Topei no de repente com Bartolomeu
que me torna a mim desnecessitado de palavrares. Ele deu conta da solidão na
escrita e foi muito para além do que é possível no de simples.
Achei que era de Manoel de Barros
ou Guimarães Rosa, mas é de mineiro de Papagaio, ali próximo de Patos de Minas.
Foi embora de nós agora no janeiro de 2012. E eu que só descobri dele agora, me
redimi: fui a uma livraria e dei cabo de todos os títulos que tinham esculpidos
pelas suas mãos. Treze ao todo. A jovem balconista me perguntou se eu era
escritor. Eu respondi que não e ela, depois de um sorrisinho maroto e feliz
pela comissão pela venda do pacote, disse: “Eu duvido”.
Mandei mensagem prá Pretinha
dizendo que onze vou dar prá Liz de presente, agora dia primeiro, quando ela fará
noventa dias de idade: Flora, Somos todos igualzinhos, A filha da preguiça, De
não em não, Pedro, Isso não é um elefante, Menino inteiro, O livro de Ana, Os
cinco sentidos, Cavaleiros das sete luas e Rosa dos ventos.
Por favor, aí, não contem prá Liz.
Será surpresa. Quando ela estiver de entendimentos quero lê-los todos para que
ela os saboreie.
Deixei dois comigo: O fio da
palavra e Vermelho amargo.
De Vermelho amargo, sorvei para
compartilhar com quem interessar possa:
“Há que experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor. Vim ao
mundo molhado pelo desenlace. A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto
decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se – em lágrimas – do paraíso, é
condenar-se à liberdade. Houve, e só depois, o tempo da alegria ao enxergar o
mundo como o mais absoluto e sucessivo milagre: fogo, água, terra e ar e o
impiedoso tempo”. (pag.8)
“A cidade sustentava-se por seus ares de domingo. Aparentemente lerda, se
alicerçava sobre secretos sussurros. As casas dormiam no colo de um mentiroso
silêncio. Havia, contudo, as frestas das janelas por onde se perscrutava o
vizinho. Atrás das portas se escutavam assombros que se supunham segredos. E
todas as vidas se viam apregoadas em tom de confidências. As intimidades eram
sopradas de ouvido em ouvido e alteradas de boca em boca. Mentiras sobre
mentiras. O orvalho, ao cair manso, não refrescava as invejas. Uma cidade
afetuosamente cruel.” (pag.15)
“O mundo só nos permite uma baldeação definitiva.” (pag. 38)
“Sempre pensei o ‘sempre’ como um tempo muito longe. O sempre começava no
nascimento e acabava, para cada um, numa hora que fugiu do relógio. Viajar para
o sempre não demanda bilhete de partida.” (pag.56)
“Desanuviou em mim a idéia de que as coisas existiam alheias a meu
desejo. Viver exigia legendar o mundo. Cabia-me o trabalho exaustivo de
atribuir sentidos a tudo. Dar sentido é tomar posse dos predicados. Trabalho
incessante, este de nomear as coisas. Chamar pelo nome o visível e o invisível
é respirar consciência. Dar nome ao real que mora escondido na fantasia é
clarear o obscuro.” (pag.62)
Na contra-capa do livro Gabriel
Vilela escreveu: “Bartolomeu comanda sua
escrita com mãos apolíneas e cérebro dionisíaco, produzindo uma fábula
delicada... como arame farpado. Grande alma literária com coração santo.”
Que bom Liz. Vai chegar uma hora de
podermos compartilhar histórias de Bartolomeu.
Supostamente infantis.
Até breve.
Queirós, Bartolomeu Campos de (1944 – 2012) – Vermelho amargo: Bartolomeu
Campos de Queirós, São Paulo: Cosac Naify, 2011, 77pp
Vou deixar mais uma dica! Tô ficando chato.
ResponderExcluirVocê sendo agora um "escritor" às escondidas vai gostar de saber (se ainda não sabia) que existem sebos virtuais. Um dia desses comprei um livro lá e fui muito bem atendido.
A coleção de Bartolomeu Campos é gigante.
O único problema é que você irá perder o prazer do tato com o livro, o prazer do contato humano.
Leozinho esta super forte.... crescendo cada vez mais.
Beijos a todos.
Visite: http://www.estantevirtual.com.br/q/bartolomeu-campos-de-queiros
E você me fala só agora? Brigado, cara.
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