sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

CONCEITO



O Chile conta hoje, nos disse Eduardo (nosso guia em Santiago), com mais de oitenta por cento de sua população (dezesseis milhões) vivendo em áreas urbanas. Somente na capital purulam mais de seis milhões de pessoas.

O país vem experimentando um desenvolvimento econômico invejável, o mais expressivo da América do Sul: seis por cento de crescimento do PIB em 2012 com inflação zero. De um de seus personagens trágicos da história recente, ficou estampada em placa fixada abaixo do monumento de corpo inteiro, cravado ao lado do Palácio de la Moneda, a frase dita pouco antes do suicídio: “TENGO FÉ EM CHILE Y SU DESTINO”. 11 DE SETEMBRO DE 1973.

Efeito do boom é o número de jovens casais visivelmente confiantes com seus dois ou três filhos transitando, aos montes, pelas ruas da cidade. Outro é a expansão da urbe para o sul e para o leste, edificada pelo poder financeiro de seus empreendedores que não medem conseqüências estéticas, urbanísticas trazidas pelos seus megaprojetos falônicos. A cordilheira que se cuide, ela será ocupada já já.

Ontem senti, passeando em tour por Santiago, mais um sinal inexorável da velhice. Não, nada a ver com caminhar à exaustão. Falo do homem maduro que se torna ranzinza.  

Tudo bem que o pógresso (assim mesmo) tem que tratorar a história dos povos. Tudo bem que a tecnologia tem que superar o arcaico. Tudo bem que se dane o mundo: “O que eu quero é megaexplorar”. Sei não, mas que é triste, prá mim é.

Ao longo das três horas fomos inquirindo nosso guia e eu com os olhos postos no que se passava e nas edificações. Minha sensibilidade de troglodita, minha verve poética, meus olhos simplesmente não gostaram do que constataram.

Verdade que esse dissabor não pertence exclusivamente a Santiago, nossa Belo Horizonte sublima seus tenebrosos vales de cristais e belvederes tenebrosos para não dizer escrotos.

Não há limite para a estupidez.

Sob certa perspectiva se vê o antigo Congresso Nacional, o Palácio da Justiça e a frente de ambos, um edifício de escritório com janelas espelhadas e, mais atrás  um prédio de apartamentos em obras que rompe acima de outra construção maravilhosa do século passado.

Em outra região, que se expande vertiginosamente, por onde grassa a grana constroem um centro comercial com a maior torre da América do Sul, setenta andares, trezentos e poucos metros de altura.

Incrível estrutura em vidros espelhados, desafiando de forma contundente a natureza: o Chile é o país que está sobre o solo mais sísmico do mundo. Nós somos literamente foda, nossa tecnologia pode tudo.

No entanto, a mega obra está sendo construída onde o tráfico de automóveis da região já é caótico com velocidade em torno de 30 km/h. Quando for inaugurado o centro comercial, vão descobrir que para ali devem ir pessoas. Eu, não sei como.

Eu disse que fiquei ranzinza.

Mas não só de tristeza inútil foi o nosso tour em Santiago. No centro da cidade há um Café. O empresário ousou. O conceito do Café é: Café de Pernas. Por quê? As belas atendentes usam micro vestidos, minissaias ou shortinhos de fazer qualquer ancião perder o fôlego. Elas desfilam, enquanto servem aos clientes, sobre uma passarela que fica atrás do balcão.

Eduardo nos disse que recebeu um grupo de professores de astronomia e os levou para conhecer o lugar. Em dado momento flagrou um dos mestres com a câmera fotográfica debaixo do balcão tentando capitar o que o levaria às estrelas.

Outro Café ousou mais ainda. As atendentes trajavam somente biquínis e em dado momento do dia ocorria o “minuto feliz”. Em uma única vez no dia, em horários variados e não sabidos pelos clientes, elas todas tiravam a parte de cima do biquíni e esquentavam a turma.

O café foi fechado. Causava um baita tumulto, dada a sua lotação diária. Tinha cliente que passava o dia inteiro dentro do café.

Pois é, para não se ficar ranzinza de todo, há que se procurar pela cidade lugares onde a gente possa ver estrelas.


Até breve.  

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