Para a escritora e
presidente da Academia Brasileira de Letras Ana Maria Machado o prazer de
escrever é o de poder tocar o outro. Fazer com que o outro se encontre na gente
e que cada um conheça mais a partir do que a gente escreveu.
Já para Anthony Burgess,
escrever é um ofício inofensivo. Escritores colocam palavras vulgares na boca
de seus personagens e os descrevem transando ou fazendo necessidades. Além
disso, não é um ofício útil, como de um carpinteiro ou de um padeiro. O
escritor faz o tempo passar entre uma ação útil e outra; ajuda a preencher os
buracos que surgem na árdua trama da existência. É um mero recreador, um tipo
de palhaço. Ele faz malabarismos com palavras como se estas fossem bolas
coloridas.
Ontem fui recriminado
por publicar posts com questões da intimidade de algumas pessoas próximas.
- “Se você escrevesse algo que me envolvesse eu ia fica put... Era até
capaz de nunca mais falar contigo”.
Interessante.
Quando eu debruço sobre
o texto, já disse isto aqui algumas vezes, não o faço de cabeça pronta. Quase
sempre só vou interpretar o que escrevi após tê-lo feito. Ultimamente tenho
visitado meus textos mais antigos, entre os trezentos posts aqui publicados e,
confesso, tenho me surpreendido com alguns deles.
Embora, de fato, alguns tenham
sido relatos de experiências reais, posso garantir que a totalidade deles não
foi com a intenção de tratar do fato em si, mas o que ele envolve e, muitas
vezes, como aquilo me afetou. Então, entendo quem fica exposto sou eu e não
meus “personagens”.
O blog é descaradamente
minha catarse diante da vida. Não tenho o menor constrangimento em dizer que o
que posto diz respeito a uma necessidade imperiosa, de registrar e elaborar a
partir daí um sentido. Faço uso dos meus familiares, dos meus amigos, às vezes?
Ora, para que eles me servem senão para me ajudar a entender?
Pretinha mandou
mensagens e me disse: “Pai, o post de
ontem (POR QUÊ) é pura tragédia, caramba!” E eu, que quando terminei de
escrevê-lo, fiquei paralisado na última frase?
A VIDA É SOPRO.
Nos posts de relatos
mais íntimos, especialmente envolvendo pessoas amigas, procurei não citar os
nomes e confesso, não para preservá-los o que entendo que deva fazê-lo, mas porque
se quem lê aproveita o fato em si, fui medíocre. Isto sim me doerá muito mais
do que a suposição de que eu tenha invadido a privacidade de entes queridos por
puro deleite.
Escrevo, portanto, para
compartilhar e isto só é possível quando há entrega, sobretudo daquele que lê.
Eu inclusive, que jamais
saberei tudo de mim.
Até breve.
É aquela velha questão de que não podemos agradar a todos.. e será que devemos? Porque sempre vão haver, mas , porém.. e opiniões diversas.. Acredito que a essência aqui descrita não foi singularizar o outro. Para mim é simplesmente um relato do seu ponto de vista, das suas vivencias..A importância aqui está no todo, além do umbigo de cada um. E quem convive com você corre o risco de aparecer mesmo por aqui... e daí? Faz parte...
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