Juan examinava com carinho os
presentes que ganhou de RIJ, quando ela aproximou-se dele e perguntou:
- Gostou dos presentes que eu
trouxe para você, Juan?
- Eu queria mesmo era uma vermuda.
Ele e tudo de bom da Fazenda Santo
Antônio deixamos para trás. Os cafés da manhã, almoços e jantares, marcados
pela abundância e simplicidade. O verde que só se acaba quando encontra com o
azul, ou o cinza denso que contém a chuva. A cachoeira, o oxigênio. O tempo e o
silêncio. A imagem de Ailton, nos fins de tarde, sentado com seu filho, neto e
sobrinhos em um banco à frente do almoxarifado, proseando.
Quando entramos em Ajuda o alarido do
Arraial, em alta estação, reforçou a nitidez da diferença entre campo e cidade.
Tudo agora soa estranho, como se envolto em manta de superficialidade e
demandas supérfluas.
Enfim, o sentido primitivo de
subsistência em contraste com o contemporâneo modelo de ocupação da vida. As
pessoas vagabudeiam pelas ruas, gastando o descanso anual, entregando-se ao
ócio, ao intervalo para o ano que se inicia.
Por outro lado, encontrar WCA, ANA
e LYD e junto com PER e RIJ compor momentos de raro prazer. É que estas pessoas
têm sido para nós um território de catarse, reflexão, memória e bálsamo.
Ontem estávamos os sete na tarefa
lúdica de preparar o almoço. Enquanto os ingredientes eram escolhidos, panelas
a postos, cilindro para dar forma à massa e extrair da conjugação disto tudo o
alimento final, nos fazíamos à luz de uma ciranda de lembranças, comentários, velhacas
intrigas, humanidades.
O riso e as gargalhadas ao largo
das piadas várias que vão surgindo, as gentilezas recíprocas e, de quando em
vez, o aprofundamento de uma questão trazida por um ou outro.
À noite o jantar em restaurante
para comemorar os sessenta anos de WCA.
Este post não pretende aduzir e nem
deduzir o que para todos é óbvio. O outro é ainda o nosso maior patrimônio. Cada um a sua maneira com sua história
particular e que é sempre desconhecida no todo por todos. Temos sempre algo a
relatar ainda de nossa vida, mesmo para os nossos mais íntimos.
- Eu não sabia... Disse RIJ ao ouvir de WCA, com quem ela nutre
afetuosa amizade há quase quarenta anos, que ANA foi sua única namorada. WCA e
ANA fazem, em outubro, trinta e quatro anos de casados.
Percorre nossos diálogos um tema
recorrente e intenso. A necessidade de todos nos prepararmos para o inexorável
que se avizinha e a passos largos: a velhice. Do dinheiro ao sexo, de aonde ao
como, ocupados com o quê, com quem e porque.
Peço à vida que me permita
manter-me próximo destas e de outras poucas pessoas. Cada uma, a sua maneira, tem
me ajudado a lapidar e dar maior brilho à vida.
E jamais, por força de quaisquer
circunstâncias, ter que considerar razoável que autosuprimí-la seja nosso último
ato trágico e digno.
Até breve.
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