Assistimos ontem, na TV, ao belíssimo filme: “A criança da meia
noite”(*).
Romain é um adolescente de quatorze anos como qualquer outro. Ele
gosta de sair à rua, gosta de surfar, jogar rúgbi, tem os mesmos desejos de jovens
de sua idade. O que o difere dos outros é que ele troca o dia pela noite para
poder fazer o que gosta, porque Romain tem uma doença que não o permite ser
exposto a raios ultravioletas.
Ele sai normalmente à noite e, quando sai durante o dia, é
obrigado a usar uma roupa especial, luvas e uma máscara desenvolvida pela NASA.
Até para entrar em lugares com claridade artificial, ele usa um medidor para aferir
se a luminosidade está em níveis suportáveis.
O pai fugiu com medo do futuro, quando descobriu que a doença traria
ao filho graves complicações e até implicar em um câncer. Por força
disto, o garoto projetou a ausência da figura paterna em seu médico, o doutor
David.
David, que trata Romain desde criança, desenvolve um laço
recíproco com o garoto além da relação médico-paciente. Mas o doutor recebe uma
proposta de trabalho no setor de doenças raras na OMS e não sabe como contar
para seu paciente preferido que ele será obrigado a deixar o hospital.
Ao longo do filme experimentei diferentes reflexões e sentimentos,
todos relacionados a quão é difícil ser pai, especialmente quando as coisas não
saem segundo foram desejadas e para as quais, supostamente, se trabalhou.
Lembrei-me agora da reportagem recente de um pai, aqui em Belo
Horizonte, que projetou e fez botas especiais para seu filho que sofre de
paralisia cerebral e não conseguia jogar futebol com os colegas. O artefato
ligando os dois permite ao filho, agora ancorado pelo pai, a prática ainda que
precária, do esporte.
Ontem, também e por acaso, estando com Pretinha ela leu uma
citação de uma fala de Freud à uma jovem mãe: “Eduque-o como quiser, de
qualquer maneira há de educá-lo mal.”
Disso tudo, a questão que me acomete é: quando faltam elementos ao
pai para “salvar” o filho de si mesmo, envolto em questões pessoais e
históricas que ele próprio é quem teria que investigar, como agir?
Especialmente quando ele já não tem mais quatorze anos.
Até breve.
(*) A CRIANÇA DA MEIA-NOITE
Diretor: Delphine Gleize
Elenco: Vincent
Lindon, Emmanuelle Devos, Quentin Challal, Caroline Proust, Nathalie Boutefeu,
Laurent Capelluto, Solène Rigot, Maxime Renard, Alexandre Boucher, Noémie
Dujardin
Roteiro: Delphine Gleize
Ano: 2011
País: França
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