domingo, 20 de janeiro de 2013

TRANS



Juan examinava com carinho os presentes que ganhou de RIJ, quando ela aproximou-se dele e perguntou:

- Gostou dos presentes que eu trouxe para você, Juan?
- Eu queria mesmo era uma vermuda.

Ele e tudo de bom da Fazenda Santo Antônio deixamos para trás. Os cafés da manhã, almoços e jantares, marcados pela abundância e simplicidade. O verde que só se acaba quando encontra com o azul, ou o cinza denso que contém a chuva. A cachoeira, o oxigênio. O tempo e o silêncio. A imagem de Ailton, nos fins de tarde, sentado com seu filho, neto e sobrinhos em um banco à frente do almoxarifado, proseando.

Quando entramos em Ajuda o alarido do Arraial, em alta estação, reforçou a nitidez da diferença entre campo e cidade. Tudo agora soa estranho, como se envolto em manta de superficialidade e demandas supérfluas.

Enfim, o sentido primitivo de subsistência em contraste com o contemporâneo modelo de ocupação da vida. As pessoas vagabudeiam pelas ruas, gastando o descanso anual, entregando-se ao ócio, ao intervalo para o ano que se inicia.

Por outro lado, encontrar WCA, ANA e LYD e junto com PER e RIJ compor momentos de raro prazer. É que estas pessoas têm sido para nós um território de catarse, reflexão, memória e bálsamo.

Ontem estávamos os sete na tarefa lúdica de preparar o almoço. Enquanto os ingredientes eram escolhidos, panelas a postos, cilindro para dar forma à massa e extrair da conjugação disto tudo o alimento final, nos fazíamos à luz de uma ciranda de lembranças, comentários, velhacas intrigas, humanidades.

O riso e as gargalhadas ao largo das piadas várias que vão surgindo, as gentilezas recíprocas e, de quando em vez, o aprofundamento de uma questão trazida por um ou outro.

À noite o jantar em restaurante para comemorar os sessenta anos de WCA.

Este post não pretende aduzir e nem deduzir o que para todos é óbvio. O outro é ainda o nosso maior patrimônio.  Cada um a sua maneira com sua história particular e que é sempre desconhecida no todo por todos. Temos sempre algo a relatar ainda de nossa vida, mesmo para os nossos mais íntimos.

- Eu não sabia... Disse RIJ ao ouvir de WCA, com quem ela nutre afetuosa amizade há quase quarenta anos, que ANA foi sua única namorada. WCA e ANA fazem, em outubro, trinta e quatro anos de casados.

Percorre nossos diálogos um tema recorrente e intenso. A necessidade de todos nos prepararmos para o inexorável que se avizinha e a passos largos: a velhice. Do dinheiro ao sexo, de aonde ao como, ocupados com o quê, com quem e porque.

Peço à vida que me permita manter-me próximo destas e de outras poucas pessoas. Cada uma, a sua maneira, tem me ajudado a lapidar e dar maior brilho à vida.

E jamais, por força de quaisquer circunstâncias, ter que considerar razoável que autosuprimí-la seja nosso último ato trágico e digno.

Até breve.

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