Muito bem. O que temos para hoje?
Um premiado e popular cineasta
inglês, Michael Apted, em 1964 (aos 23 anos), filmou para a televisão inglesa
um documentário no qual entrevistou quatorze crianças de sete anos de idade de
origem social variada, perguntando quais eram seus sonhos, planos e desejos.
Ele prometeu que voltaria a entrevistar as crianças a cada sete anos. Na semana
passada, estreou, em Nova York, "56 Up": as crianças de 1964 (todas
vivas) têm hoje 56 anos. Maiores informações vejam em 56UP.
Aí me coloquei a ruminar de novo
por onde eu andava e quais eram, a cada ciclo de sete anos, minhas más
intenções para tocar o meu barco. Minha memória é lastimável, o que dizem alguns
cientistas ser uma dádiva, na medida em que você não guarda mágoas e nem
ressentimentos, nem traumas conscientes, nem ilusões perdidas, enfim você é mais
feliz, quando desmemoriado.
Aos sete, em 1959, no rol de meus
projetos futuros estavam listados: ser padre, jogador de futebol ou Presidente
da República. Acho: ser padre porque por alguma razão eu queria ser um bom
sujeito; ser jogador de futebol, porque era uma paixão devastadora que me
arrancava os tampos de todos os dez dedos dos pés descalços uma vez que as
peladas eram travadas em ruas calçadas com pedras pé-de-moleque, ou em terrenos
baldios; ser Presidente da República, para ser o ídolo de minha mãe, que
na época estava engajada na campanha de Janio da Silva Quadros (vide VASSOURA).
Aos quatorze, em 1966, os projetos
eram: não ser padre, ser jogador de futebol ou ser escritor. Acho: não ser
padre, porque havia outros caminhos para ser um bom sujeito; ser jogador de
futebol, porque eu levava jeito prá coisa; ser escritor, porque a angústia já
tinha tomado assento.
Aos vinte e um, em 1973, os
projetos eram: não ser jogador de futebol, ser médico psiquiatra ou escritor.
Acho: não ser jogador de futebol porque, embora levasse jeito, não era
suficiente; ser médico psiquiatra, provavelmente para dar cabo da loucura
familiar; ser escritor pois, por força do que rolava, a angústia era maior.
Aos vinte e oito, em 1980, os
projetos eram: não ser médico psiquiatra, não ser escritor, ser um puta
executivo em empresa multinacional. Acho: não ser médico psiquiatra, porque não
dei conta de passar em vestibular de faculdade pública; não ser escritor porque
a angústia latente foi resolvida com a lucidez do real pragmático; ser um puta
executivo porque era o que me restava a fazer para criar os três maravilhosos rebentos
que iluminaram a minha vida.
Aos trinta e cinco, em 1987, os
projetos eram: não ser um puta executivo em empresa multinacional; ser
professor em escola de negócios; ser consultor independente. Acho: não ser uma
puta como executivo em empresa; ser professor de escola de negócios para
contribuir na reflexão; ser consultor para ampliar e adensar minha experiência
organizacional.
Aos quarenta e dois, em 1994, os
projetos eram: ser um professor em escolas de negócios reconhecido; ser
consultor em diferentes seguimentos de negócios; ser independente. Acho: ser um
professor reconhecido para poder criar lastros e legados; ser consultor em
diferentes seguimentos para poder compartilhar experiências multidisciplinares
e setoriais; ser independente para ser dono de meus próprios conceitos.
Aos quarenta e nove, em 2001, os
projetos eram: não ser professor em escolas de negócios; ser consultor em
diferentes seguimentos de negócios e independente; ser conselheiro. Acho: não
ser vinculado a nenhuma instituição para garantir minha liberdade conceitual e
ética representativa; consolidar minha carreira enquanto consultor; ser
Conselheiro e preparar-me para ampliar o impacto de minhas contribuições.
Aos cinqüenta e seis, em 2008, os
projetos eram: reduzir e qualificar minha carga de atuação enquanto consultor;
privilegiar demandas enquanto Conselheiro e, sobretudo, afinal, tornar-me avô.
Acho: aproveitar e buscar sentido à vida.
Hoje, aos sessenta e quase um, em
2013, os projetos são: atender a demandas na esfera da gestão corporativa; postar e ser avô. Acho: atender a demandas para não perder o
jeito para a coisa; escrever porque a angústia voltou; ser avô porque é paixão
definitiva.
A última frase fez com que eu
trocasse a foto do blog.
Até breve.
A FOTO FICOU MUITO MELHOR RSRSRSRSRS
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