Hoje termino o dia com Liz em
segundo plano.
Minha alma não adormece lavada somente pela
alegria diária de ver minha netinha crescendo e interagindo conosco. Portanto,
não é pouco o motivo, que hoje sequer tomei nos braços a minha pequenina flor.
Ao longo da tarde e início da noite
de hoje, ainda que não tenha sido possível em toda a sua extensão e concentração
absoluta sobre o desenrolar, acompanhei pela TV a sessão plenária do Supremo
Tribunal Federal que julga o “Mensalão”.
Confesso que me emocionei por duas
razões fundamentais. A primeira pela competência, seriedade e extraordinária diplomacia
dos senhores juízes que manifestaram no dia de hoje o seu voto sobre os réus do
chamado Núcleo Político do processo. A segunda, pela sinalização do desfecho.
Certo momento um dos juízes declarou
de que é chegada a hora de nós, enquanto sociedade, não mais aceitarmos a “cultura da transgressão como prática de
poder” e de outro magistrado que “prova
pode sustentar-se na lógica da experiência e da vida”.
Essas duas afirmações deram, ao meu
espírito exaurido pela desesperança na República, um imenso alento. Agora à
noite assisti ao jornal da TV Cultura de São Paulo e um analista político, que
não guardei o nome, disse que somente daqui a alguns anos vamos ter a dimensão do
impacto desse julgamento.
Estamos refundando a República.
Somente um episódio desse vulto nas
entranhas das instituições democráticas poderia causar uma transformação nas
bases da sociedade brasileira. A corrupção deforma o sentido republicano da
prática política, a corrupção compromete a integralidade dos valores que fundam
a idéia de República, frustra a consolidação das instituições, compromete
políticas públicas nas áreas sensíveis, como educação, saúde e segurança, além
de afetar o próprio princípio democrático.
Não é pelo julgamento em si que a
grande transformação poderá advir, até porque ele não é objeto de atenção da
esmagadora maioria do povo brasileiro. A transformação se dará a partir do
momento em que os réus sendo julgados e condenados sinalizarem de que o país
vive sob o estado do direito e que há nas instituições maiores da República homens
e mulheres que se pautam por princípios que todos desejamos nos nossos
guardiões.
Eu ainda sonho meu sonho juvenil. Quero
ser cidadão de um país limpo.
Até breve.
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