terça-feira, 27 de novembro de 2012

ALICE




No último domingo fomos convidados para assistir a um espetáculo de balé contemporâneo. No palco a filha de um casal de amigos, que completou este ano dezoito anos de idade.

Quando ela era pequena, tipo dois ou três anos de idade, nos visitou em nossa casa de Santa Luzia. Eu havia acabado de fazer uma casinha de madeira para nossa cadela. A hoje bailarina entrou e saiu dessa casinha inúmeras vezes achando o máximo.

Das vinte músicas coreografadas ela esteve em cinco. Naturalmente me preparei para prestar atenção nela, até para, no final do espetáculo se perguntado pelo casal de amigos, eu pudesse fazer algum comentário pertinente e fundado em algum movimento que eu pudesse ter registrado.

Num deu.

É que já na primeira coreografia eu fui magnetizado pelo esplendor daquela menina e, embora quisesse, não conseguia olhar para os demais bailarinos que compunham com ela o grupo que se apresentava.

Eu não sei nada de balé e não foi pela coreografia que já na primeira música eu me vi às lágrimas. Caramba, prá mim, é muita coragem alguém se propor artista, especialmente em área tão pouco valorizada, conhecida, procurada.

Desde sempre ela girou em torno desse propósito e quando ela entrou no palco e dos potentes alto-falantes do teatro surgiu CAIS, na voz de Elis, alguns versos tornaram-se mais belos, pertinentes e oportunos:

“Eu queria ser feliz, invento o mar
Invento em mim, o sonhador.
Para quem quer me seguir, eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis. 
E sei me lançar”.

Quando saíamos do teatro um dos coreógrafos da academia de dança responsável pelo espetáculo veio ao encontro do nosso amigo, pai da artista. Eufórico, gesticulando muito o mestre disse:

- “Eu vou fazer um solo para ela... Uma maravilha! O Palhaço de Egberto Gismonti”.

- “Eu tenho em vinil”, respondeu o pai, coruja pura.

Quando nos despedíamos, nossos amigos nos agradeceram várias vezes pela nossa presença, perguntando se nós gostamos ou não. Na verdade saímos com um tremendo orgulho.

Nós temos entre nós uma estrela de primeira grandeza, que não percorrerá um caminho fácil, que sabe a dor de se lançar, mas que tem a coragem, a humildade, a determinação de procurar lugar sob as luzes da ribalta.

Eu estarei seguramente, doravante, em todo e qualquer espetáculo em que ela se apresentar. E levarei lenços.

Não mais precisarei de convites de seus pais. Se nos encontrarmos na saída do teatro, que não perguntem se eu gostei ou não.


Até breve.

3 comentários:

  1. que privilégio ...quanta poesia, emoção e sensibilidade ..que ela se lance porque sabe que podemos estar por perto ...meu carinho é enorme por vcs!!

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  2. Meu Desus ... eu precisava ter nascido, andado alguns kilometros ... enfrentado tempestades ...curtido o por ou nascer do sol ... Mas, eu precisava ter lido sobre ALICE ...Obrigada...Muito Obrigada ...por mim e pela minha família ( Madra)

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  3. A escolha com certeza não é fácil, mas ter você na plateia é um estímulo a mais! É uma honra pra mim ler esse texto, Agulhô! Sem palavras para agradacer as maravilhosas palavras! Grande beijo, Alice

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