“Pai, vamos falar sério”...
Esta frase inicia um dos diálogos
entre a filha e o pai a respeito da enfermidade da mãe, no filme Amour (Amor)
do cineasta austríaco Michael Haneke. Candidato ao melhor estrangeiro no Oscar
deste ano, o filme é uma produção franco-alemã-austríaca e tem, como atores, os
franceses Jean Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, ela candidata a melhor
atriz. Estrela no papel de filha do casal a também francesa Isabelle Huppert.
“Nós não podemos deixá-la aqui assim... Deve existir algo que possa ser
feito”...
Em 1966, Claude Lelouch, cineasta
francês filmou Um Homem e uma Mulher, que tem o mesmo Trintignant
contracenando com Anouk Aimée, ambos viúvos e reconstruindo a vida afetiva. Em
1986, Lelouch filmou Um Homem e uma mulher – Vinte anos depois,
com os mesmos atores, passados vinte anos após a separação dos mesmos.
Permito-me interpretar que, quase
trinta anos depois, Haneke em Amour, ao convidar o agora octogenário ator, nos
provoca a uma continuidade. Quem sabe ao convidar Riva não nos instiga também a
Hiroshima,
meu amor?
Pois é.
Há uma cena em Amour em que Anne
(Riva) pede ao marido Georges (Trintignant) que ele pegue para ela os álbuns de
fotos da família. Eles estão lanchando na cozinha e ela coloca sobre a mesa, os
quatro álbuns trazidos pelo marido; escolhe um deles, afasta para um canto os
demais e lentamente folheia as páginas de fotos.
- “A vida... A longa vida”...
Como lidar com o inexorável fim?
Como viver a decrepitude do outro com quem se viveu a longa vida? Como suportar
a filha dizer que, quando criança, ouvia os gemidos dos pais se fartando de
prazer? Como administrar com dignidade o ocaso de tudo, absolutamente?
Em outra cena, Georges coloca um CD
de um dos alunos de Anne, que se tornou artista internacionalmente célebre. Ela
ouve por poucos segundos e pede para que Georges desligue o equipamento de som.
O que vale? Tudo cessa!
Em Um Homem e uma Mulher – Vinte anos
depois, o personagem de Trintignant continua pilotando profissionalmente em
corridas de automóveis, enquanto Anne (Anouk Aimèe) tornou-se uma renomada
diretora de cinema, às voltas com um fracasso. E é exatamente em busca de um
sucesso para mudar sua carreira que Anne volta a procurar seu amado de duas
décadas atrás, já que pretende fazer um filme inspirado na história que
viveram.
Haneke nos brinda pela arte com uma
profunda reflexão. A vida é rodada para um epílogo em que nada mais importa,
faz sentido, interessa, é possível. Nem mesmo o isolamento do cheiro que nos
resta deixará de evidenciar o real.
A seriedade está em que nada poderá
ser feito.
Nada.
Até breve.
MARAVILHOSO TIO... VOCE ESCREVE EXPLENDIDAMENTE BEM!!
ResponderExcluirASS:: KARLA
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