JANEIRO VINHO
Ontem, no início da noite, fui dirigindo o carro para
levar Pretinha junto com Ela ao ginecologista. Claudinho, meu genro, está fora
a trabalho. Consegui estacionar próximo ao edifício do consultório.
Quando elas saiam do edifício, onde fica o consultório
do ginecologista, olhei ansioso para ver como que Pretinha e sua mãe estavam.
Elas entraram eufóricas no carro:
- Pai, mó
cabeçudo...
- Mozinho, cê
precisa ver que gracinha, os bracinhos, os pezinhos...
- Pai, mó
cabeçudo...
FEVEREIRO
No fundo estou
morrendo de medo do que vem por aí depois dos sessenta, especialmente com
alguém que nos chega em agosto. Vou mostrar-lhe patos, peixes, tartaruga,
jabuti, Zuca, Laka e passarinhos. Vou contar-lhe histórias absurdas que só eu
acredito. Vou construir carrinhos de rolimã ou casinha de bonecas, com
instalação hidráulica e coisa e tal.
Vou fazê-lo(a) sorrir.
Papai e mamãe, ôôô,
eles já sabiam que eu estava aqui. Só que eles não sabiam que eu era eu. Era só
um neném.
Hoje eles ficaram
sabendo.
Que eu sou a Liz.
MARÇO PLANOS
Ao cair da tarde a
levarei, de mãos dadas, a passear pelas ruas do nosso condomínio. No retorno,
cansada Liz pedirá colo. E eu a trarei contando histórias fabulosas ocorridas
na mata que nos rodeia.
Quando chegarmos em
casa, Liz perguntará ao papai, à mamãe e à vovó se tudo que o vovô contou foi
verdade.
Eles nunca saberão
exatamente o que eu estive contando para Liz nos passeios nas tardes de
domingo.
Esse é o patrimônio que o vovô quer deixar: que Liz
sonhe.
ABRIL AGOSTO
Agora energético na
veia vem mesmo é daqui a quatro meses. Como demora, meu Deus? Se bem que
ansiedade num é bom prá saúde.
Liz só deve estar “passando
um batonzinho”.
MAIO PUF
“Teve um dia
que o vovô tava viajando de balão aí anoiteceu e ele teve que ficar estacionado
na lua, só voltando para casa no dia seguinte. Aí quando ele chegou, a vovó
ralhou brava com ele porque ele num tinha avisado onde ia. Aí o vovô falou prá
vovó que tinha dormido na lua e a vovó disse que ele era doido, como ele pode
ter dormido na lua sem ter levado nenhum agasalho.
- E faz frio
na lua, vovô?
- Fazer
frio faz, mas o vovô achou um pedacinho de sol e ficou dormindo debaixo dele
até demanhãnzinha.”
JUNHO PORQUÊS
- Vovô, puxa... Eu só te perguntei de onde vêm os bebês.
- Eu já te disse, Liz. Da felicidade.
- Então eu vim da felicidade da mamãe e do papai?
- Sim.
- Vovô, o que é transar?
- Hein???!!!
- É que um menino lá da escola falou que os bebês vêm depois que o
papai e a mamãe deles transam...
- Viu Liz? Por isso que eu te disse que você deveria perguntar prá sua
mãe...
JULHO ESPERA
Meço medidas do quarto de nossa casa em Santa Luzia onde eles ficarão,
espero, nos intervalos da lida. Onde colocaremos a poltrona em que Pretinha se
sentará para nutrir a flor; as prateleiras para colocar coisinhas, xampus,
talcos, trequinhos. O berço ficará voltado para o corredor, imaginar-me na
cozinha e Liz ao acordar levantar-se e chamar:
- Vovô!!! Vovó!!!
Estamos a trinta ou trinta e
cinco dias da Felizcidade.
AGOSTO PULSAR
Ele se dirige para a antessala separada por uma chapa de vidro e vê, no
interior do berçário, sua esposa e seu genro acompanhando a enfermeira que
coloca sua netinha numa incubadora. De lá de fora, através de gestos com as
mãos, consulta se tudo está bem.
Ele está absolutamente certo
de que viveu integralmente o dia 01 de agosto de 2012, desde o seu despertar
até o momento em que desabou sobre sua cama para dormir o sono dos coadjuvantes.
SETEMBRO MÊS
Hoje ela ainda procura entender espaços mais claros e mais escuros,
sente desconfortos físicos especialmente os de temperatura e “prazeres” mais
complexos como quando lhe surge aquele rosto permanente que a fita e do qual
emanam sons que se repetem inúmeras vezes ao dia:
- Ó minha filhinha, ó minha
princesa...
OUTUBRO SESSENTA
Eu sei bem o que vejo quando a olho. Ouso dizer e se for preciso eu
mostro fotos quando tinha menos idade, ali pelos um ou dois anos de vida. Liz
está a minha cara. Até Claudinho, o pai, já passou a reconhecer o fato
inconteste. Ele mesmo diz que quando ela está séria, ou irritada, lembra muito
a minha expressão.
Quando ela ri, Claudinho diz
que ela se parece com ele. Vamos acompanhar o desenvolvimento da criança. No
fundo o que importa é que Liz está cada vez mais linda, especialmente quando
está séria.
NOVEMBRO NOVENTA
A Noninha pesou 4,975 quilos e mediu 58 centímetros.
Aos poucos vai se incorporando à paisagem como alguém com quem se
interage. Ela nos acompanha, alguns até busca (eu, por exemplo) com o olhar.
Para alguns ela sorri, dá até gargalhada e deixa escapar uns gritinhos.
Não gosta de trocar roupa e também não gosta de ficar no colo deitada
com a cabeça prá cima, prefere passear deitada de bruços sobre o braço de quem
a carrega. Se você der umas palmadas de leve na bundinha dela, ela apreciará.
Doce Liz !!! Doce FeLiz !!!
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