quinta-feira, 4 de outubro de 2012

BALSAMO


Hoje termino o dia com Liz em segundo plano.

Minha alma não adormece lavada somente pela alegria diária de ver minha netinha crescendo e interagindo conosco. Portanto, não é pouco o motivo, que hoje sequer tomei nos braços a minha pequenina flor.

Ao longo da tarde e início da noite de hoje, ainda que não tenha sido possível em toda a sua extensão e concentração absoluta sobre o desenrolar, acompanhei pela TV a sessão plenária do Supremo Tribunal Federal que julga o “Mensalão”.

Confesso que me emocionei por duas razões fundamentais. A primeira pela competência, seriedade e extraordinária diplomacia dos senhores juízes que manifestaram no dia de hoje o seu voto sobre os réus do chamado Núcleo Político do processo. A segunda, pela sinalização do desfecho.

Certo momento um dos juízes declarou de que é chegada a hora de nós, enquanto sociedade, não mais aceitarmos a “cultura da transgressão como prática de poder” e de outro magistrado que “prova pode sustentar-se na lógica da experiência e da vida”.

Essas duas afirmações deram, ao meu espírito exaurido pela desesperança na República, um imenso alento. Agora à noite assisti ao jornal da TV Cultura de São Paulo e um analista político, que não guardei o nome, disse que somente daqui a alguns anos vamos ter a dimensão do impacto desse julgamento.

Estamos refundando a República.

Somente um episódio desse vulto nas entranhas das instituições democráticas poderia causar uma transformação nas bases da sociedade brasileira. A corrupção deforma o sentido republicano da prática política, a corrupção compromete a integralidade dos valores que fundam a idéia de República, frustra a consolidação das instituições, compromete políticas públicas nas áreas sensíveis, como educação, saúde e segurança, além de afetar o próprio princípio democrático.

Não é pelo julgamento em si que a grande transformação poderá advir, até porque ele não é objeto de atenção da esmagadora maioria do povo brasileiro. A transformação se dará a partir do momento em que os réus sendo julgados e condenados sinalizarem de que o país vive sob o estado do direito e que há nas instituições maiores da República homens e mulheres que se pautam por princípios que todos desejamos nos nossos guardiões.

Eu ainda sonho meu sonho juvenil. Quero ser cidadão de um país limpo.


Até breve.

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