Lydia,
em seu comentário editado no post LENTE sugere que eu assista a “As aventuras
de PI” e, fazendo alusão ao meu texto, classifica o filme como de ESTRUTURA E
FACHADA.
O
filme é do diretor taiwanês Ang Lee que dirigiu, entre outros: A arte de viver;
Banquete de casamento; Comer, beber e viver; Razão e sensibilidade; Tempestade
de gelo; O clã das adagas voadoras; O tigre o e dragão (Oscar de melhor filme
estrangeiro) e O segredo de Brokeback Mountain (Oscar de melhor diretor).
Não é
pouca coisa, portanto.
O
filme tem fachada extraordinária pela utilização de recursos computacionais que
nos levam ao deslumbramento com paisagens exuberantes e cenas surpreendentes, prendendo a atenção do expectador. Provavelmente mais de oitenta por cento da
edição final contemple a utilização de imagens produzidas em computador, o que
enriquece a obra enquanto cinema.
O
filme tem estrutura montada, portanto, por um asiático que vive nos USA desde
1978 e, assim suponho, marcado também pela lente americana de encarar a vida. A
lente é objetiva, difere da lente européia, mais existencial.
A
questão central abordada no filme, me parece, diz respeito à luta do Homem pela sua sobrevivência e criação de identidade, incluída aí a existência ou não de
Deus como “responsável” pelos nossos desígnios.
A
primeira meia-hora do filme narra as dificuldades enfrentadas pelo protagonista quando criança/adolescente na escola por força de seu nome PISCINE, daí Pi e
sua relação com os pais e irmão diante de sua procura religiosa.
Na
escola, cansado de ser ridicularizado, ele reage buscando alternativas para
explicar o que vem a ser Pi, o diminutivo de seu nome. Duas ou três cenas
cuidam dessa passagem e dão encaminhamento à trama.
Em
casa, à mesa do jantar, ao fazer oração antes da refeição é questionado pelo
pai e pelo irmão sobre a sua opção religiosa. Pi já havia procurado em Khrisna,
Cristo e Alá aquele que mais se aproximasse da sua idéia procurada de Deus.
Depois
dessa primeira meia-hora, o filme apresenta o naufrágio, que ocorre na parte mais
profunda das águas do Pacífico, e a partir daí a luta pela sobrevivência de Pi
em uma balsa, acompanhado por um tigre, uma zebra, uma hiena e um orangotango
também sobreviventes do naufrágio e que pertenciam ao zoológico dos pais na
Índia e estavam sendo transportados para o Canadá onde a família procuraria
melhor sorte.
As
cenas finais, especialmente aquelas protagonizadas pó um Pi já adulto, propõem
ao expectador a questão central da trama.
Posso
caminhar por uma interpretação singela. Penso que o diminutivo do nome
atribuído ao protagonista quer sinalizar quão amplo são os meandros para a
busca de nossa identidade e a nossa crença ou não da existência de Deus.
Desde a Antiguidade, foram encontradas várias aproximações para o cálculo da área do círculo. Pi é um número irracional e transcendente, de forma que os
métodos de cálculo sempre envolvem aproximações, aproximações sucessivas e/ou
séries infinitas de somas, multiplicações e divisões. Um engenheiro japonês e
um estudante americano de ciências da computação calcularam, usando um
computador com 12 núcleos físicos, cinco trilhões de dígitos, o equivalente a 6
terabytes de dados.
Há no
filme uma cena, em que Pi está na escola e vários alunos o vê escrever no
quadro negro parte das dízimas que constituem o número Pi, cuja versão mais
reduzida contempla 52 casas decimais.
É. O círculo de nascimento, vida e morte nos remete a
inúmeras aproximações, aproximações sucessivas e/ou série infinita de somas,
multiplicações e divisões. É do protagonista a assertiva de que “A fé é uma casa de muitos quartos” e eu
complementaria: e de inúmeros outros cômodos alguns desconhecidos ou sequer
visitados.
Fiquei também com outra fala do protagonista: “A dúvida é útil”.
A procura do sentido da vida e da nossa transcendência é uma
aventura real alucinante. Quero curti-la à exaustão.
Até breve.
É isso aí, mestre! Ang Lee sabe mesmo tudo de cinema! Quantas vezes nos perguntamos, que nem PI: por que estou passando por isso? quem está me pondo à prova? será que não chega? nadando, nadando, e nada da praia! E aí, vem a resposta... São mesmo sucessivas aproximações! Afinal, o que é essa nossa vida? Cada vez mais quartos a serem visitados... Cômodos ainda não descobertos... Beleza, mestre! Fecha o pano!
ResponderExcluirBjs
Lydia
Muito obrigado, de novo, Lydinha.
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