A varanda de nossa casa não foi
palco para acontecimentos que nos trouxeram somente alegrias. Experimentamos
ali, também, dores singelas e agudas.
Portas de blindex que separam a
varanda da sala refletem a exuberante mata que desponta defronte. Inúmeros
pássaros já se acidentaram ou morreram ao se chocarem com os vidros,
confundindo a imagem com a mata real. Essas são as dores singelas.
Uma dor aguda e recente, constrangedora,
diz respeito à explicitação na nossa presença e de outro casal, da provável e profunda
crise conjugal que está passando outro casal de amigos.
Quem vive junto há mais de quatro
décadas sabe que o cotidiano a dois demanda muito zelo e que inúmeras crises
fazem parte de uma vida construída em aliança. Talvez por força dessa
experiência saibamos avaliar a gravidade e a intensidade quando crises se
instalam em outros casais.
Em briga de marido e mulher não se
mete a colher, é um dito cruel. Como amigo, sinto-me na obrigação de intervir,
mas como? E quem disse que todo relacionamento deve ser único e eterno? Claro é
que ninguém deve se sentir obrigado a seguir uma aliança onde falta.
Sabemos todos que ninguém veio ao
mundo para satisfazer plenamente a ninguém. Mas sabemos também que,
especialmente na idade madura, é que descobrimos verdadeiramente quem
escolhemos para viver os nossos derradeiros dias.
Construímos patrimônio juntos,
criamos filhos, começam a frutificar netos, desaceleramos nossos afazeres
profissionais em busca de um gozo vivencial merecido. Agora é hora de
celebrarmos nossos feitos quase sempre permeados até por algum sacrifício.
É hora de legarmos à posteridade
que nossa união valeu.
Uma razão qualquer não deve ser
suficiente para colocar tudo a perder. Por mais simples, usual e aceito que
seja um desenlace é, pelo menos para mim, um fracasso. E, talvez, o único
verdadeiro fracasso que deveria ter expressão.
Assim, há que ponderar não que se
submeter. Considerar inúmeros fatores que possam vir a determinar o desenlace.
Circunstâncias temporais podem até incendiarem motivos ou oportunidades para
justificar ou até permitirem o propósito.
Parece mais simples ficar livre dos
cordões que supostamente nos amarram do que usar deles para nos compreendermos
melhor e ao outro e tecer ainda mais sólida a mesma aliança.
Sei muito bem que não é tarefa
fácil. Mas é a que vale.
Faço isto porque sinto
profundamente o momento e estou certo que não estou sozinho. Este casal sempre
foi referência para alguns de nós. E nos devem colocar na balança quando forem
aferir consequências de uma eventual decisão.
Perdoem-me por isto, também.
Até breve.
No fundo, no fundo,
ResponderExcluirbem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela -- silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás nã há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Paulo leminski
(é assim que eu sinto...bjos , liz)