quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

UP



Muito bem. O que temos para hoje?

Um premiado e popular cineasta inglês, Michael Apted, em 1964 (aos 23 anos), filmou para a televisão inglesa um documentário no qual entrevistou quatorze crianças de sete anos de idade de origem social variada, perguntando quais eram seus sonhos, planos e desejos. Ele prometeu que voltaria a entrevistar as crianças a cada sete anos. Na semana passada, estreou, em Nova York, "56 Up": as crianças de 1964 (todas vivas) têm hoje 56 anos. Maiores informações vejam em 56UP.

Aí me coloquei a ruminar de novo por onde eu andava e quais eram, a cada ciclo de sete anos, minhas más intenções para tocar o meu barco. Minha memória é lastimável, o que dizem alguns cientistas ser uma dádiva, na medida em que você não guarda mágoas e nem ressentimentos, nem traumas conscientes, nem ilusões perdidas, enfim você é mais feliz, quando desmemoriado.

Aos sete, em 1959, no rol de meus projetos futuros estavam listados: ser padre, jogador de futebol ou Presidente da República. Acho: ser padre porque por alguma razão eu queria ser um bom sujeito; ser jogador de futebol, porque era uma paixão devastadora que me arrancava os tampos de todos os dez dedos dos pés descalços uma vez que as peladas eram travadas em ruas calçadas com pedras pé-de-moleque, ou em terrenos baldios; ser Presidente da República, para ser o ídolo de minha mãe, que na época estava engajada na campanha de Janio da Silva Quadros (vide VASSOURA).

Aos quatorze, em 1966, os projetos eram: não ser padre, ser jogador de futebol ou ser escritor. Acho: não ser padre, porque havia outros caminhos para ser um bom sujeito; ser jogador de futebol, porque eu levava jeito prá coisa; ser escritor, porque a angústia já tinha tomado assento.

Aos vinte e um, em 1973, os projetos eram: não ser jogador de futebol, ser médico psiquiatra ou escritor. Acho: não ser jogador de futebol porque, embora levasse jeito, não era suficiente; ser médico psiquiatra, provavelmente para dar cabo da loucura familiar; ser escritor pois, por força do que rolava, a angústia era maior.

Aos vinte e oito, em 1980, os projetos eram: não ser médico psiquiatra, não ser escritor, ser um puta executivo em empresa multinacional. Acho: não ser médico psiquiatra, porque não dei conta de passar em vestibular de faculdade pública; não ser escritor porque a angústia latente foi resolvida com a lucidez do real pragmático; ser um puta executivo porque era o que me restava a fazer para criar os três maravilhosos rebentos que iluminaram a minha vida.

Aos trinta e cinco, em 1987, os projetos eram: não ser um puta executivo em empresa multinacional; ser professor em escola de negócios; ser consultor independente. Acho: não ser uma puta como executivo em empresa; ser professor de escola de negócios para contribuir na reflexão; ser consultor para ampliar e adensar minha experiência organizacional.

Aos quarenta e dois, em 1994, os projetos eram: ser um professor em escolas de negócios reconhecido; ser consultor em diferentes seguimentos de negócios; ser independente. Acho: ser um professor reconhecido para poder criar lastros e legados; ser consultor em diferentes seguimentos para poder compartilhar experiências multidisciplinares e setoriais; ser independente para ser dono de meus próprios conceitos.

Aos quarenta e nove, em 2001, os projetos eram: não ser professor em escolas de negócios; ser consultor em diferentes seguimentos de negócios e independente; ser conselheiro. Acho: não ser vinculado a nenhuma instituição para garantir minha liberdade conceitual e ética representativa; consolidar minha carreira enquanto consultor; ser Conselheiro e preparar-me para ampliar o impacto de minhas contribuições.

Aos cinqüenta e seis, em 2008, os projetos eram: reduzir e qualificar minha carga de atuação enquanto consultor; privilegiar demandas enquanto Conselheiro e, sobretudo, afinal, tornar-me avô. Acho: aproveitar e buscar sentido à vida.

Hoje, aos sessenta e quase um, em 2013, os projetos são: atender a demandas na esfera da gestão corporativa; postar e ser avô. Acho: atender a demandas para não perder o jeito para a coisa; escrever porque a angústia voltou; ser avô porque é paixão definitiva.


A última frase fez com que eu trocasse a foto do blog.



Até breve.

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