, dignos e necessários?

Qual é nossa moral e quais são nossos costumes?

Dramática decisão esta que nos lega o Sumo Pontífice. Provavelmente daqui a alguns anos compreenderemos melhor esta sábia e dificílima atitude pelos efeitos que dela resultarão: a restauração iluminista ou o aprofundamento da barbárie.

Temo pela segunda.



Até breve.

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