Ainda sobre a ameaça ou
oportunidade.
Circula, agora, a notícia da
existência de um relatório elaborado por três cardeais que teria sido, pelo que
nele consta, a razão determinante para o pedido de renúncia.
Nunca, sobre isto e tudo o mais,
saberemos a verdade. Sendo assim melhor construir versão dos fatos que nos sucedem
em um mundo onde se divulga tudo, mostra-se tudo, fala-se de tudo, explicita-se
tudo e não ficamos com nada dessa exposição fantástica dos fatos.
Minha versão já exposta em CRUZ,
aqui com duplo sentido, me inquieta e preocupa. Não me parece que o debate deva
se prender ou dar ênfase às questões mundanas que todos sabemos não ser exclusivas
de nossa época.
Taras sexuais, jogos espúrios de
poder, usos apropriados de capitais são próprios e milenares em toda e qualquer
organização administrada por terráqueos, seja na Igreja Universal, no Federal
Reserve ou no Exército Americano, apenas para citar as mais grandiosas. No
Clube do bairro, no time de futebol, no INSS, no Congresso Brasileiro, apenas
para citar outras de menor expressão.
Não, não é na esfera da intriga que
a renúncia repousa. E mesmo que fosse a mais pura verdade eu precisaria de
minha versão para continuar vivendo. Não quero ficar com a concretude dos fatos
reais ou com o produto de sórdidas tramas dos porões do Vaticano.
Prefiro acreditar no simbólico.
Quem nos deixa quer nos mostrar algo de muito grave que se passa e diz respeito
a cada um de nós, na nossa mais profunda essência. Onde foi parar nossa
religiosidade?
Religiosidade aqui não vinculada a
quaisquer seitas. Católica, Espírita, Judaíca, Muçulmana, Umbanda, ortodoxas,
medianas, radicais, fanáticas ou progressistas, praticantes ou de fachada.
Religiosidade no sentido do religare.
Aquilo que nos coloca em sintonia com o que nos transcende e evoca. Aquilo que
nos dá a exata dimensão da nossa pequenez diante da morte e o nosso verdadeiro
poder diante da vida.
Onde foi parar a nossa escolha pela
prática do Bem? Onde está a nossa inquietação pelos inúmeros atos bárbaros que diariamente
nos vitimam em todas as partes do mundo? Onde está o respeito a nós mesmos e
aos outros? Onde estão os nossos afetos mais caros, dignos e necessários?
Qual é nossa moral e quais são nossos
costumes?
Dramática decisão esta que nos lega
o Sumo Pontífice. Provavelmente daqui a alguns anos compreenderemos melhor esta
sábia e dificílima atitude pelos efeitos que dela resultarão: a restauração iluminista
ou o aprofundamento da barbárie.
Temo pela segunda.
Até breve.
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