sábado, 29 de dezembro de 2012

UVA



Em um relacionamento de mais de quarenta e três anos tudo pode acontecer, inclusive nada. De quando em vez um dos parceiros, quase sempre o mesmo e mais frágil, supita. Somente passado o frisson é que vai se perceber que as razões e os contornos das encenações decorrentes foram, no episódio, as mesmas.

Ocorre que os anos vão cobrando dos atores uma performance mais elaborada na medida em que pior do que a iminente hecatombe do casal é a exposição do mesmo ao ridículo. Então é importante compreender que aquilo que era travado nos intramuros, intraquarto, intralencóis, passa a desaguar para parentes, amigos, passageiros virtuais desconhecidos e desavisados.

O drama recebe o suporte trágico de pessoas íntimas que contribuem com afinco para que a veracidade da trama ganhe sustentação. Aquele que supita, protagoniza e dá ritmo e densidade aos desdobramentos. Coadjuvantes, escolhidos a dedo intensificam a dramaticidade.

A coisa dura em torno de duas a três semanas, para não ficar chato. Ninguém aguenta tanto tempo fazendo expressões de preocupação, solidariedade explícita, telefonemas longos, emails chorosos e assemelhados.

Os filhos, já passados dos trinta e também com seus relacionamentos indo para o mesmo enredo, não tem muito saco para debaterem o assunto. O fazem para parecer que, inclusive aí, a família deve comparecer junta. “Pai, o nosso também é assim. Tem hora que dá vontade de jogar tudo lá fora”.

Eu faço cara de quem jamais imaginou que fosse.

Os parentes próximos, tipo irmã da parte achacada, são os piores. Alienados do processo burlesco, sofredores contumazes, insistem em caminhar na direção da reparação dos danos. “Já falei para pararem com essa bobagem!”, é parte do script que nem sempre cai bem. Como considerar bobagem um supito?

Amigos íntimos não. Com esses é delicado mexer e eu explico por que. Enquanto a trama se desenrola ocorrem afastamentos do casal ou mesmo de um de seus membros, inclusive em datas imperdoáveis com consequências irreparáveis. Ali, naquela data única e hiperaguardada, quando todo mundo quer rosetar, o infeliz do amigo inventa de afrescurar-se e não comparece.

No fim, eu sei que todos sabem como acaba invariavelmente o imbróglio. Na cama, com sexo selvagem que agora, face às circunstâncias, implica em consequências só reparadas com uma dosagem adequada e controlada de Dorflex.

Ontem, à noite, Pretinha sentenciou:

- “Pai, quero ver como você vai limpar essa merda”...

Recorro mais uma vez aos amigos. Durante a trama encontrei-me com o protagonista de FIO. Ele estava parado em um semáforo, com o carro (que tem teto solar) da esposa. Vendo-me atravessando na faixa de pedestres, levantou os braços para fora do carro, buzinou e gritou:

- Ô Agulhô, tô sabendo que você tá passando uns querecuteco, cara. Esquenta não, amigo, até a uva passa.

Além desta alegria, neste último dramalhão mexicano, o protagonista recebeu ganhos secundários que lhe valeram o desgaste. O mal estar que pairava com um dos membros do clã foi atenuado, para não dizer sanado, e abriu-se uma janela para uma perspectiva promissora. Tiveram uma longa e profícua conversa que culminou com a volta do pródigo.

Há um último aspecto ainda a considerar. ELA não conseguiu postar em TÊNUE um comentário, o que eu faço agora:

“Tênue, como Dora ou os Scherebers freudianos...
Aimée ou Homem dos Miolos Frescos lacanianos...
Dom Quixote e seu Sancho Pança, diria Foucault;
Os bentinhos machadianos, nos diz Schuwarz;
Ah,Ah, Ah!!! Muro sartreano...
Ai que saudade do VIGORlino, cabra macho,
Agora tênue, decapitado, desavisado.
Odisséias, Ilíadas: homens d’cantados...”

Eu tenho ou num tenho razão, posso ou num posso, mereço ou num mereço ter um supitinho de vez em quando? Conclamo a todos que, no próximo, nos superemos.


Até breve.

5 comentários:

  1. O que seria do mundo sem os micos? Gostaria d começar o movimento junto c o Lindinho,"LOzinho e VErinha nao vendam o sitio!" Nesse manifesto todos podem expor seus motivos.

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  2. Como diz sua CUnhada: chupou a laranja agora come o bagaço...

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  3. LOVE não vendam o Sitio pois todos precisam de um lugar pra voltar de helicóptero de quando em vez...

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  4. Mais uma vez este poema faz sentido
    "No fundo, no fundo,
    bem lá no fundo,
    a gente gostaria
    de ver nossos problemas
    resolvidos por decreto

    a partir desta data,
    aquela mágoa sem remédio
    é considerada nula
    e sobre ela -- silêncio perpétuo

    extinto por lei todo o remorso,
    maldito seja quem olhar pra trás,
    lá pra trás nã há nada,
    e nada mais

    mas problemas não se resolvem,
    problemas têm família grande,
    e aos domingos saem todos passear
    o problema, sua senhora
    e outros pequenos probleminhas.

    Paulo leminski

    bjos e não peciso assinar !!

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  5. Estamos com você, dindo!!!! Como a Liz vai me chamar no topo da escada, com as mãos as mãos na cintura " Mateeeeeeoooo, vem aqui!!!!!!" E depois a gente escorrega no tobogã até a piscina!!!! Pode não vovô guiô!!!!

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