Como aquele ali, dramaticamente
fino, tecido nas duas últimas semanas em que eu não estive aqui. Despenca de um
dos cantos da parede, preso ao teto, leve, esvoaçante ao vento brando que sopra
das janelas, escancaradamente abertas, do meu quarto. A aranha percorre outras
linhas ou já se foi, me deixando ainda mais só.
Ou como outro, que vi hoje logo que
cheguei em casa. Dele pendia um pêssego maduro. O galho fino suportava, como em
toneladas, o momento do desenlace.
Há ainda, o próprio dia que
transcorre, violentamente breve, escoando.
As infinitas lembranças, de tanta
história percorrida, escoando.
Não posso entender por que uma vez
tão sólido, assim pelo tempo, gasto e insustentável.
O que ficará adiante? Palavras,
incapazes de contar tudo.
Há quem diga que está relacionado à
normalidade. Todos padecemos do mesmo drama.
Ontem assisti a um filme belíssimo:
“Um quarto em Roma”(*). Mais do que
oportuno. Quão é difícil a cada um de nós construirmos nossa própria identidade
e buscar o sentido da existência. Quem sou e o que verdadeiramente quero? O
filme, de uma poesia profunda, remete a uma resposta.
Recebi email de uma querida amiga
em que aborda, fazendo pilhéria, o fim do mundo previsto para o próximo dia 21.
Parte de um trecho: “Vamos combinar que
aonde chegarmos, na primeira curva à direita, pararemos e esperaremos os outros
chegarem. Não quero correr nenhum risco de não encontrar vocês mais”.
Pois é, querida amiga, é de todo
provável que o mundo não se acabe no dia 21 de dezembro de 2012 como
previram os Maias, mas não podemos deixar de dar algum crédito às lendas.
Parte do mundo, pelo menos naquilo
que nos atinge, acabou. E, com ela, os PLANOS .
Naquela curva à direita, vou estar sozinho.
(*) UM QUARTO EM ROMA > Diretor Julio Medem. Com Elena Anaya, Natasha
Yarovenko, Enrico Lo Verso e Najwa Nimri. Espanha, 2012.
" e que importancia tenho eu
ResponderExcluirno tribunal do esquecimento?
Qual é a representação
do resultado futuro?
É a semente cereal
com sua multidão amarela?
Ou é o coração ossudo
o delegado do pêssego?"
Pablo Neruda, do livro das Perguntas . (liz)