No último domingo fomos convidados
para assistir a um espetáculo de balé contemporâneo. No palco a filha de um
casal de amigos, que completou este ano dezoito anos de idade.
Quando ela era pequena, tipo dois
ou três anos de idade, nos visitou em nossa casa de Santa Luzia. Eu havia
acabado de fazer uma casinha de madeira para nossa cadela. A hoje bailarina
entrou e saiu dessa casinha inúmeras vezes achando o máximo.
Das vinte músicas coreografadas ela
esteve em cinco. Naturalmente me preparei para prestar atenção nela, até para, no
final do espetáculo se perguntado pelo casal de amigos, eu pudesse fazer algum
comentário pertinente e fundado em algum movimento que eu pudesse ter
registrado.
Num deu.
É que já na primeira coreografia eu
fui magnetizado pelo esplendor daquela menina e, embora quisesse, não conseguia
olhar para os demais bailarinos que compunham com ela o grupo que se
apresentava.
Eu não sei nada de balé e não foi
pela coreografia que já na primeira música eu me vi às lágrimas. Caramba, prá
mim, é muita coragem alguém se propor artista, especialmente em área tão pouco
valorizada, conhecida, procurada.
Desde sempre ela girou em torno
desse propósito e quando ela entrou no palco e dos potentes alto-falantes do
teatro surgiu CAIS, na voz de Elis, alguns versos tornaram-se mais belos,
pertinentes e oportunos:
“Eu queria ser feliz, invento o mar
Invento em mim, o sonhador.
Para quem quer me seguir, eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis.
E sei me lançar”.
Quando saíamos do teatro um dos
coreógrafos da academia de dança responsável pelo espetáculo veio ao encontro
do nosso amigo, pai da artista. Eufórico, gesticulando muito o mestre disse:
- “Eu vou fazer um solo para ela... Uma maravilha! O Palhaço de Egberto
Gismonti”.
- “Eu tenho em vinil”, respondeu o pai, coruja pura.
Quando nos despedíamos, nossos
amigos nos agradeceram várias vezes pela nossa presença, perguntando se nós
gostamos ou não. Na verdade saímos com um tremendo orgulho.
Nós temos entre nós uma estrela de
primeira grandeza, que não percorrerá um caminho fácil, que sabe a dor de se lançar, mas que tem a
coragem, a humildade, a determinação de procurar lugar sob as luzes da ribalta.
Eu estarei seguramente, doravante,
em todo e qualquer espetáculo em que ela se apresentar. E levarei lenços.
Não mais precisarei de convites de
seus pais. Se nos encontrarmos na saída do teatro, que não perguntem se eu
gostei ou não.
Até breve.
que privilégio ...quanta poesia, emoção e sensibilidade ..que ela se lance porque sabe que podemos estar por perto ...meu carinho é enorme por vcs!!
ResponderExcluirMeu Desus ... eu precisava ter nascido, andado alguns kilometros ... enfrentado tempestades ...curtido o por ou nascer do sol ... Mas, eu precisava ter lido sobre ALICE ...Obrigada...Muito Obrigada ...por mim e pela minha família ( Madra)
ResponderExcluirA escolha com certeza não é fácil, mas ter você na plateia é um estímulo a mais! É uma honra pra mim ler esse texto, Agulhô! Sem palavras para agradacer as maravilhosas palavras! Grande beijo, Alice
ResponderExcluir