Em um relacionamento de mais de quarenta
e três anos tudo pode acontecer, inclusive nada. De quando em vez um dos
parceiros, quase sempre o mesmo e mais frágil, supita. Somente passado o
frisson é que vai se perceber que as razões e os contornos das encenações
decorrentes foram, no episódio, as mesmas.
Ocorre que os anos vão cobrando dos
atores uma performance mais elaborada na medida em que pior do que a iminente hecatombe
do casal é a exposição do mesmo ao ridículo. Então é importante compreender que
aquilo que era travado nos intramuros, intraquarto, intralencóis, passa a
desaguar para parentes, amigos, passageiros virtuais desconhecidos e desavisados.
O drama recebe o suporte trágico de
pessoas íntimas que contribuem com afinco para que a veracidade da trama ganhe
sustentação. Aquele que supita, protagoniza e dá ritmo e densidade aos
desdobramentos. Coadjuvantes, escolhidos a dedo intensificam a dramaticidade.
A coisa dura em torno de duas a
três semanas, para não ficar chato. Ninguém aguenta tanto tempo fazendo
expressões de preocupação, solidariedade explícita, telefonemas longos, emails
chorosos e assemelhados.
Os filhos, já passados dos trinta e
também com seus relacionamentos indo para o mesmo enredo, não tem muito saco
para debaterem o assunto. O fazem para parecer que, inclusive aí, a família deve
comparecer junta. “Pai, o nosso também é
assim. Tem hora que dá vontade de jogar tudo lá fora”.
Eu faço cara de quem jamais
imaginou que fosse.
Os parentes próximos, tipo irmã da
parte achacada, são os piores. Alienados do processo burlesco, sofredores
contumazes, insistem em caminhar na direção da reparação dos danos. “Já falei para pararem com essa bobagem!”, é
parte do script que nem sempre cai bem. Como considerar bobagem um supito?
Amigos íntimos não. Com esses é
delicado mexer e eu explico por que. Enquanto a trama se desenrola ocorrem
afastamentos do casal ou mesmo de um de seus membros, inclusive em datas imperdoáveis
com consequências irreparáveis. Ali, naquela data única e hiperaguardada, quando
todo mundo quer rosetar, o infeliz do amigo inventa de afrescurar-se e não
comparece.
No fim, eu sei que todos sabem como acaba
invariavelmente o imbróglio. Na cama, com sexo selvagem que agora, face às
circunstâncias, implica em consequências só reparadas com uma dosagem adequada
e controlada de Dorflex.
Ontem, à noite, Pretinha
sentenciou:
- “Pai, quero ver como você vai limpar essa merda”...
Recorro mais uma vez aos amigos.
Durante a trama encontrei-me com o protagonista de FIO. Ele estava parado em um
semáforo, com o carro (que tem teto solar) da esposa. Vendo-me atravessando na
faixa de pedestres, levantou os braços para fora do carro, buzinou e gritou:
- Ô Agulhô, tô sabendo que você tá passando uns querecuteco, cara.
Esquenta não, amigo, até a uva passa.
Além desta alegria, neste último
dramalhão mexicano, o protagonista recebeu ganhos secundários que lhe valeram o
desgaste. O mal estar que pairava com um dos membros do clã foi atenuado, para
não dizer sanado, e abriu-se uma janela para uma perspectiva promissora.
Tiveram uma longa e profícua conversa que culminou com a volta do pródigo.
Há um último aspecto ainda a
considerar. ELA não conseguiu postar em TÊNUE um comentário, o que eu faço agora:
“Tênue, como Dora ou os Scherebers freudianos...
Aimée ou Homem dos Miolos Frescos lacanianos...
Dom Quixote e seu Sancho Pança, diria Foucault;
Os bentinhos machadianos, nos diz Schuwarz;
Ah,Ah, Ah!!! Muro sartreano...
Ai que saudade do VIGORlino, cabra macho,
Agora tênue, decapitado, desavisado.
Odisséias, Ilíadas: homens d’cantados...”
Eu tenho ou num tenho razão, posso ou num posso, mereço ou num mereço ter
um supitinho de vez em quando? Conclamo a todos que, no próximo, nos superemos.
Até breve.
O que seria do mundo sem os micos? Gostaria d começar o movimento junto c o Lindinho,"LOzinho e VErinha nao vendam o sitio!" Nesse manifesto todos podem expor seus motivos.
ResponderExcluirComo diz sua CUnhada: chupou a laranja agora come o bagaço...
ResponderExcluirLOVE não vendam o Sitio pois todos precisam de um lugar pra voltar de helicóptero de quando em vez...
ResponderExcluir
ResponderExcluirMais uma vez este poema faz sentido
"No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela -- silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás nã há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Paulo leminski
bjos e não peciso assinar !!
Estamos com você, dindo!!!! Como a Liz vai me chamar no topo da escada, com as mãos as mãos na cintura " Mateeeeeeoooo, vem aqui!!!!!!" E depois a gente escorrega no tobogã até a piscina!!!! Pode não vovô guiô!!!!
ResponderExcluir