terça-feira, 30 de outubro de 2012

RESPONSABILIDADE



Assistimos ontem, na TV, ao belíssimo filme: “A criança da meia noite”(*).

Romain é um adolescente de quatorze anos como qualquer outro. Ele gosta de sair à rua, gosta de surfar, jogar rúgbi, tem os mesmos desejos de jovens de sua idade. O que o difere dos outros é que ele troca o dia pela noite para poder fazer o que gosta, porque Romain tem uma doença que não o permite ser exposto a raios ultravioletas.

Ele sai normalmente à noite e, quando sai durante o dia, é obrigado a usar uma roupa especial, luvas e uma máscara desenvolvida pela NASA. Até para entrar em lugares com claridade artificial, ele usa um medidor para aferir se a luminosidade está em níveis suportáveis.

O pai fugiu com medo do futuro, quando descobriu que a doença traria ao filho graves complicações e até implicar em um câncer. Por força disto, o garoto projetou a ausência da figura paterna em seu médico, o doutor David.

David, que trata Romain desde criança, desenvolve um laço recíproco com o garoto além da relação médico-paciente. Mas o doutor recebe uma proposta de trabalho no setor de doenças raras na OMS e não sabe como contar para seu paciente preferido que ele será obrigado a deixar o hospital.

Ao longo do filme experimentei diferentes reflexões e sentimentos, todos relacionados a quão é difícil ser pai, especialmente quando as coisas não saem segundo foram desejadas e para as quais, supostamente, se trabalhou.

Lembrei-me agora da reportagem recente de um pai, aqui em Belo Horizonte, que projetou e fez botas especiais para seu filho que sofre de paralisia cerebral e não conseguia jogar futebol com os colegas. O artefato ligando os dois permite ao filho, agora ancorado pelo pai, a prática ainda que precária, do esporte.

Ontem, também e por acaso, estando com Pretinha ela leu uma citação de uma fala de Freud à uma jovem mãe: “Eduque-o como quiser, de qualquer maneira há de educá-lo mal.”

Disso tudo, a questão que me acomete é: quando faltam elementos ao pai para “salvar” o filho de si mesmo, envolto em questões pessoais e históricas que ele próprio é quem teria que investigar, como agir?

Especialmente quando ele já não tem mais quatorze anos.

Até breve.
(*) A CRIANÇA DA MEIA-NOITE
Diretor: Delphine Gleize
Elenco: Vincent Lindon, Emmanuelle Devos, Quentin Challal, Caroline Proust, Nathalie Boutefeu, Laurent Capelluto, Solène Rigot, Maxime Renard, Alexandre Boucher, Noémie Dujardin
Roteiro: Delphine Gleize
Ano: 2011
País: França



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