quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

TÊNUE




Como aquele ali, dramaticamente fino, tecido nas duas últimas semanas em que eu não estive aqui. Despenca de um dos cantos da parede, preso ao teto, leve, esvoaçante ao vento brando que sopra das janelas, escancaradamente abertas, do meu quarto. A aranha percorre outras linhas ou já se foi, me deixando ainda mais só.

Ou como outro, que vi hoje logo que cheguei em casa. Dele pendia um pêssego maduro. O galho fino suportava, como em toneladas, o momento do desenlace.

Há ainda, o próprio dia que transcorre, violentamente breve, escoando.

As infinitas lembranças, de tanta história percorrida, escoando.

Não posso entender por que uma vez tão sólido, assim pelo tempo, gasto e insustentável.

O que ficará adiante? Palavras, incapazes de contar tudo.

Há quem diga que está relacionado à normalidade. Todos padecemos do mesmo drama.

Ontem assisti a um filme belíssimo: “Um quarto em Roma”(*). Mais do que oportuno. Quão é difícil a cada um de nós construirmos nossa própria identidade e buscar o sentido da existência. Quem sou e o que verdadeiramente quero? O filme, de uma poesia profunda, remete a uma resposta.

Recebi email de uma querida amiga em que aborda, fazendo pilhéria, o fim do mundo previsto para o próximo dia 21. Parte de um trecho: “Vamos combinar que aonde chegarmos, na primeira curva à direita, pararemos e esperaremos os outros chegarem. Não quero correr nenhum risco de não encontrar vocês mais”.

Pois é, querida amiga, é de todo provável que o mundo não se acabe no dia 21 de dezembro de 2012 como previram os Maias, mas não podemos deixar de dar algum crédito às lendas.

Parte do mundo, pelo menos naquilo que nos atinge, acabou. E, com ela, os PLANOS .

Naquela curva à direita, vou estar sozinho.



(*) UM QUARTO EM ROMA > Diretor Julio Medem. Com Elena Anaya, Natasha Yarovenko, Enrico Lo Verso e Najwa Nimri. Espanha, 2012. 

Um comentário:

  1. " e que importancia tenho eu
    no tribunal do esquecimento?
    Qual é a representação
    do resultado futuro?
    É a semente cereal
    com sua multidão amarela?
    Ou é o coração ossudo
    o delegado do pêssego?"
    Pablo Neruda, do livro das Perguntas . (liz)

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