Essa cambada acordou às dez da
noite. Tinham desabado cada um em camas dos quartos, sofá da sala, redes e
sofás das varandas, às sete. Eu, anfitrião, perdi os sentidos às seis, mas por
volta das sete e qualquer coisa tava de pé.
Pois bem.
Eles chegaram a partir do meio-dia
trazendo sacolas, embrulhos com ingredientes culinários de toda monta, isto
aquilo e aquilo outro, até hóstia para fazer base ao caviar.
Duas majestosas lagostas decoradas
com três fiotes, um trem de arrepiar. Canelone feita em casa, assim como seu
molho de tomates. Camarão de mares de deuses.
Tomamos de um tudo: tinto, branco,
sevada e branquinha que só um sorveu meia garrafa. Assim, na veia,
liberando os conformes.
Viver, no bastante, perdeu
controles. A gente foi fundo nas prosas,
regadas a música que surgia do IPod, aleatoriamente em ritmos e intérpretes.
Ajudava à química forjada em anos de cumplicidade, admiração e respeito
recíprocos.
Foi de muito e encerrou às seis,
quando todos capitulamos aos alcoóis e às lagostas com seus fiotes, às prosas e
aos sons de bons acordes e até fados.
Quando acordei estavam Ela e duas
outras conversando na cozinha. Juntei-me a elas até as dez, quando a récua
começou a aparecer de novo.
- Vamos fazer só o canelone?
Não. O camarão também saiu
salteado, exalando da frigideira um perfume que deixou até a Zuca incrédula.
Eram duas da madruga, quando
servimos.
- “Eu posso morrer hoje.” Disse alguém, para enunciar o que verdadeiramente
basta.
Passava das três e tantas, quando
subimos para recolher corpos e espíritos. Sentamos todos à mesa e abrimos a
décima-quarta garrafa de um tinto cujo rótulo dava sinal de como estávamos:
DOMADOS.
Ao longo do dia alguns disseram:
cuidado com o que falam e fazem porque o Agulhô põe na rede.
Resolvi que não. No fundo não cabe
denunciar os protagonistas, pois seguramente eles correriam o risco de serem
assediados em busca de receita.
Viver não admite roteiros. Demanda
outras engenharias mais simples e fundas.
Até breve.
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