Carminha vai matar Max e Tufão vai
pedir perdão para Nina.
Perdoem-me. Não consigo avançar
mais do que isto no que interessa a boa maioria dos brasileiros. Já acompanhei
vários folhetins televisivos e me cansei de inúmeras belíssimas interpretações
de diferentes atores e atrizes para os mesmos personagens. A repetição temática
me dá náuseas.
Volto a um assunto de somenos
importância. A vida real. Especialmente a vida real em sociedade e no cotidiano
de nossos labores e relacionamentos em diferentes campos: profissional, doméstico
e enquanto consumidores de bens e serviços entregues por prestadores públicos e
privados.
De fato foram movimentados perto de
cento e cinqüenta e três milhões de reais no período de 2003 a 2004 em
negociações espúrias envolvendo trinta e nove pessoas que estão sendo julgadas
no Supremo Tribunal Federal no processo do Mensalão.
Sei e sei que todos os brasileiros
minimamente esclarecidos sabem que este montante está muito aquém de todas as
negociatas realizadas no Casino Brasil e de há muito tempo. O Brasil é
majestoso não só pela sua natureza. O Brasil é majestoso pela sua infinita
capacidade de sobreviver à canalhice endêmica em diferentes níveis e instituições
da sociedade.
Verbas, oriundas de abnegados e
honestos contribuintes, são desviadas há séculos deixando escolas, postos de
saúde, hospitais, estradas, portos e aeroportos, e tantas outras instituições
de serviço do estado em condições precárias e lamentáveis.
Sei e sei que todos os brasileiros
minimamente esclarecidos sabem que estas práticas são extremamente difíceis de
serem coibidas. Há hoje no Tribunal Superior Eleitoral 2247 processos de Ficha
Limpa envolvendo prefeitos eleitos no último domingo. Inclua ai o da cidade de
minha segunda residência.
No campo privado, por extensão do
que ocorre no público, a coisa agrava-se. Reportagem de hoje dá conta do
sistema de controle de vagas em estacionamentos em ruas das principais cidades
do país administradas pelos chamados flanelinhas. Vagas reservadas pelas
prefeituras.
Pretinha e Claudinho fizeram uma
proposta para a compra de um apartamento que contemplava as seguintes
condições: a) entrada em espécie de um valor X: b) dação em pagamento do
apartamento atual onde moram de propriedade deles e c) um valor Y financiado
por uma instituição financeira.
A proposta foi encaminhada por uma
imobiliária contratada pela construtora vendedora. No retorno o gerente da
imobiliária comunicou à Pretinha que seria cobrada comissão pela venda do seu
apartamento.
Não há limite para a desfaçatez,
para a canalhice, para o levar vantagem a custa de incautos. Entrei no circuito
e consultei o gerente da imobiliária sobre em que momento havíamos o contratado
para prestar qualquer serviço. Ele disse que essa é a prática do mercado.
A Ministra Carmem Lúcia disse hoje,
em um aparte no julgamento no STF, que o que mais lhe causou espécie ao longo
do processo foi o fato de os senhores advogados de defesa aceitarem que ocorreram
os crimes, mas que eles são prática usual no Brasil e portanto não havia o que
ser julgado.
Perdoem-me, novamente.
O professor Paulo Freire disse que
o Homem enquanto sujeito social tem duas alternativas de conduta: a aceitação
ou a inserção. Aquele que opta pela aceitação mantém o status quo. Aquele que opta pela inserção vive da esperança de que
com seu gesto possa transformar a realidade pela via da microfísica do poder.
Já disse aqui e torno a
dizer: eu quero viver para ver a execução das sentenças promulgadas pela
justiça nos mensalões e cachoeiras e que elas, ainda que pontuais, possam vir a
servir para cada um de nós não ter vergonha de ser honesto.
A imobiliária em um segundo contato
sequer voltou a falar na comissão anteriormente cobrada.
O mercado mudou?
Até breve.
É mesmo difícil sair do "status quo" e fazer a sua parte, já que a prática do "mercado" tornou-se inerente a justificar esse comodismo. O mesmo aconteceu conosco na nossa reunião de condomino, que o status a quo oferecia um saneamento imediato de dividas através de um aumento, como assim tem sido feito nos últimos anos. Mas poucos proprietários não aceitaram e montamos uma comissão a fim de enxugar os gastos, ainda que possa haver um aumento ao final. Vamos secar as contas para que se tenha uma taxa justa de acordo com essas particularidades. Vai dar trabalho, vai ser voluntário o nosso trabalho, mas sabemos que é o caminho para mudar algo.
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