O Chile conta hoje, nos disse Eduardo
(nosso guia em Santiago), com mais de oitenta por cento de sua população (dezesseis
milhões) vivendo em áreas urbanas. Somente na capital purulam mais de seis milhões de pessoas.
O país vem experimentando um
desenvolvimento econômico invejável, o mais expressivo da América do Sul: seis
por cento de crescimento do PIB em 2012 com inflação zero. De um de seus
personagens trágicos da história recente, ficou estampada em placa fixada
abaixo do monumento de corpo inteiro, cravado ao lado do Palácio de la Moneda, a
frase dita pouco antes do suicídio: “TENGO FÉ EM CHILE Y SU DESTINO”. 11 DE
SETEMBRO DE 1973.
Efeito do boom é o número de jovens
casais visivelmente confiantes com seus dois ou três filhos transitando, aos
montes, pelas ruas da cidade. Outro é a expansão da urbe para o sul e para o
leste, edificada pelo poder financeiro de seus empreendedores que não medem conseqüências
estéticas, urbanísticas trazidas pelos seus megaprojetos falônicos. A
cordilheira que se cuide, ela será ocupada já já.
Ontem senti, passeando em tour por
Santiago, mais um sinal inexorável da velhice. Não, nada a ver com caminhar à
exaustão. Falo do homem maduro que se torna ranzinza.
Tudo bem que o pógresso (assim
mesmo) tem que tratorar a história dos povos. Tudo bem que a tecnologia tem que
superar o arcaico. Tudo bem que se dane o mundo: “O que eu quero é megaexplorar”. Sei não, mas que é triste, prá mim
é.
Ao longo das três horas fomos
inquirindo nosso guia e eu com os olhos postos no que se passava e nas
edificações. Minha sensibilidade de troglodita, minha verve poética, meus olhos
simplesmente não gostaram do que constataram.
Verdade que esse dissabor não
pertence exclusivamente a Santiago, nossa Belo Horizonte sublima seus
tenebrosos vales de cristais e belvederes tenebrosos para não dizer escrotos.
Não há limite para a estupidez.
Sob certa perspectiva se vê o
antigo Congresso Nacional, o Palácio da Justiça e a frente de ambos, um
edifício de escritório com janelas espelhadas e, mais atrás um prédio de apartamentos em obras que rompe acima de outra construção maravilhosa do século passado.
Em outra região, que se expande
vertiginosamente, por onde grassa a grana constroem um centro comercial com a
maior torre da América do Sul, setenta andares, trezentos e poucos metros de
altura.
Incrível estrutura em vidros
espelhados, desafiando de forma contundente a natureza: o Chile é o país que
está sobre o solo mais sísmico do mundo. Nós somos literamente foda, nossa
tecnologia pode tudo.
No entanto, a mega obra está sendo
construída onde o tráfico de automóveis da região já é caótico com velocidade
em torno de 30 km/h. Quando for inaugurado o centro comercial, vão descobrir
que para ali devem ir pessoas. Eu, não sei como.
Eu disse que fiquei ranzinza.
Mas não só de tristeza inútil foi o
nosso tour em Santiago. No centro da cidade há um Café. O empresário ousou. O
conceito do Café é: Café de Pernas. Por quê? As belas atendentes usam micro vestidos,
minissaias ou shortinhos de fazer qualquer ancião perder o fôlego. Elas
desfilam, enquanto servem aos clientes, sobre uma passarela que fica atrás do
balcão.
Eduardo nos disse que recebeu um
grupo de professores de astronomia e os levou para conhecer o lugar. Em dado
momento flagrou um dos mestres com a câmera fotográfica debaixo do balcão
tentando capitar o que o levaria às estrelas.
Outro Café ousou mais ainda. As
atendentes trajavam somente biquínis e em dado momento do dia ocorria o “minuto
feliz”. Em uma única vez no dia, em horários variados e não sabidos pelos clientes, elas todas tiravam a
parte de cima do biquíni e esquentavam a turma.
O café foi fechado. Causava um baita tumulto, dada a sua lotação diária. Tinha cliente que passava o dia inteiro
dentro do café.
Pois é, para não se ficar ranzinza
de todo, há que se procurar pela cidade lugares onde a gente possa ver estrelas.
Até breve.
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