Ainda fazendo.
Pela manhã, bem cedo, ver a sangria
de um carneiro. A vida rural é crua, diferente da urbana, cruel. A morte, ainda
que de animais, se dá pela via da necessidade. Escolhido no rebanho o carneiro
é levado para o centro de um dos currais. Com um machado o vaqueiro golpeia a
cabeça do animal, que desfalece. Na sequência ocorre a sangria, com uma faca
fina e amolada o vaqueiro sela a sorte.
Pouco depois, RIJ e ELA estão
juntas resolvendo se será frito, assado, ou ensopado. Assim, pela via da cultura,
um fato cru e sem drama.
Não deveria, mas me ocorre um
paralelo com a banalidade da morte na selva urbana. Começo a supor que está
sendo incorporada à cultura a perda de vidas humanas como um fato cru e sem
drama. Alguns podem ainda até sentir compaixão, mas só. Não será mais cruel
vitimar pessoas. “Afinal ele estava
querendo me lesar em sete reais. Fiz por necessidade.” Crime cru e sem
drama.
Volto.
Pouco mais tarde, churrasco do
carneiro, almoço tipo o de ontem e cesta na rede do avarandado. Chuvinha
maneira pingando de leve no verde de perder de vista, que só some quando encontra
as nuvens lá no fim que se alcança.
De repente arco-íris, solão de novo
e convite para banho de cachoeira.
Um dia inteiro neste cantão parece
que num acaba. Falei prá RIJ que vou presenteá-la com um ventilador de
ponteiros de relógio. Agitar o tempo. Mas claro que não é. O problema não são
as horas, é o que nós fazemos delas no urbano.
Vou dormir hoje matutando sobre
tempo e espaço.
Pudesse e fosse capaz, optaria pela
vida crua e sem drama.
E ligaria o ESADOF (*).
Até breve.
(*) Palavra russa. Como toda palavra em russo, lê-se da direita para a
esquerda.
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