segunda-feira, 26 de novembro de 2012

POLARES



Recebi email de uma amiga, mais do que irmã, onde ela comenta sobre o post do ultimo dia 15, PROCLAMAÇÃO. Escreveu ela:

Você pode se indignar com os políticos, se entristecer com o que estamos fazendo com o nosso país, mas não pode negar que a vida tem sido generosa com você. Se não fosse por tudo que você mencionou no seu post – das coisas mais simples do cotidiano ao inusitado vivido aqui e além-mar – seria por esta neta linda, que a cada dia que passa fica com a expressão, o olhar de quem tem muita personalidade, e fará diferença neste mundo”.

O filósofo e ex-ministro da Cultura, Educação e Juventude da França Luc Ferry disse que “temos muito mais necessidade de inteligência e coragem do que de indignação”. “Estou cansado de jornalistas que todo dia denunciam que tal político fez isto ou fez aquilo, que isto está acontecendo desta ou daquela maneira, quando deveriam mesmo é estar se indignando com seus próprios atos”.

Minha querida amiga e o brilhante filósofo me levaram a refletir.

Sem dúvida a vida tem sido mais do que generosa comigo e, no limite de minhas possibilidades, tenho usado de alguma inteligência e alguma coragem para fazer o curso de minha vida.

Ocorre, talvez, que seja por isto mesmo que tenho me dedicado, face as minhas condições atuais, a debruçar um olhar sobre o que se passa lançando mão de um veículo precioso e potente, como a rede, para externar opinião.

Sei que no conjunto das manifestações, uma a mais uma a menos, não fará diferença.  No entanto, por que não fazê-lo? Já percebi que sou mais lido quando palavro sobre minhas proximidades e, suponho que alguns leitores dão de ombros aos meus comentários amargos sobre o escaninho de OLHAR.

Sei, mas faço minhas penitências diárias sobre meus crimes inconfessáveis e hediondos analisados sobre a perspectiva de minha ética desejada. Deles não falo e jamais falarei nem sobre tortura. Meus equívocos e minhas dores mais íntimas são a única dimensão possível de minha particularidade. Minha indignação comigo mesmo a mim pertence e não a compartilho com ninguém, nem com a pessoa que me governa e que comigo troca a vida há mais de quarenta anos.

Estou indo para o fim do mundo no próximo dia 30. Vou para a Patagônia Chilena e me hospedarei em um hotel situado no centro do Parque Nacional Torres Del Paine. O hotel foi construído em um terreno de quase três hectares, onde possui uma vista privilegiada do Macizo del Paine e de duas das três torres que dão nome ao parque, declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1978. Depois faço um tour em Santiago e devo visitar, novamente, a casa onde viveu Neruda.

Por que me indignar, então? Mais uma vez a vida me premia majestosamente. Se não bastassem privilégios incomuns, ainda diariamente experienciar o desenvolvimento de Liz, que sim, já fez diferença em nosso mundo.

Amanhã faço palestra para dirigentes e gestores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Não levarei nenhuma indignação, apenas tentarei contribuir para que aquela instituição realize a sua missão: “... atender aos anseios da sociedade e constituir-se em instrumento efetivo de justiça, equidade e de promoção da paz social”.

É quase certo que falarei de Liz, pois precisarei de coragem.


Até breve.

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