Perdoem-me, há dores a relatar e
deixar como registro à reflexão e à memória. Episódios que envolveram a
desconhecidos, um amigo e a pequenos seres da natureza. Ao longo da semana,
perdas que me sensibilizaram.
Talvez por ter assistido, também
nesta semana, ao filme “E se nós
vivêssemos todos juntos”, um convite contundente à realidade.
Primeiro relato:
Noticiário da terça-feira. A esposa
pediu ao marido, jovem comerciante de vinte e nove anos, que levasse a filhinha
de dez meses para a creche. Era hora do almoço e o marido parou o carro em
frente a um restaurante, desceu, encontrou amigos que lhe convidaram para
almoçar. Ele aceitou, almoçou com os amigos e, na saída, convidaram-no para ir
com eles de carona para o trabalho. O jovem deixou o carro estacionado na
frente do restaurante e foi com os amigos para o trabalho. Eram pouco mais de
duas horas da tarde.
Pouco mais de cinco horas da tarde
ele recebeu ligação da esposa, aflita, dizendo que tinha ido à creche e as
professoras estranharam ao vê-la, pois sua filha não havia estado ali naquela
tarde. O jovem desesperou-se, havia deixado a filhinha dentro do carro. Ligou
para um amigo que estava próximo do local onde havia estacionado e pediu que
ele quebrasse o vidro e tirasse a criança do carro.
Tarde demais. O carro ficou exposto
a um calor de mais de trinta e oito graus. A criança foi resgatada, mas deu
entrada no hospital já sem vida.
Segundo relato:
Na quarta-feira, por volta das oito
horas da noite, um amigo querido escreveu um pequeno bilhete de poucas e curtas
frases e o deixou sobre a sua mesa de trabalho. Todos já haviam deixado o
escritório, ele estava sozinho. Entrou no toalete reservado, dependurou seu
paletó do terno, tirou a gravata, colocou o cano de um revolver calibre 22
dentro da boca e puxou o gatilho.
“Não aguento mais”, teria sido a primeira frase escrita no bilhete
deixado sobre a mesa de trabalho.
Compus com ele e outra amiga comum
no Teatro Sesi mesa para debater o livro Reinventando o Governo e, me lembro
bem, ele pode mostrar toda a profundidade da sua inteligência política.
Fino, erudito, inteligente,
viajado, sensível, há alguns atrás estivemos muito juntos. Tínhamos, em
conjunto com outros amigos comuns, a ideia de instalar o que nomeamos de FMI
que vinha a ser: FÓRUM MINEIRO DE IDÉIAS. Instituto livre para o debate e
produção em qualquer área do conhecimento, cultura e artes da nossa terra. Não
vingou, por razões várias.
Ele foi encontrado na quinta-feira,
pela manhã, quando todos chegavam para o dia normal de trabalho.
Terceiro relato:
Chegamos ontem a nossa casa em
Santa Luzia já bem tarde da noite. Hoje cedo nossa caseira veio nos comunicar
que os patinhos, que nasceram há uma semana, foram devorados por gambás vindos
da mata.
Vida é sopro.
Até breve.
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