Recebi email de uma amiga, mais do
que irmã, onde ela comenta sobre o post do ultimo dia 15, PROCLAMAÇÃO. Escreveu
ela:
“Você pode se indignar com os políticos, se
entristecer com o que estamos fazendo com o nosso país, mas não pode negar que
a vida tem sido generosa com você. Se não fosse por tudo que você mencionou no
seu post – das coisas mais simples do cotidiano ao inusitado vivido aqui e além-mar
– seria por esta neta linda, que a cada dia que passa fica com a expressão, o
olhar de quem tem muita personalidade, e fará diferença neste mundo”.
O filósofo e ex-ministro da Cultura, Educação e
Juventude da França Luc Ferry disse que “temos
muito mais necessidade de inteligência e coragem do que de indignação”. “Estou
cansado de jornalistas que todo dia denunciam que tal político fez isto ou fez
aquilo, que isto está acontecendo desta ou daquela maneira, quando deveriam
mesmo é estar se indignando com seus próprios atos”.
Minha querida amiga e o brilhante filósofo me
levaram a refletir.
Sem dúvida a vida tem sido mais do que generosa
comigo e, no limite de minhas possibilidades, tenho usado de alguma
inteligência e alguma coragem para fazer o curso de minha vida.
Ocorre, talvez, que seja por isto mesmo que tenho
me dedicado, face as minhas condições atuais, a debruçar um olhar sobre o que
se passa lançando mão de um veículo precioso e potente, como a rede, para
externar opinião.
Sei que no conjunto das manifestações, uma a mais
uma a menos, não fará diferença. No
entanto, por que não fazê-lo? Já percebi que sou mais lido quando palavro sobre
minhas proximidades e, suponho que alguns leitores dão de ombros aos meus
comentários amargos sobre o escaninho de OLHAR.
Sei, mas faço minhas penitências diárias sobre meus
crimes inconfessáveis e hediondos analisados sobre a perspectiva de minha ética
desejada. Deles não falo e jamais falarei nem sobre tortura. Meus equívocos e
minhas dores mais íntimas são a única dimensão possível de minha
particularidade. Minha indignação comigo mesmo a mim pertence e não a
compartilho com ninguém, nem com a pessoa que me governa e que comigo troca a
vida há mais de quarenta anos.
Estou indo para o fim do mundo no próximo dia 30. Vou para a Patagônia Chilena e me
hospedarei em um hotel situado no centro do Parque Nacional Torres Del Paine. O
hotel foi construído em um terreno de quase três hectares, onde possui uma
vista privilegiada do Macizo del Paine e de duas das três torres que dão nome
ao parque, declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1978. Depois faço um
tour em Santiago e devo visitar, novamente, a casa onde viveu Neruda.
Por que me indignar, então? Mais uma vez a vida me
premia majestosamente. Se não bastassem privilégios incomuns, ainda diariamente
experienciar o desenvolvimento de Liz, que sim, já fez diferença em nosso
mundo.
Amanhã faço palestra para dirigentes e gestores do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Não levarei nenhuma indignação, apenas
tentarei contribuir para que aquela instituição realize a sua missão: “... atender aos anseios da sociedade e
constituir-se em instrumento efetivo de justiça, equidade e de promoção da paz
social”.
É quase certo que falarei de Liz, pois precisarei
de coragem.
Até breve.
....a vida quer da gente coragem - Guimarães Rosa
ResponderExcluirliz!!